A Bovespa teve uma forte recuperação nesta quinta-feira, chegou a testar a linha dos 48 mil pontos por alguns instantes, e conseguiu apagar as perdas acumuladas nesta semana até agora. Entretanto, para analistas, o movimento ainda está longe de representar uma melhora consistente do mercado doméstico. Mesmo com os ganhos de hoje, a bolsa brasileira ainda cai mais de 7% neste ano.

“É normal uma correção mais forte depois de tantos dias de estresse”, avalia o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. Ele lembra que o dado de produção industrial mais fraco em dezembro, divulgado nesta semana, e a suspensão dos leilões do Tesouro trouxeram alívio ao mercado de juros, o que acabou favorecendo a renda variável. Lá fora, o Banco Central Europeu (BCE) contrariou as expectativas e não alterou sua política monetária, afastando as preocupações com uma possível deflação na região. “A soma desses fatores deu uma aliviada nos mercados.”

Apesar da melhora significativa hoje, é cedo para falar em mudança de tendência. “[O mercado] Está tudo muito socado, o que acaba chamando uma correção. Ainda assim, não vejo ninguém correndo para as compras, achando que está tudo muito barato”, relata o especialista em bolsa da Icap Brasil, Rogério Oliveira. Outro operador comentou qu e notou fluxo de compra principalmente por parte de investidores institucionais locais, enquanto o estrangeiro seguiu na pon ta vendedora. A exceção foi Vale, papel no qual o estrangeiro atuou na compra desde ontem, após o Morgan Stanley elevar a recomendação do ativo para “outperform” (compra).

Os dados de fluxo da BM&FBovespa mostram que o investidor estrangeiro tirou mais R$ 142,936 milhões da Bovespa na terça-feira (4). Desta forma, o saldo negativo no mês de fevereiro subiu para R$ 387,715 milhões. Esse foi o sétimo dia de retirada de recursos nos últimos oito pregões, totalizando nesse período uma saída de R$ 1,717 bilhão. A debandada começou no dia 24, quando cresceram os temores em relação aos países emergentes, com crise cambial na Argentina e choque de juros na Turquia. No ano, o fluxo de capital externo na bolsa brasileira está negativo em R$ 1,242 bilhão.

O Ibovespa fechou em alta de 2,39%, para 47.738 pontos, depois de fazer máxima nos 48.033 (3,02%). O volume financeiro alcançou expressivos R$ 7,196 bilhões. Entre as principais componentes do índice, Vale PNA marcou al ta de 2,87%, para R$ 30,80; Petrobras PN subiu 2,74%, para R$ 14,21; e Itaú PN ganhou 2,08%, a R$ 31,85.

Petrobras corrigiu parte das perdas de ontem, provocadas principalmente pela decisão da estatal de adiar a divulgação do balanço do dia 14 para o dia 25. Operadores afirmaram que a notícia “pegou mal”, abrindo espaço para especulações de que o resultado poderia vir pior que o esperado.

No fim das contas, o Valor apurou que a mudança foi provocada por causa da agenda do Ministro Guido Mantega, que é presidente do Conselho de Administração, e terá que viajar para participar de encontro do G-20 na Austrália. O mercado também acredita que o plano de negócios da estatal para o período de 2014 a 2018 poderá ser divulgado junto com o balanço.

Na ponta positiva ficaram CSN ON (5,69%), Sabesp ON (5,37%)e Even ON (5,25%). Apenas sete das 72 ações do índice fecharam em baixa, entre elas ALL ON (-1,61%) e Cosan ON (-1,41%).

Reportagem do Valor mostra que, apesar do esforço das usinas para que o etanol volte a cair nas graças do motorista brasileiro, a demanda doméstica deverá permanecer muito aquém do potencial. Especialistas projetam que o mercado de combustíveis no país crescerá 4% no ano-safra 2014/15. Mas esse avanço não virá do consumo do biocombustível. É o uso de gasolina que deverá voltar a crescer.