Do projeto à realidade, os caminhos mudaram. foi muito além do traçado urbanístico e das quatro escalas idealizadas pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa. Datada dos anos 1950, a proposta original vencedora do projeto da nova capital previa a criação de um cordão verde ao redor da cidade com as funções de proteger o meio ambiente e abastecer a população com alimentos produzidos aqui mesmo. Com alguns ajustes, o projeto foi executado. Surgiram granjas, núcleos e colônias agrícolas nos anos seguintes. No entanto, a zona rural não cumpriu o papel primordial, e a paisagem mudou mais rápido do que se poderia imaginar.

O que seria um cinturão esverdeado de áreas preservadas, plantações e pastagens foi perdendo a cor esperada. Assumiram tons escuros de asfalto e multicoloridos das construções. Muitos pontos sofreram intenso processo de descaracterização. No lugar de campos e pastos, sobrevieram barracos, casas e prédios em ocupações irregulares, com pouca infraestrutura para os moradores.

Seja em decorrência de invasões, ações de grileiros seja por uma estratégia do governo para expandir a malha urbana, o fato é que alguns locais deixaram de ter a agropecuária como atividade principal. A ferida na área do DF parece não cicatrizar. O Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), elaborado pelo governo em 2009 e revisado em 2012, aponta a existência de 317 parcelamentos irregulares do solo.

Desse total, 117 surgiram em áreas rurais, o que representa quase 37% do total. De lá para cá, passaram-se cinco anos e a sangria não tem fim. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) estima que a capital hoje tenha ultrapassado o número de 600 áreas ilegais — e a proporção de ocupação na zona rural continuaria em torno de um terço.