Apesar da queda do preço das commodities – bens agrícolas e minerais com cotação internacional – e do recuo na venda de veículos para a Argentina, a conta petróleo explica o deficit acumulado de US$ 4,854 bilhões na balança comercial em 2014, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Segundo a pasta, não fosse o desempenho das importações e exportações de petróleo e de derivados, a balança registraria superávit de US$ 2,752 bilhões no ano.

De janeiro a maio, o país importou US$ 7,606 bilhões em petróleo e derivados do que exportou. O deficit é 31% menor que o rombo de US$ 11,038 bilhões registrado no ano passado. A estatística, no entanto, está influenciada por US$ 4,5 bilhões de importações de petróleo feitas em 2012, que só foram registradas entre janeiro e maio de 2013. O atraso, que prejudicou a conta petróleo no ano passado, beneficiou o saldo em 2014.

Mesmo com o efeito estatístico, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Daniel Godinho, diz que a conta petróleo está sendo beneficiada por mudanças estruturais como a retomada da produção de plataformas que ficaram em manutenção no ano passado. “O registro em atraso teve impacto apenas nas importações de petróleo e derivados. É importante deixar claro que não apenas as importações estão caindo, mas as exportações estão subindo”, justificou.

De janeiro a maio, o país exportou US$ 9 bilhões de petróleo e de derivados, 9,7% a mais que no mesmo período do ano passado pela média diária. As importações desses produtos totalizaram US$ 16,611 bilhões, recuo de 13,2%. “Para o segundo semestre, a expectativa é que as exportações de petróleo subam ainda mais porque mais plataformas vão entrar em operação”, disse o secretário, sem, no entanto, dizer se a conta petróleo encerrará o ano no positivo.

Embora a conta petróleo justifique o saldo negativo da balança comercial neste ano, Godinho reconheceu que o saldo poderia estar melhor não fosse o desempenho das exportações brasileiras. Nos cinco primeiros meses do ano, o país exportou US$ 90,064 bilhões, queda de 2,5% pela média diária em relação ao mesmo período do ano passado. O déficit da balança comercial só não cresceu em 2014 porque as importações totalizaram US$ 94,918 bilhões e caíram em ritmo maior: 2,9% também pela média diária.

As exportações de produtos básicos cresceram apenas 2,9% no acumulado do ano pela média diária mesmo com as vendas externas recordes de soja, café e carne bovina. Segundo Godinho, o crescimento do volume foi praticamente anulado pela queda dos preços internacionais das commodities. “Em relação aos produtos básicos, o total exportado cresceu 11,7% no ano, mas os preços caíram 7,2%.” explicou.

As vendas de produtos semimanufaturados caíram 9,8% pela média diária de janeiro a maio, puxadas pelo açúcar, pelo aço e pelo ferro fundido. As exportações de produtos manufaturados caíram 8% na mesma comparação. De acordo com o secretário, a queda da venda de veículos para a Argentina e a previsão de não sejam exportadas plataformas de petróleo neste ano contribuíram para a queda.

“A Argentina é nosso terceiro parceiro comercial. A situação deles afetou muito o Brasil porque grande parte das nossas exportações para eles são de alto valor agregado, como veículos e autopeças”, disse Godinho. Apesar da redução de 18,6% nas exportações para a Argentina, o Brasil acumula este ano superavit de US$ 380 milhões com o país vizinho. Isso ocorreu porque as importações da Argentina caíram 19,1% no ano, em ritmo maior que a queda das vendas externas.