Com outros 57 profissionais, psicóloga de MS relata história de dor e separação durante ditadura militar
Cinquenta e sete profissionais de 15 Estados diferentes do país relatam no livro “A verdade é revolucionária – testemunhos e memórias de psicólogas e psicólogos sobre a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)” a sua vivência sobre este período que marcou o Brasil e a vida de tantos que lutaram pela liberdade que se tem hoje. Os […]
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Cinquenta e sete profissionais de 15 Estados diferentes do país relatam no livro “A verdade é revolucionária – testemunhos e memórias de psicólogas e psicólogos sobre a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)” a sua vivência sobre este período que marcou o Brasil e a vida de tantos que lutaram pela liberdade que se tem hoje.
Os relatos são a história, ainda viva, para quem conta, de tristeza, dor e voz embargada. É assim que Eneida Ribeiro, de 56 anos, que era muito menina quando o pai precisou deixar tudo para trás em Minas Gerais e fugir para Mato Grosso do Sul, para despistar a Polícia Militar do Exército, se lembra daqueles tempos.
Ao telefone, a voz ainda trêmula, quando recorda que o pai, Odilon Lima Barros, que foi militar e teve a patente de tenente cassada, precisou fugir de Montes Claros, por suas ideias comunistas.
Ele participava de um grupo de intelectuais da época, todos comunistas, e combatentes do regime que se instalava. Por isso, foram perseguidos e muitos desapareceram, lembra Eneida. “Eu tinha medo, muito medo. Eu via os amigos do meu pai sumindo, sendo presos. Muitos não voltavam”, lembra.
O pai teve mais sorte. Aqui em Mato Grosso do Sul, ele foi acolhido por parentes e conseguiu escapar de ser preso. Contudo, teve sua vida, sua memória e sua profissão deixada de lado, com tudo que precisou ficar para trás. Até a família tinha dificuldades para falar com ele. “Meu pai precisou se esconder. Não podia revelar a identidade dele. Não podia exercer a profissão. Ficou anos sendo sustentado pelas tias. Depois disso nunca mais foi o mesmo”, conta Eneida, dizendo que o pai perdeu o espírito combativo diante de tanta dificuldade.
Até para se comunicar era problema. Eneida conta que o pai mandava telegramas escritos de trás para frente avisando sobre seu paradeiro, como estava e tudo mais. “Ele tinha medo de que interceptassem e descobrissem onde estava”, diz.
Em casa, o assunto também era proibido. A profissional lembra que não podia falar nada sobre o tema. “Era algo proibido de falar. Em todos os lugares”, diz. “Até em casa não podia”, emenda.
E assim, em meio ao proibido, ao não pode falar, ela foi criada longe do pai, como diz: como filha de pais separados, porque não pude conviver com meu pai. E hoje, com o pai já velho, ela conta essa história, em meio a tantos outros relatos para que as pessoas entendam o que foram aqueles anos de vidas atravessadas pela ditadura civil-militar.
Lançamento
O lançamento da publicação, em Mato Grosso do Sul, acontece nesta quinta-feira (26), às 18h30, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul (OAB/MS).
Na data ainda haverá um debate, para se inscrever (é gratuito) acesse o link: http://crpms.org.br/inscricao4.php
Veja a programação completa do evento:
18h30 – Abertura – Apresentação Cultural
18h45 – Mesa de Abertura
19 horas – Conferencista – indicação OAB
19h30 – Mesa de Debates: “As marcas da ditadura nos modos de subjetivação na contemporaneidade”.
Mediadora: Psicóloga Simone Grisolia
Debatedoras:
Psicóloga Sandra Amorim – CRP 14-MS (0497-17)
Cientista Social Paulo Cabral. Assistente social Raimunda Luzia de Brito
20h30 – Debate
21 horas – Coquetel de confraternização
Para acessar versão online do livro clique aqui.
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