Aparelho que ‘turbina’ cérebro com choques preocupa médicos

Se fosse possível, você gostaria de pensar mais rápido e ter mais capacidade de atenção? Pois há equipamentos que dizem ser capazes de fazer exatamente isso. Estudos confirmam a eficácia de técnicas de estímulo cerebral, e aparelhos para isso podem ser comprados até pela internet. No entanto, especialistas alertam para os perigos dos equipamentos, que […]

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Se fosse possível, você gostaria de pensar mais rápido e ter mais capacidade de atenção? Pois há equipamentos que dizem ser capazes de fazer exatamente isso.

Estudos confirmam a eficácia de técnicas de estímulo cerebral, e aparelhos para isso podem ser comprados até pela internet.

No entanto, especialistas alertam para os perigos dos equipamentos, que ainda não são regulamentados por autoridades de saúde.

Os estímulos de corrente direta transcranial (TDCS) são pequenos choques elétricos aplicados na cabeça, estimulando os neurônios do cérebro.

A teoria por trás da técnica é que os sinais elétricos tornam os neurônios mais reativos, e pesquisas preliminares indicam que os estímulos elétricos podem aumentar a capacidade de atenção e ajudar pessoas com problemas de cognição e depressão.

A técnica é não-invasiva, extremamente leve e usada até pelas Forças Armadas dos Estados Unidos para melhorar o rendimento de seus pilotos de aeronaves não-tripuladas.

Algumas pesquisas indicam até que a técnica pode ajudar na resolução de problemas de matemática, um benefício que foi verificado seis meses depois da aplicação.

Matemática

Um dos pioneiros do uso de TDCS é Roy Cohen Kadosh, da Universidade de Oxford.

“Estudos demonstraram que, ao emitir sinais elétricos às partes certas do cérebro, podemos mudar o número de neurônios que transmitem informações no nosso cérebro, e assim aumentar a capacidade cognitiva em diferentes funções psicológicas”, afirmou Kadosh à BBC.

No entanto, ele alerta que o uso indiscriminado da técnica poderia provocar danos.

“É possível usar estímulos que não são benéficos para a pessoa. É preciso saber por quanto tempo e em que hora e com que intensidade estimular o cérebro”, disse Kadosh.

Apesar dos riscos, já é possível encontrar aparelhos destinados ao público majoritariamente adolescente de “gamers”, os jogadores de videogames. Um dos equipamentos pode ser comprado pela internet por 179 libras (cerca de R$ 675).

A publicidade promete ganhos de aprendizagem e rendimento, entre outros benefícios. “É possível aprender de 20% a 40% mais rapidamente, reduzir a dor, se sentir melhor, aumentar a sua energia ou reduzir o estresse com TDCS? Estudos dizem que SIM!” – diz um anúncio.

O prometido entusiasmo incondicional à nova técnica levou neurocientistas a expressar sua preocupação com a técnica.

Hannah Maslen, pesquisadora de pós-doutorado na área de Ciência e Mente na Universidade de Oxford, recentemente pediu “calma” no uso dos aparelhos. A equipe coordenada por Maslen diz que, entre os possíveis problemas, estão ataques epiléticos e mudanças bruscas de humor.

De acordo com Nick Davis, da Universidade de Swansea, no País de Gales, o cérebro continua a se desenvolver até cerca de 20 anos de idade, e portanto intervenções nesta idade poderiam ter um impacto maior.

Ainda mais preocupante, para Davis, seria a possibilidade de adolescentes desenvolverem os seus próprios aparelhos de estímulo cerebral, já que a tecnologia estaria ao alcance de “adolescentes sagazes”.

“Essas pessoas provavelmente vão usar a técnica em uma dosagem mais alta do que um cientista ou médico recomendaria e têm menos noção dos riscos”, afirmou o pesquisador.

Riscos

Como os fabricantes do equipamento não classificam o aparelho de estímulo cerebral como tratamento médico, ficam isentos de se submeter a regulamentações por parte das autoridades.

O tipo de aplicação alardeado pelas empresas está distante da área de foco das pesquisas científicas, diz Hannah Maslen.

“Se eles fazem alegações sobre uso para games, estão muito longe do tipo de uso estudado para auxiliar pacientes que tiveram derrames ou sofrem de depressão”, afirmou.

Ela afirma que o direcionamento para este mercado pode ser interpretado como uma forma de evitar que os equipamentos sejam considerados de uso médico, o que requereria regulamentação rigorosa.

A cientista diz que não defende a proibição do uso dos equipamentos, mas gostaria que os consumidores tivessem informações suficientes para avaliar os riscos do uso.

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