Máscaras no rosto, fantasia encomendada com antecedência e muita expectativa de liberdade e brincadeiras. Assim eram os carnavais de antigamente que faziam os foliões se organizarem para o evento meses antes do grande dia.

José da Cruz Bandeira, de 83 anos, era um carnavalesco nato. Até prêmio de folião ele ganhou em 1954, no Rádio Clube. O Rádio era o principal clube de Campo Grande. Toda a alta sociedade frequentava a folia e se preparava para o evento como uma grande festa. “Tinha gente que três meses antes mandava confeccionar a fantasia para participar do carnaval”, lembra. “O pessoal ficava esperando o Bandeira entrar no salão, pois eu sempre surpreendia”, relembra orgulhoso.

Daqueles tempos, Bandeira confessa que ficou apenas a saudade, já que acredita que o verdadeiro carnaval acabou. “A espiritualidade carnavalesca era total. O ambiente era saudável, era uma coisa maravilhosa. Carnaval hoje nem existe mais. Os assaltos carnavalescos começavam em janeiro, como preparativos”, lembra saudosista.

Sócio há 50 anos do Rádio Clube, hoje participa apenas dos campeonatos de futebol.

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Quem tem mais de 30 anos com certeza se lembra dos bailes de carnavais que existiam em Campo Grande. até o início dos anos 2000, clubes como Estoril, Rádio Clube, Clube Libanês e União dos Sargentos disputavam quem fazia a melhor festa. Quem ganhava eram os foliões que se esbaldavam até a madrugada na diversão.

A folia era tanta que era comum os amigos saírem das festas, tomarem uma canja e se reabastecerem para encarar a maratona de folia.

Com 35 anos, Ana Carolina Spezato, conta que o roteiro era pular o carnaval no Clube Estoril todas as noites e canja de galinha de manhã antes de encarar a piscina. “Adorava aquela época. Os amigos todos reunidos. Se divertindo. Era muito gostoso. Eu pulava todas as noites, não deixa de ir em nenhum dia”, lembra com saudades.

Quem também sente falta da época é Henrique Attilio. Com 36 anos, ele conta que o endereço era o Rádio Clube . “Eu pulava no Radio, e sim, sinto falta”, diz sobre os bailes de Carnaval.

Mais saudosa, Raquel Brunelli, 35 anos, conta que amava o carnaval e que sente muita falta dos anos em que pulava sem parar. “Me lembro e amavaaaaa, sinto muita falta”, diz.

Já a repórter fotográfica, Amparim Pla Lakatos, é outra que não esconde o saudosismo. Sem clube preferido, ela conta que se lembra bem dos bons tempos de Rádio Clube, Estoril e Libanês. “Mas isso já não existe mais. Uma pena!”, lamenta.

A assessora de imprensa Rosane Amadori, que é de Santa Maria, conta que apesar de não ter pulado os carnavais em Campo grande foi criada em festa de salão, onde se podia brincar com tranquilidade e segurança, sem perder em qualidade de diversão. “Sinto falta por mim e pela minha filha, que não tem essa alternativa”, salienta.

Presidente do Clube União dos Sargentos, Hamilton Pinheiro, 57 anos, explica que apesar de também sentir falta dos bailes, a realização do evento é inviável.

Ele explica que com a popularização do Carnaval de rua, e o investimento das prefeituras, tanto da capital quanto do interior, com atrações famosas é impossível competir. “A prefeitura contrata a melhor banda que tem e coloca na rua. Não dá para competir. Até o ano passado tentamos fazer o baile e só tomamos prejuízo”, revela.

Neste ano, ele conta que manteve apenas a matinê, pois ainda é viável fazer. Já o baile ficou no passado.

Os Clubes Estoril e Rádio Clube também deixaram os bailes de carnavais para trás. O Estoril ainda manteve a narchina de Carnaval ‘Saudade não tem idade’ para sócios e convidados. O baile vai acontecer nesta sexta-feira (28) e na segunda-feira (3).

O Rádio Clube aboliu o festejo do calendário do clube. A reportagem a administração informou apenas que este ano não haverá nenhum evento de carnaval.

O Clube Libanês já não existe mais. O União dos Sargentos terá matinê. A brincadeira vai começar às 15 horas no sábado (1⁰) e na segunda-feira (3).