O jogo desta quarta-feira, entre Austrália e Holanda, às 13h, no Beira-Rio, atrairá milhares de torcedores para Porto Alegre. As duas seleções possuem fanáticas torcidas.

O técnico em informática Daniel Boland, 36 anos, sairá do hotel na manhã desta terça-feira paramentado com camisa, moletom, cachecol, chapéu e óculos amarelos, tudo isso embrulhado na bandeira da Austrália. Acomodado em uma cadeira do Beira-Rio ao lado da noiva, a mexicana Mariana Sanchez, 32 anos, ele apoiará a seleção australiana repetindo à exaustão, em coro com milhares de compatriotas, um cântico de apenas cinco palavras, “stand up for the socceroos”, no qual os termos “soccer” e “kangaroos” são fundidos para designar o escrete nacional.

Caso a equipe da Oceania consiga envolver os holandeses e marque um gol, Boland saltará da cadeira com os punhos cerrados e pulará o mais alto que puder. Ou talvez se controle um pouco, escaldado por experiência recente:

“Em Cuiabá, contra o Chile, pulei tanto no gol que acabei batendo com a perna na cadeira da frente e me machuquei. Mas vamos cantar e torcer do começo ao fim, apesar de não ter jeito de ganhar da Holanda.“

Com 14 mil ingressos, os australianos perdem apenas para os argentinos em quantidade de bilhetes comprados para os jogos da Copa em Porto Alegre, um engajamento surpreendente para um país longínquo e com pouca tradição no futebol. Para Boland, a invasão australiana na capital gaúcha decorre de uma confluência de fatores, mas tem como combustível a popularização do futebol em seu país.

“Estamos aqui porque amamos o futebol e porque o futebol é o esporte verdadeiramente global. Além disso, esta é uma oportunidade única de ver uma Copa, já que ninguém quer ir à Rússia, e muito menos ao Catar“, afirma o torcedor.

Mariana se mudou para Sydney há um ano e meio e acompanhou o noivo em jogos da Austrália pelas eliminatórias. Eles viram a equipe amarela atuar contra Omã e Iraque com estádio superlotado. Ela observa que a torcida australiana é comedida, em comparação ao padrão mexicano:

“Não há brigas de torcedores. Posso ir de verde na torcida amarela, e todos vão ser respeitosos. No México, seria agredida.”

O casal — que ainda vai assistir à Austrália em Curitiba e tem ingressos para o jogo das oitavas em Fortaleza, onde calcula que o México atuará, como segundo colocado do grupo do Brasil — está desde sábado em Porto Alegre. Na segunda-feira, participaram de uma festa australiana no bar Opinião, animada por roqueiros célebres no país dos cangurus. Eles se dizem entusiasmados com o ambiente que encontraram no Brasil.

“Estive no Mundial da Alemanha e foi muito diferente. Lá, a infraestrutura era melhor, mas aqui há a vantagem da atmosfera. Os brasileiros vivem e respiram futebol”, diz Boland.

Os laranjas

Elas andavam graciosas de laranja, sorridentes e curiosas pelo Largo Glênio Peres, centro de Porto Alegre. Eram três irmãs holandesas, as estudantes Svenja, 24 anos, Joëlle, 20 anos, e Laurine, 17 anos, com 1m88cm em média, e estavam à caminho do almoço no Chalé da Praça XV. Quase não conseguiram chegar ao restaurante. Alguém mais esperto abriu a fila e pediu para tirar fotos com as moças. Em seguida, elas deram dois passos e, de novo, foram paradas para mais fotos e mais fotos.

“Como são grandes essas holandesas!” — surpreendeu-se uma senhora, cujo filho levou no celular um registro das meninas.

O pai, William, olhava o relógio, passava das 14h, queria almoçar logo porque na sua cidade, Amsterdã, a família costuma ir cedo para a mesa e descansar no início da tarde. Mas lá estava Laurine sendo requisitada. – Vamos? – perguntavam, completando a frase com mímica e mostrando o celular. Laurine olhava à procura de autorização do pai, que, bonachão, não impedia, apesar da fome. E as três se reuniam outra vez em meio ao frenesi do largo, com as pesso as saindo do trabalho para assistir ao jogo do Brasil contra o México e com muitos australianos por perto. Alguns vestidos de amarelos gritavam “Aussie” para mexer com as meninas, que apenas sorriam. Então elas finalmente foram puxadas pelos pais para dentro do restaurante.

Surgiram outros personagens. No Mercado, Peter e Nerida Van der Molen subiram àquela hora no ônibus de turismo. Gostaram de ver o porto e a Usina do Gasômetro e quiseram saber da eterna polêmica sobre o Guaíba. Peter questionou:

“Afinal, é lago ou rio?”

Ninguém soube explicar, e Peter avistou de longe o Beira-Rio. Perguntou de quem é o estádio da Copa. E aí o holandês se revelou um torcedor do Ajax. Lembrou ter visto pela TV o jogo do Mundial de Clubes contra o Grêmio em 1995, disputado em Tóquio. Quis saber por que a Copa é no Beira-Rio. Quis saber como o Inter venceu o Barcelona em 2006. E arriscou palpite de vitória fácil contra a Austrália no estádio que considerou lindo por fora.

“Vou cantar “Hope, Holland, hope”, bater as maracas de samba, colocar o boné e levar minha corneta, parecida com a vuvuzela”, disse ele. Prometeram muito barulho. A tribo é assim, estrondosa e marcante por onde anda a seleção, que já chegou a três finais de Copas. Não são briguentas.

E pelo convívio com os australianos no Glênio Peres o jogo deverá ser colorido, alegre e pacífico. Às 8h, os holandeses se encontram para cervejas e caipirinhas no Chalé, do jogo. Depois do almoço, as meninas visitaram o Mercado Público. Foram à Banca do Holandês. E continuaram a tirar fotos e fotos.