Quem passou na tarde de hoje (1º) em frente ao prédio da Estação da Luz pôde reviver ou conhecer o carnaval de tempos atrás, com direito a se divertir ao som de marchinhas entoadas por uma banda de Joanópolis, município do norte paulista, próximo à divisa com Minas Gerais. A festa tradicional também tinha bonecos gigantes, feitos em papel machê e com corpo de tecido estampado e muito colorido, os chitões.

“Os bonecões, as máscaras de carnaval, são uma reminiscência da commedia dell’arte que surgiu na Itália e depois se desencadeou em movimentos pela França e toda a Europa no século 19 como um meio de fugir às restrições religiosas que havia à festa pagã”, lembrou a folclorista Neide Rodrigues Gomes, presidenta da Comissão Paulista de Folclore e da Casa de Cultura de Joanópolis. Ela é curadora do evento, que está em sua sétima edição.

Em parceria com o Museu da Língua Portuguesa, Neide coordena o ensino da técnica de confeccionar os bonecões a um grupo de 30 alunos. O curso é e aberto à população, com inscrições que podem ser feitas sempre no mês de janeiro. Neste ano, os 30 alunos confeccionaram sete bonecos e ainda mostraram o resultado no desfile do bloco de rua, que é feito na região onde surgiram as primeiras escolas de samba do carnaval paulistano.

A artesã Guayra Nardi, de 59 anos, fez o curso junto com a filha, Tatiana de Sá, de 31 anos, que é estudante de história. “O meu boneco é aquele de barbicha, que relembra a fisionomia de um grego”, apontou ela, orgulhosa . A filha emendou: “Ele é um faraó”. Nesse meio tempo, os músicos iniciavam uma nova etapa de marchinhas ao som de Mamãe Eu Quero, Se a Canoa Não Virar,Bandeira Branca e Jardineira, entre outras marchas carnavalescas bem populares no passado e ainda presentes no carnaval do interior.

Um dos músicos, Vespasiano Trestini, de 71 anos, tinhas os dedos das mãos protegidos por tecidos.´”É para não dar calos”, explicou, em meio ao cadenciado “bum bum bum bate bum bum” vindo do surdo que carregava.

A reação do público não lembrava nem de longe o comportamento visto no carnaval de Olinda, onde a multidão segue os bonecões com muita animação. Mas, mesmo contidos por uma certa timidez, alguns ensaiaram passos e caíram na folia. Outros só registravam as cenas em máquinas fotográficas ou filmadoras, e teve gente que justificou ter ido ao local com o interesse apenas de não deixar morrer uma cultura tão antiga.

“Vim trazer minha filha para ela ver que o carnaval não é só os desfiles de escolas de samba que ela conhece pela televisão”, justificou o professor de educação física Sérgio Andrade, de 40 anos, com a filha de 3 anos ao colo. A funcionária pública Josélia Almeida, residente em Brasília, entrava no Museu da Língua Portuguesa, quando foi atraída pelo som das marchinhas e decidiu adiar um pouco a visita para ver o que era aquele evento. ”Me surpreendi, nunca tinha visto isso antes em São Paulo”, disse ela, elogiando o trabalho.