Como Curitiba, a cidade modelo, virou o patinho feio da Copa
Poucas pessoas acreditariam se fosse dito, em 2007, quando o Brasil foi escolhido para receber a Copa do Mundo 2014, que justamente Curitiba seria a capital com as obras de estádio mais atrasadas entre as 12 sedes escolhidas para o evento. Vista como modelo de gestão pública em várias áreas, principalmente em mobilidade urbana, a […]
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Poucas pessoas acreditariam se fosse dito, em 2007, quando o Brasil foi escolhido para receber a Copa do Mundo 2014, que justamente Curitiba seria a capital com as obras de estádio mais atrasadas entre as 12 sedes escolhidas para o evento.
Vista como modelo de gestão pública em várias áreas, principalmente em mobilidade urbana, a cidade poderá ser excluída pela Fifa do Mundial por não ter cumprido a tempo as exigências da entidade para a Arena da Baixada.
A programação original da Copa prevê quatro jogos no local, todos válidos pela primeira fase.
Segundo o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, a decisão será tomada nesta terça-feira, 18, após a vistoria de uma equipe de técnicos à capital paranaense, que avaliará se houve progresso suficiente desde a última visita, em 21 de janeiro.
Especialistas que acompanham o assunto veem com ressalvas as ameaças da entidade de deixar a cidade de fora, pois isso implicaria não só em prejuízos financeiros bilionários, como também em prejuízos políticos.
Mas, independente da decisão, a pergunta que fica é: como Curitiba deixou a situação chegar a esse ponto?
Desde o começo, as negociações realizadas na capital paranaense foram diferentes das demais.
Entre as 12 sedes, a apenas três foi delegada a administração para os clubes donos dos estádios: o Itaquerão (SP), do Corinthians; o Beira-Rio (RS), do Internacional; e a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense.
Entretanto, o Atlético foi o único a não contratar grandes empreiteiras para cuidar das obras. O clube preferiu criar sua própria empresa, a CAP/AS, para gerir as construtoras menores envolvidas na reforma.
Incialmente, o custo estipulado para as obras era de R$ 184 milhões, que seria dividido entre o time, a prefeitura da cidade e o governo do Paraná. Mas, com todas as exigências da Fifa e impasses na gestão, o valor deve ultrapassar os R$ 330 milhões, segundo estimativas do clube.
De acordo com o Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), que acompanha desde 2007 os desdobramentos e impactos com a vinda da Copa para o Brasil, outros estádios também enfrentaram problemas com o aumento dos custos, mas conseguiram driblá-los mais facilmente, pois contaram com o capital das empreiteiras e com ajuda maior por parte do governo.
No caso do Atlético, conseguir novos empréstimos é mais difícil, pois não há garantias necessárias para a liberação do dinheiro.
Além disso, especialistas também criticam a demora dos governos para se envolverem efetivamente com o caso e participarem da gestão junto com o clube.
Somente após a ameaça da Fifa, em 21 de janeiro deste ano, é que foi criada uma comissão que incluiu, além da prefeitura, o Comitê Organizador Local (COL), o governo estadual e o Sindicato da Indústria da Construção Civil (SindusCon).
Após o fato, uma nota conjunta realizada pelos governos e pelo clube foi lançada garantindo que a Arena da Baixada seria entregue a tempo. Terá sido tarde demais?
Na avaliação do Sinaenco, não há incapacidade para a execução das obras que faltam, pois o estádio já era considerado muito bom mesmo antes de brigar por uma vaga no Mundial.
Nesta hipótese, o único motivo que impediria a evolução das obras é justamente a briga política para resolver quem é que vai bancar os gastos extras.
A análise do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia é que as manifestações contra a Copa realizadas desde junho contribuíram para que os governos ficassem mais receosos em investir dinheiro público em estádios privados.
Para o Atlético, também não seria interessante arcar com todas as despesas para atender aos padrões da Fifa, uma vez que o estádio já foi eleito o melhor do país em 2007, e pouco do investimento extra será realmente um legado relevante deixado pela Copa.
Estratégia da Fifa?
Observadores acreditam que a Fifa pode estar “blefando” no caso de Curitiba. A ameaça da entidade pode ser apenas uma estratégia para que as outras cidades voltem a cumprir todas as exigências estabelecidas por ela.
Por outro lado, a exclusão da capital paranaense também poderia servir de exemplo para as demais.
Entre os casos que mais preocupam estariam o de Recife, que já afirmou que não financiará o evento de transmissão dos jogos para torcedores que ficaram sem ingresso, o chamado de Fifa Fan Fest.
Porto Alegre também estaria no radar da entidade, por se recusar a pagar pelas estruturas temporárias construídas no estádio e em seu entorno, que são utilizadas apenas durante o evento.
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