Com a chegada do carnaval, os moradores da cidade que já passaram dos 40 anos relembram com saudades os carnavais de outras épocas. Clubes como União, Surian, Rádio Clube, Libanês e Campestre Ypê faziam grandes festas e os preparativos que antecediam a “folia de momo” eram grandes.

As diretorias faziam constantes reuniões, escolhiam temas para a decoração, contratavam bandas e o planejamento era minucioso para que tudo corresse conforme o planejado e principalmente os lucros garantissem a manutenção dos clubes nos primeiros meses do ano, quando a arrecadação com a taxa de manutenção caía.

Poucos ainda resistem, como o Clube União. Outros surgiram, como o Clube Estoril, que ainda tenta manter a tradição mas na base de marchinhas e como som ‘mecânico’.

No Rádio Clube, considerado o mais tradicional da cidade, a agitação era grande desde o início do ano. Eram organizados “assaltos carnavalescos”, como prévia para o período do carnaval. Alguns foliões caprichavam nas fantasias. Alguns mandavam confeccionar em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.

Outros contratavam costureiras locais mesmo com os trabalhos começando já nos primeiros dias do ano.

José da Cruz Bandeira, 83 anos de idade, afirma que o carnaval de Campo Grande já não existe mais e lamenta principalmente o final da folia no Rádio Clube, do qual é associado há mais de 50 anos.

O Clube Campestre Ypê, localizado no bairro Monte Castelo, era considerado estratégico para os moradores do Estrela do Sul, Nova Bahia, Coronel Antonino e o próprio Monte Castelo. As matinês eram lotadas por crianças e adolescentes e ali eram registradas as paqueras e o início de muitos namoros.

A princípio os bailes de carnaval eram realizados no salão social do clube, mas com o passar dos anos a diretoria decidiu investir em um ginásio de esportes, que também chegou a receber um bom público. Mas já era o início da queda do movimento, que alguns anos depois foi reduzindo até chegar à paralisação total dos eventos carnavalescos.

Segundo o presidente Estevão Petrallas, que viveu esses dois momentos, o fim do carnaval em clubes pode ser atribuído à evolução e até mesmo um caso cultural. “A cidade cresceu, as pessoas buscaram outras opções e também o carnaval de rua ganhou força, tirando o folião dos salões. Além disso tem o lado da violência e muitas pessoas aproveitam esse período de carnaval para deixar a cidade e procurar algum ponto do Estado para descansar”, afirmou.

No clube Surian, os carnavais reuniam jovens e nos intervalos ainda franqueado o acesso ao parque aquático. Não para o banho, mas apenas para que o folião ficasse em um ambiente mais arejado.

A proximidade com a feira livre, que funcionava nas ruas que hoje circundam o templo da Igreja Universal, na Avenida Mato Grosso, também ajudava na frequência. A maioria dos foliões deixava os bailes e se dirigia à feira para repor as energias com os espetinhos, sobá ou outros caldos.

O Clube Libanês notabilizava-se pelos concursos de fantasias. Valdir Gomes, Félix Rodrigues, Decos Cabeleireiro, Carlos Flores, Adão Barbosa e Wanderleizinho desfilavam suas plumas e paetês em portentosas alegorias, para deleite da plateia que apesar de ter suas preferidas, deixava a decisão para o júri.O resultado sempre era muito festejado, independentemente do vencedor.

Localizado em ponto central da cidade, o clube era de fácil acesso. O salão amplo dava condições para que blocos fizessem suas evoluções. Ciganas, odaliscas, havaianas, Carmens Miranda e piratas pulavam as quatro noites sem parar.

Nos intervalos as filas para no bar eram imensas, mas tudo transcorria na mais perfeita calma.Em um terreno ao lado do salão era armada uma tenda onde era possível consumir cervejas e refrigerantes.

Aos poucos as fantasias foram dando lugar às camisetas e shorts jeans. As marchinhas foram substituídas pelo Axé e pagode e nos últimos tempos, nos intervalos, o ritmo do carnaval deu lugar aos batidões sertanejos. Desta forma, os salões, que neste período ficavam abarrotados de foliões, hoje vivem no ostracismo e os clubes sofrem para conseguir verba para custear suas despesas básicas.