O trauma de perder um filho ou o desafio de enfrentar uma doença grave foram pontos de partida para jornadas de algumas mulheres que decidiram reagir ao sofrimento da melhor forma possível.

Ver um filho doente, sem forças, é tão dolorido para uma mãe como se a doente fosse ela. Ter que dar adeus a um filho então… É algo impossível de descrever. A dor da mãe é algo que não  acaba. É ferida perene que não cicatriza. Mas mesmo diante da tristeza muitas mulheres que viveram situações como essas conseguiram se reerguer e em nome deste mesmo amor fundaram ideias, projetos para fazer deste mundo melhor.

São algumas dessas mulheres que vão contar nossa história de hoje. Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher o Midiamax escolheu três personagens que retratam a força da mulher e o amor infinito que as mães têm pelos filhos.

Lilian Silvestrini e Ângela Fernandes são fundadoras do Movimento “Mães da Fronteira”, o projeto foi criado depois que os filhos delas, Breno e Leonardo, foram brutalmente assassinados por bandidos que queriam roubar a caminhonete que eles estavam para trocar por cocaína na Bolívia.

Ângela lembra que assim que soube da morte do filho perdeu o chão, como qualquer outra mãe. Mas passado o choque inicial percebeu que não bastava apenas sofrer a perda de Leonardo, mas evitar que outros jovens tivessem o mesmo fim.

“Tanto eu quanto a Lilian percebemos que não havia um senão em tudo. Se eles não estivessem naquele lugar? Se eles isso? Se eles aquilo? Era um horário tranquilo. Estavam bem emocionalmente. A situação toda foi absurda. Não houve uma provocação. Foi uma coisa muito gratuita. Eles não reagiram. Não agrediram os bandidos. Nunca nos perguntamos por quê. Acreditamos muito em Deus. Passamos a nos perguntar para que? Não seria por nada. Teria que haver um propósito. E vimos as grandes falhas em nosso sistema que propicia o surgimento desse tipo de elemento, que se sente tão a vontade de cometer crimes”, pontua.

Foi aí, que ela conta ter percebido que deveria tomar uma atitude. Fazer algo para mudar a inércia do sistema. “Nunca havíamos nos envolvido em nada. Vivíamos como todo mundo, muito alienado aos nossos problemas. E sentimos na carne a dor desse descaso”, relata. “Foi quando entendemos que a memória deles merecia algo. Para as pessoas acordarem e não esperarem que aconteça uma tragédia dessas em casa”, enfatiza.

Ao perceber que tudo é correlacionado e que o problema do vizinho também é seu, elas criaram o ‘Mães da Fronteira” – o movimento luta não só para que haja mais fiscalização na fronteira, como também provoca debates sobre o sistema político e judiciário no país. Uma das lutas é que o Código Penal seja alterado e que as leis sejam mais duras em relação aos crimes fronteiriços.

Lilian Silvestrini lembra que foi justamente por amar tanto o filho, e achar a morte dele tão injusta, tão sem nexo, tão sem motivo, que nasceu dentro dela uma vontade muito grande de lutar contra a impunidade. “Tem que fazer alguma coisa e cobrar aquilo que nos é direito. Isso alivia a dor da gente. Dá sentido a perda deste filho tão amado. A morte dele fez com que as pessoas se movessem na direção de conseguir efetivamente uma mudança do Código Penal, uma fiscalização mais rigorosa na fronteira. É isso que nos da força”, finaliza.

Além disso, elas pontuam que as pessoas precisam acordar e cobrar dos políticos as promessas feitas em campanha. Pois somente com a fiscalização dos eleitores a política começará a mudar de verdade.

Quem também fez da própria dificuldade algo que não se pode medir foi Mirian Comparin Corrêa. Fundadora da AACC-MS (Associação dos Amigos das Crianças com Câncer de Mato Grosso do Sul), ela conta que frente ao diagnóstico de um de seus filhos, cumprindo um pacto feito com Deus, foi descobrindo caminhos para cuidar de crianças com câncer. Foi quando convocou amigos, inteirou-se dos primeiros passos a serem dados, buscou ajuda, concretizou parcerias, até que em 1998, fundou em Campo Grande, no dia 29 de março, a AACC/MS.

Passados quase 16 anos, ela lembra que ainda sente as mesmas emoções do início de tudo. “Só consigo isso porque não perco o foco desta missão. Por muitas vezes me peguei perguntando, porque não vamos além do que estamos fazendo? E respondo: porque precisamos melhorar a cada dia aquilo que nos propusemos, que é cuidar, apoiar, segurar na mão e oferecer tranquilidade a todos àqueles que aqui chegam e ainda vão chegar”, pontua.

Para ela, o carimbo de missão cumprida está em cada doador que participa dos projetos, em cada voluntário que se doa, e principalmente em cada família que vai embora de alguma forma e se desliga com o sentimento de gratidão.

“Ao meu parceiro maior Deus, muito obrigada pela visão que me deu e a capacidade de superar as dificuldades encontradas no dia a dia”, finaliza.