A hora dos vices, a moeda de troca eleitoral
Na tarde da última sexta-feira (20), dirigentes estaduais do PSB acertavam, simultaneamente, apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo e à candidatura de Lindberg Farias (PT) no Rio de Janeiro. Nos dois casos, o partido negocia a indicação do vice na chapa, embora no Rio a tendência seja ficar com a […]
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Na tarde da última sexta-feira (20), dirigentes estaduais do PSB acertavam, simultaneamente, apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo e à candidatura de Lindberg Farias (PT) no Rio de Janeiro. Nos dois casos, o partido negocia a indicação do vice na chapa, embora no Rio a tendência seja ficar com a vaga ao Senado. Em dois dos maiores colégios eleitorais do país, o PSB manterá um pé no barco petista e outro no tucano. Pode parecer incongruente, mas, mais do que afinidades programáticas ou alianças históricas, a vice na chapa é uma das principais moedas de troca às vésperas do início da campanha eleitoral no Brasil.
No xadrez eleitoral, a escolha do partido do vice leva principalmente em conta o tempo de rádio e televisão que a aliança agregará na propaganda eleitoral obrigatória. Neste ano, o prazo para a indicação dos vices expira no próximo dia 30.
As negociações mais importantes em curso envolvem o PSD, partido do ex-prefeito Gilberto Kassab. Com preciosos um minuto e 34 segundos de tempo na TV, a legenda é disputada por PT e PSDB.
Na cúpula da campanha do candidato tucano à Presidência, Aécio Neves, as articulações são para tentar convencer o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, filiado ao PSD, a aderir à chapa. Meirelles é considerado o vice dos sonhos do PSDB – ele foi eleito deputado federal pela legenda em 2002, mas depois se desfiliou. A Convenção Nacional do PSD, agendada para o próximo dia 25, contudo, deverá formalizar apoio à presidente Dilma Rousseff.
Palanque eletrônico – Se no passado a força da oratória ou a campanha de porta em porta eram definidoras do vencedor nas eleições, atualmente são esses minutos e segundos de exposição na TV que podem levar um político da última colocação em pesquisas de intenções de voto à vitória. O tempo de propaganda é tão importante que, desde as eleições de 1994, o único candidato que venceu as eleições sem ter o maior tempo na tela foi o petista Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
“Na definição do vice, a ideologia de cada candidato acaba não importando porque o mosaico político brasileiro é totalmente carente de exigências de ações programáticas ou de filosofias partidárias”, diz o economista e analista de pesquisas eleitorais Maurício Romão. “Em 2012, cerca de 1.200 municípios, ou seja, um quarto de todas as cidades brasileiras, tiveram alianças entre PT e PSDB, os dois principais adversários em nível nacional. Nessas eleições, partidos antagônicos vão compor novamente porque a questão é meramente de dividendos eleitorais”, afirma. “Em geral, o tempo de TV é meio caminho andado, é quase colocar um pé dentro do governo.”
Por avaliar que ainda resta algum espaço para negociar com o PSD, Aécio só anunciará o nome de seu vice no dia 30 de junho, horas antes do prazo final. Se a aliança não for possível, o PSDB deverá optar por uma chapa “puro sangue”, que não agrega tempo de TV, mas pode consolidar votos em São Paulo, principal colégio eleitoral do país. Também estão em análise na cúpula da campanha a escolha de um vice na região Nordeste, onde o PT teve ótimo desempenho nas últimas eleições.
“Há uma deterioração da base aliada de Dilma. Kassab anunciou apoio a ela, mas tem uma afinidade maior com a oposição e por isso as portas [do PSD] ainda não estão completamente fechadas”, avalia o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos coordenadores da campanha de Aécio.
“Existe muito desejo da chapa do senador Aécio que o PSD o apoie, mas o nosso compromisso com a presidente Dilma está firmado desde o ano passado. Em todo caso, o assédio continua. Temos praticamente o terceiro maior tempo de TV”, diz o deputado Guilherme Campos (PSD-SP). “Continuam as tentativas de convencimento do Meirelles, mas é mais fácil a Bósnia ser campeã da Copa do Mundo do que o PSD formalizar apoio ao Aécio”, completa.
Sem Meirelles, na lista de potenciais vices do tucano estão o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o presidente do DEM, senador Agripino Maia, e o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Em busca do que classificam como um “fator emocional”, também são cogitados os nomes de Ellen Gracie, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e da deputada cadeirante Mara Gabrilli. O ex-governador José Serra, que na convenção que confirmou a candidatura de Aécio ao Palácio do Planalto defendeu a “união” dos tucanos, é um nome sempre citado, mas ele dá sinais de que não pretende aceitar.
São Paulo – Regionalmente, a indefinição sobre candidatos a vice afeta também o petista Alexandre Padilha, que disputa o governo de São Paulo. A questão também deve dar dor de cabeça para o tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição. Alckmin e Kassab negociaram durante meses uma aliança para o Palácio dos Bandeirantes, mas a exigência do ex-prefeito era que ele mesmo fosse o candidato a vice. Não deu certo. Nesta sexta-feira, com o apoio declarado do PSB, a sigla deverá indicar o vice – o nome favorito é do deputado Márcio França (PSB-SP), secretário de Turismo de Alckmin.
“A aliança do PSB com o governador Alckmin é natural porque o PSB está participando do governo Alckmin há muito tempo. Isso não traz nenhum desconforto”, disse Aécio, ao tentar minimizar a composição costurada pelo correligionário. Em setores do PSB, porém, a dobradinha de tucanos e socialistas deve abrir um novo flanco de desavenças, especialmente com a ex-senadora Marina Silva, candidata a vice na chapa de Eduardo Campos (PSB) à Presidência. Marina se recusa a apoiar a reeleição de Alckmin.
Sem a vice de Alckmin, Kassab agora negociará até o último minuto o capital eleitoral do partido para conseguir voltar à vida pública. Nos últimos dias, recebeu proposta para ser vice do petista Padilha e, segundo aliados, também poderá apoiar a candidatura de Paulo Skaf (PMDB) ao Palácio dos Bandeirantes.
Por causa do tempo de televisão, Dilma também tenta atrair o maior número de aliados formais à sua candidatura. A presidente se esforçou para manter o PMDB como parceiro preferencial, ainda que 40,9% dos delegados peemedebistas tenham votado contra a reedição da chapa nacional. Pelo mesmo motivo, abrigou o PSD na Esplanada dos Ministérios e concedeu ao PTB a vice-presidência Corporativa da Caixa Econômica.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não divulgou oficialmente quantos minutos cada candidato terá direito na propaganda eleitoral, mas as projeções são de que Aécio Neves terá 4 minutos e 16 segundos diários de exposição no rádio e na TV, enquanto a presidente Dilma Rousseff, poderá chegar a mais de 12 minutos. O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) deverá ter 2 minutos e 13 segundos.
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