Sucessor de Bento XVI não deve vir de país emergente, diz especialista

A possibilidade de a vaga deixada pelo papa Bento XVI – que anunciou ontem (11) que renunciará no dia 28 de fevereiro – ser ocupada por um candidato de fora da Europa existe, mas enfrenta forte resistência da máquina administrativa da Igreja Católica. A opinião é do especialista em assuntos do Vaticano, o americano Kevin […]

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A possibilidade de a vaga deixada pelo papa Bento XVI – que anunciou ontem (11) que renunciará no dia 28 de fevereiro – ser ocupada por um candidato de fora da Europa existe, mas enfrenta forte resistência da máquina administrativa da Igreja Católica. A opinião é do especialista em assuntos do Vaticano, o americano Kevin Eckstrom.

Segundo ele, apesar de o Vaticano ter feito seguidos esforços de internacionalização, nomeando nos últimos anos cardeais de vários países emergentes, o sucessor do atual pontífice precisaria passar pelo aval da Cúria Romana, dominada por europeus, o que reduziria as chances de um cardeal que não tenha nascido no continente, como um latino-americano ou um asiático.

“As chances de que o novo papa seja de fora da Europa são boas, mas seria preciso primeiro convencer a Cúria”, diz Eckstrom. A Cúria, que significa “corte” em latim, é o órgão administrativo da Igreja Católica, responsável por zelar pelo bom funcionamento da máquina burocrática do Vaticano e que dá assistência ao papa em suas funções.

Eckstrom acredita que o italiano Angelo Scola, de 71 anos, atual arcebispo de Milão, segue favorito na lista de sucessão. Correndo por fora, na sua avaliação, estaria o americano Timothy Dolan, de 62 anos, que se tornou a principal voz do catolicismo nos Estados Unidos depois de ter sido nomeado arcebispo de Nova York em 2009.

O professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Paulo Fernando Carneiro de Andrade, concorda e lembra que a definição dos critérios para a escolha do novo pontífice é complexa. “A escolha do novo papa não necessariamente leva em conta o tamanho da população católica do país de onde ele vem”, diz.

“O perfil buscado tem mais a ver com a capacidade de saber convergir os interesses da Cúria e, assim, garantir um bom funcionamento da Igreja Católica”, acrescenta. Nesse sentido, Andrade lembra que, embora o Brasil tenha a maior população católica do mundo, a importância geopolítica do país é inferior à de regiões onde a expansão do catolicismo tem sido foco de atenção da cúpula do Vaticano.

“A Igreja Católica tem olhado com bastante atenção o crescimento da população católica na Ásia e na África”, lembra. Para ele, um indicativo de que as chances de um novo pontífice não europeu aumentaram veio no fim do ano passado quando, “surpreendentemente”, o Vaticano nomeou cinco novos cardeais, sendo quatro deles de países emergentes.

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