O jovem, hoje com 18 anos, suspeito de assassinar a tiros o diretor Delmiro Salvione Bonin, dentro de uma escola pública no Distrito de Nova Casa Verde, em Nova Andradina, deixou a Unidade Educacional de Internação (UNEI) de Dourados esta semana. Na época do fato, ocorrido há cerca de dois anos, no dia 28 de junho de 2012, o rapaz era apenas um adolescente e, por isso, após ser apreendido, foi encaminhado para uma Unei da Capital.

No dia 18 de julho de 2013, ele e outros menores conseguiram escapar da unidade. Ao todo, nove jovens que cumpriam medidas socioeducativas teriam arrebentado os cadeados das celas e quebrado telas de proteção para fugir.  Ao fazer sua ronda, uma dos agentes da UNEI percebeu que o alojamento onde os internos deveriam permanecer estava vazio. Os jovens conseguiram destravar a porta da ala e ganhar o pátio da instituição. De lá, eles se dirigiram para os fundos da unidade, de onde violaram as telas de proteção e fugiram.

Após a fuga, guarnições foram até o local indicado, onde conseguiram localizar e apreender três jovens, sendo um de 18 anos e dois menores. Entre eles, foi recapturado o adolescente acusado de assassinar, com disparo de arma de fogo, o diretor Delmiro Bonin.

No sábado (20), outros dois adolescentes, de 17 e 18 anos, foram capturados.Após este episódio, o menor acusado do assassinato acabou transferido para uma Unei existente na cidade de Dourados, onde permaneceu até esta semana.

Depois de sair da UNEI de Dourados, o jovem foi encaminhado para Nova Andradina e colocado em liberdade, inclusive já sendo visto novamente na região de Nova Casa Verde, onde morava e onde ocorreu o crime. Para os professores da escola que serviu de cenário para o homicídio, a liberação do jovem, no mesmo mês que ocorreram os fatos, abalou tanto a família da vítima quanto os membros da unidade escolar.

“Desde a morte do Delmiro Bonin, o dia 28 de junho ficou instituído como o Dia da Paz, onde realizamos manifestações e atos públicos contra a violência, mas como fazer estes eventos sabendo que o autor já está novamente entre nós?”, questionou uma professora.

Membros da escola não descartam a possibilidade de que, este ano, os eventos alusivos ao Dia da Paz sejam cancelados. “Parece uma afronta à família a aos amigos do Bonin o fato de o autor ser colocado em liberdade na mesma época do ano em que o crime ocorreu”.

 “Ele não ficou nem dois anos recolhido. Acreditamos que a justiça brasileira é muito branda e isso geram uma sensação de completa impunidade. A família da vítima não está nem saindo de casa, com medo”, desabafou uma colega do diretor assassinado.

Premeditado

Dizendo estar arrependido, o jovem confessou ter premeditado o crime desde o começo do mês de junho, quando teria comprado, de um caminhoneiro desconhecido, a arma utilizada no homicídio.

Segundo relato do autor, o revólver calibre 22 foi adquirido pela quantia de R$ 500. Ainda segundo o autor, na data do crime, ele permaneceu com a arma na mochila durante todo o dia, mas resolveu assassinar o diretor no último instante, quando Delmiro Bonin caminhava em direção ao ônibus que o levaria de volta para casa. “Dei dois tiros, esperei um pouco e efetuei mais quatro disparos”. O resultado da perícia aponta que três projéteis acertaram o diretor.Após o crime, ele foi localizado em matagal

Motivação

Quanto à motivação do crime, o adolescente alegou estar descontente com o fato de não poder entrar na escola no mesmo horário dos demais alunos. Ele relatou ainda que estava proibido de sair da sala até mesmo para tomar água.

 O delegado André Novelli, diz acreditar que estas alegações não seriam verdadeiras. Ao ser questionado pelas autoridades sobre possíveis ajudas que o adolescente supostamente teria recebido durante a execução do crime e a fuga, ele relatou ter agido sozinho, e que, teria ficado escondido no mato desde o dia do assassinato.

Histórico de violência

O adolescente acusado de homicídio tem três passagens por lesão corporal e o histórico de cometer atos de violência na escola em que estudava. De acordo com a Polícia Civil, ele tem passagens por ter agredido duas pessoas, uma delas durante um evento realizado em um clube, e por ter esfaqueado um adolescente de 17 anos, também aluno do colégio dirigido por Bonin. Os casos foram devidamente registrados.

Uma professora, que na época trabalhava com Bonin, disse, nesta quinta-feira (19), ao Nova News, que ainda não viu o rapaz e não sabe se tem estrutura emocional para o encontro, já que ela presenciou o crime. A educadora fez duras criticas às leis e autoridades, que, nas palavras dela, diante da gravidade do crime ocorrido, nem avisaram os responsáveis pela escola sobre o fato de o jovem ter sido liberado. Na avaliação dela, a liberdade do autor é um risco a todos que frequentam a escola que, na visão dela, voltou a ser um lugar de insegurança para alunos e professores.

“Se ele cometeu o crime à luz do dia, em horário de aula, com muita gente por perto e, ao lado do posto da Policia Militar, que garantia os professores da escola têm que ele não fará de novo, uma vez que o autor também é nosso vizinho?”, indaga. Em sua analise, a passeata e as atividades referentes a memória do diretor perderam o foco, pois vão parecer homenagens ao jovem que cometeu o crime.

“Onde já se viu. Ele vai assistir a passeata olhando as pessoas com cartazes pedindo paz e batendo no peito. Será que ele não vai pensar: ‘Eu fiz isso e não deu em nada. Eu sou o máximo’”, afirma a professora, que confessou estar desmotivada em participar de qualquer ato público. Um concurso de redação entre as escolas do município, promovido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec), juntamente com outras atividades, podem ser cancelados.

Nas palavras dos educadores, os sentimentos de indignação, medo e principalmente de revolta tem tomado conta de todos. Segundo amigos, a família do diretor assassinado está bastante abalada, sem estrutura emocional e preferiu não comentar o assunto.