A economia brasileira cresceu 2,3% em 2013 em relação ao ano anterior, totalizando R$ 4,84 trilhões (total de riquezas produzidas pelo país), informa o IBGE.
E, depois de uma retração no terceiro trimestre do ano passado, o crescimento de 0,7% no último trimestre surpreendeu positivamente e impediu que o Brasil entrasse em recessão técnica (que acontece quando o país tem seis meses seguidos de crescimento negativo). Esse era um dos temores do mercado.

E a indústria, apesar de ter crescido 1,3% ao longo do ano, teve um último trimestre ruim – retraiu 0,2%.

O setor que mais cresceu no ano passado foi a agricultura, com expansão de 7%.

O crescimento total do PIB (Produto Interno Bruto) foi maior do que no ano anterior – quando a economia avançou 1% -, mas a sequência de anos com crescimento mais modesto reflete, segundo analistas, um momento de esfriamento econômico e de maior instabilidade nos mercados emergentes.

Na última semana, o governo já havia reduzido as perspectivas de crescimento do PIB brasileiro para este ano – de 3,8% para 2,5%.

Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou os resultados divulgados nesta quinta, defendendo que “o crescimento de 2013 foi de qualidade, puxado, entre outras coisas, pelos investimentos”.

A respeito do resultado pouco expressivo da indústria, o ministro afirmou que o setor “sofreu por falta de dinamismo do mercado mundial, não apenas do brasileiro. O setor poderá crescer mais, aumentando as exportações, em razão do câmbio mais favorável”.

Cenários externo e interno

O cenário externo desfavorável para emergentes inclui da desaceleração do ritmo de crescimento da China (que diminui sua compra de matérias-primas de países como o Brasil) e a recuperação econômica dos EUA, que atrai investidores em busca de aplicações mais seguros do que os mercados emergentes.

Mas, para economistas, o Brasil é prejudicado também por questões internas.

O país começou o ano com um déficit histórico nas transações correntes (que inclui saldo entre importações e exportações e outras operações de entrada e saída de capitais): US$ 11,6 bilhões, maior “rombo” desde 1947, o início da série.

E alguns analistas criticam também interferências do governo em alguns setores – como o elétrico e o de combustíveis, para controlar preços – bem como a política fiscal, como manobras feitas para cumprir a meta de superavit primário (economia para pagamento dos juros da dívida) de 2012.

E há, também, o temor de aumento da inflação, o que vem forçando o a elevar a taxa básica de juros. O último aumento ocorreu na noite de quarta-feira, quando a Selic subiu para 10,75% ao ano.

Para Marcelo Moura, professor de macroeconomia do Insper, esse cenário despertou uma incerteza nos investidores, que passaram a enxergar o Brasil como uma economia frágil – cenário que agora tirar do país o “grau de investimento” (chancela, dada por agências de risco, a países considerados seguros para investidores).

“O que o Brasil mais precisa é credibilidade. Os fundamentos não mudaram: não perdemos o crescimento da classe média nem o grande mercado interno”, diz à BBC Brasil. “Mas são necessárias reformas – tributária, previdenciária, e até mesmo que o Estado priorize melhor seus gastos, para não sufocar a economia com a carga de impostos tão alta.”

Orçamento

Por isso, foi bem visto por analistas o anúncio, feito por Mantega, de cortes de R$ 44 bilhões do Orçamento deste ano do governo – dando indicativos de mais austeridade ao mercado, para controlar a inflação e evitar o aumento da dívida pública.

O ministro fixou a meta do superavit em 1,9% do PIB, que considerou “realista”. Para analistas ouvidos pela agência Reuters, é uma tentativa de assegurar que ela seja cumprida sem a necessidade de artifícios contábeis usados previamente.

O gerente de assuntos internacionais do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Vinicius Lages, diz que os micro e pequenos empresários ainda estão otimistas para empreender no Brasil, aproveitando-se do amplo mercado consumidor interno, que continua aquecido e em expansão em várias partes do país.

Mas também cita a necessidade de resolver “problemas estruturais” – baixo nível educacional, regulação instável, infraestrutura e burocracia – para melhorar o ambiente de negócios no país. “Isso criaria um ambiente mais favorável para o setor privado, que precisa investir tanto quanto o público.”

Para Mori, da FGV, o desafio é também diminuir o peso do setor público sobre a economia: “É preciso aumentar sua produtividade, fazendo mais sem gastar mais – ou seja, sem piorar serviços públicos como saúde e educação”.