Responsáveis por um terço das doações privadas a campanhas eleitorais nas duas últimas eleições, fornecedoras da Petrobras iniciaram uma operação entre os deputados e senadores que integram a CPI mista instalada na semana passada no Congresso e já receberam sinais de que a investigação dos negócios da estatal deve se concentrar em pessoas, e não nas empresas.

Essa espécie de pacto para que não haja avanço sobre os fornecedores foi costurada em recentes reuniões de senadores do PSDB com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos principais defensores dos interesses do Palácio do Planalto na CPI mista.

Nas conversas, todas com respaldo de lideranças petistas e da articulação política do Palácio do Planalto, concluiu-se que agora, neste ano eleitoral, é melhor fazer uma CPI que explore personagens simbólicos, como o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, acusado de intermediar negócios da Petrobras com o doleiro Alberto Youssef, principal alvo da Operação Lava Jato da Polícia Federal.

Assim, os parlamentares poderão passar ao largo da técnica do ‘follow the money’ (siga o dinheiro, em inglês). O propósito é evitar quebras de sigilo generalizadas que exponham os fornecedores-doadores.

Os requerimentos apresentados pela oposição na primeira sessão de funcionamento da CPI mista de quebra de sigilo de construtoras que também são grandes patrocinadoras de campanha, como Camargo Corrêa e OAS, tendem a ficar na gaveta.

A informação do teor das conversas sobre o pacto foi confirmada, sob reserva, por parlamentares tanto da oposição quanto da base. Mas negadas publicamente por todos os envolvidos.

A estratégia já vinha sendo usada na CPI do Senado, instalada no dia 14 de maio e totalmente controlada pelos governistas e boicotada pelos opositores.

Longe de representar irregularidades, as doações registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam o potencial de alcance político e econômico da estatal. Levantamento feito pelo Estado mostra que, dos 32 integrantes titulares da comissão mista, 15 receberam doações de empresas que assinaram contratos com a Petrobras no período de 2011 a 2014, gestão da presidente Dilma Rousseff. Desses, 13 são da base governista.

Cruzamentos. Como a Petrobras lida com as maiores empresas do País, não é difícil encontrar um fornecedor que doou dinheiro de campanha eleitoral.

O membro da CPI mista beneficiado com o maior valor é o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que recebeu R$ 500 mil da Camargo Corrêa, empreiteira que lidera o consórcio responsável por obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, alvo de suspeitas. A empreiteira também contribuiu com R$ 100 mil ao deputado Hugo Napoleão (PSD-PI).

O líder do governo no Congresso e relator da CPI da Petrobras do Senado, José Pimentel (PT-CE), recebeu R$ 1 milhão da empreiteira, que pagou o mesmo valor à campanha do líder petista no Senado, Humberto Costa (PE). Ele recebeu outros R$ 500 mil da construtora OAS, responsável pela construção de dutos para o emissário do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), obra da Petrobras.

A Camargo Corrêa também contribuiu para as campanhas dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI), com R$ 150 mil, e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), com R$ 500 mil. Ciro ainda conseguiu R$ 100 mil da Votorantim Cimentos, contratada pela estatal para fornecer cimento para poços de petróleo.

Na Câmara, a coincidência passa ainda pelo relator da CPI mista, Marco Maia (PT-RS), que recebeu R$ 40 mil da Gerdau Comércio de Aço, contratada da Petrobras para fornecer material para a produção para construção de plataformas.

Da oposição, o carioca Rodrigo Maia (DEM) foi beneficiado com R$ 300 mil da UTC Engenharia, que presta serviço à estatal na construção de quatro plataformas no estaleiro Inhaúma, no Rio.