Mesmo com a dificuldade para enfrentar a concorrência das grandes redes supermercadistas, as casas de carne e açougues de bairro sobrevivem em Campo Grande. Em algumas avenidas da Capital, novos empreendimentos mostram que comprar carne fresca ainda atrai o consumidor.

Na guerra, os açougues pequenos, aqueles que ficavam dentro dos bairros, estão acabando. Esta é a leitura que faz Hamilton dos Santos, 43, dono da Zebu Casa de Carne e Conveniência, da situação atual do ramo. Com um açougue no Jardim Leblon, Hamilton revela a dificuldade dos proprietários em aguentar o que chama de concorrência desleal com os supermercados.

Carne a vácuo

“Não dá para competir. Tem a terça da carne, a quarta da carne, a quinta da carne. Eles têm muitos produtos, então colocam o preço das carnes lá embaixo”. Hamilton conta que enquanto em seu açougue o quilo da costela sai pelo menos por sete reais, fora o preço de custo, em supermercados ela custa menos que seis reais.

“Só que tem uma coisa, eles trabalham com carne a vácuo, a nossa é fresca. Eles fazem propaganda enganosa, o cliente acha que é fresca, mas não é. A pessoa já está no mercado, aproveita e compra carne lá mesmo. Está ficando difícil para o açougueiro”, admite.

Para o açougueiro, entretanto, o consumidor também perde com isso. Ele afirma que a carne é mais bem tratada nos açougues. “A gente corta melhor, limpa. Em supermercado eles não cuidam da carne com a mesma atenção”, compara.

O açougueiro diz ter que “fazer malabarismo” para sobreviver. “Os supermercados estão engolindo os açougues. Não é aconselhável abrir um açougue hoje. A maioria que abre fecha. Eu mesmo tinha cinco agora estou só com três”, exemplifica.

O dono da Zebu Casa de Carne e Conveniência critica a fiscalização, que segundo ele “pega pesado” só com os açougues pequenos. “Fazem isso justamente para eliminar os pequenos. Tem um monte de carne com mosca e não fazem nada”, critica.

‘Agregar valor’

Com o açougue aberto há pouco mais de um ano, Hamilton vende espetinho das cinco da tarde até as nove da noite para atrair mais clientela, além de vender cerveja, bebidas. “Tem que agregar valor, achar formas de chamar o cliente”, explica.

Joana Ortiz, 47, cuidadora de idosos, comprava na Zebu enquanto a reportagem estava no local. Joana diz optar pelo açougue por ser mais perto e pela qualidade da carne. “Tinha que ter um incentivo para os açougueiros. É outra qualidade de carne e atendimento, a população merece comer melhor”, cobra Hamilton.

Deixando os problemas lá fora

Na Albert Sabin, Vila Anahy, o dono da Casa de Carne Vitória vem sofrendo da mesma forma que Hamilton. Desde que abriu o açougue, há um ano, ele “caça” formas de manter o negócio. ”Tem que ir achando de onde puxar para sobreviver, porque a concorrência com os supermercados dificulta muito”, observa Thiago Martins, 23.

Thiago vende carne para restaurantes pequenos e faz promoções de carnes de primeira no fim de semana para garantir a comida em casa no fim do mês. Ele se diz preocupado. “Tento segurar o alto preço da vaca. O cliente sente o preço. Se subir vinte centavos a carne ele percebe e comenta com o vizinho”, revela.

Assim como Hamilton, Thiago lamenta que muitos aproveitam que estão no supermercado para comprar carne lá. “Mas compram carne a vácuo achando que é fresca. O ser humano gosta de ser enganado”, cutuca. Ele conta que já foi em mercados onde sentiu o cheiro forte do sangue acumulado da carne a vácuo. “Isso a fiscalização não vê”.

A promotora de vendas Jocenir Corrêa, 38, comprava carne no açougue e não pensou duas vezes ao responder o motivo de não escolher comprar em supermercado. ”Aqui a carne é fresca. Lá é tudo a vácuo, é mais fácil de estragar”.

O dono da Casa de Carne Vitória vê os açougues em melhores condições de oferecer uma carne de qualidade. “Comida tem que ser saudável. Em açougue o trato da carne é outro”. A fidelidade dos clientes é outro ponto importante. “Converso bastante com quem vem aqui, tem que sorrir. Estamos cheios de problemas, mas eles têm que ficar fora do açougue”.