A bolsa brasileira repetiu o filme de ontem e se consolidou em baixa à tarde, depois de operar sem tendência pela manhã. Porém, hoje houve um ingrediente a mais: a perda do suporte gráfico dos 47 mil pontos desencadeou uma onda de ordens “stop loss” – venda a qualquer preço para limitar perdas.

O cenário interno foi, mais uma vez, responsável pelas principais baixas do dia, com o mercado local operando descolado de Nova York. Siderúrgicas e elétricas se concentraram na ponta negativa, ao lado de Anhanguera, que sofreu com especulações sobre um possível fracasso de sua fusão com a Kroton.

As ações do setor elétrico estão sendo bastante penalizadas desde ontem, com investidores esperando que o governo sinalize claramente de que forma pretende fechar essa conta. O risco de racionamento e, principalmente, o custo do uso de usinas térmicas preocupam. Operadores afirmam que os investidores estão preocupados com o custo que as distribuidoras terão de arcar pelo uso das termelétricas para compensar a seca nos reservatórios das hidrelétricas. Para o investidor, ainda não está claro como — e se — o governo vai repassar esse custo ao consumidor em pleno ano de eleições.

Segundo o Valor apurou, as contas de luz teriam que subir cerca de 15% neste ano caso o governo decida cobrir apenas metade do rombo no caixa das distribuidoras por causa do uso intensivo das térmicas. Em entrevista coletiva hoje, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo ainda não definiu se o custo com energia será repassado para as tarifas. O ministro também não deu pistas sobre quando o governo anunciará a meta de superávit fiscal para este ano, outra notícia amplamente aguardada pelo mercado.

O Ibovespa fechou em baixa de 2,05%, aos 46.600 pontos, com giro de R$ 6,882 bilhões. Entre as principais ações do índice, Vale PNA caiu 0,45%, a R$ 30,60; Petrobras PN recuou 2,21%, a R$ 14,11; e Itaú PN terminou em baixa de 0,28%, a R$ 31,11.

A gestora da Coinvalores Tatiane Pereira lembra que fatores macroeconômicos também estão pesando sobre a bolsa brasileira. O mercado aguarda, ainda nesta semana, a divulgação da meta fiscal do governo. “A expectativa é que o governo divulgue um superávit crível, entre 1,8% e 2,0% do PIB, com um corte de gastos da ordem de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões.” Para ela, as tensões devem seguir pelo menos até meados de março, quando a S&P deve revisar sua avaliação de rating do Brasil.

No topo do Ibovespa resistiram apenas sete das 73 ações do índice, com destaque para Localiza ON (1,86%), Gol PN (1,23%) e Cielo ON (0,92%). Na ponta negativa do Ibovespa ficaram PDG Realty ON (-8,92%), Anhanguera ON (-8,82%) e Marfrig ON (-8,39%). As elétricas também figuraram entre as maiores baixas: Light ON (-6,29%), Copel PNB (-5,32%), energias do Brasil ON (-5,22%) e Eletropaulo PN (-4,81%).

Anhanguera registrou queda pelo quarto pregão seguido com especulações de que a fusão com a Kroton (-1,74%) estaria travada no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Desde o dia 7 de fevereiro, o papel acumula baixa de 15%. A relação de troca dos papéis hoje está com um desconto de 46%, segundo cálculo de operadores. “Um desconto desses sugere que a operação não vai sair”, disse uma fonte.

Usiminas e outras siderúrgicas – Gerdau PN (-6,03%) e CSN ON (-4,96%) – sofreram com os dados divulgados hoje pela Inda, entidade que reúne as distribuidoras de aço. A Inda estima vendas de 388 mil toneladas em fevereiro, queda de 5% ao desempenho de janeiro. A projeção para as compras das siderúrgicas é de recuo de 10%, para 336 mil toneladas.