‘Somos tão Jovens’ faz retrato convencional da juventude de Renato Russo

Como muitos filmes sobre artistas que deixaram um legado conhecido, “Somos tão Jovens” – longa sobre Renato Russo, vocalista do Legião Urbana, morto em 1996 – tenta decifrar o artista em questão por meio de sua obra. É uma opção arriscada, e que raramente funciona. O próprio título do longa – extraído de um verso […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Como muitos filmes sobre artistas que deixaram um legado conhecido, “Somos tão Jovens” – longa sobre Renato Russo, vocalista do Legião Urbana, morto em 1996 – tenta decifrar o artista em questão por meio de sua obra. É uma opção arriscada, e que raramente funciona.

O próprio título do longa – extraído de um verso da canção “Tempo Perdido” – já deixa claro que se vai ver o Renato Russo conhecido, roqueiro, figura melancólica e irônica que nos anos de 1980 saiu de Brasília para ganhar o país.

Nesse sentido, o longa de Antonio Carlos da Fontoura (“Rainha Diaba”, “Gatão de Meia Idade”) funciona até certo ponto, na medida em que coloca em segundo plano o ser humano para se centrar na formação do ídolo. O roteiro escrito por Marcos Bernstein até resiste um pouco à tentação de seguir para esse lado, mas no momento em que Renato Manfredini Júnior (interpretado por Thiago Mendonça, que, aliás, canta em cena) solta a voz, o filme não resiste, e se transforma em retrato do artista enquanto jovem e deprimido.

O desenvolvimento da cena roqueira de Brasília ao final da década de 1970 e nos anos de 1980 serve como um pano de fundo – afinal, não teria como fugir do tema. Esse ambiente, assim como o próprio Renato Russo, foram abordados num documentário premiado de Vladimir Carvalho, “Rock Brasília – A Era de Ouro” (2011), que explora com profundidade e raras cenas de arquivo momentos que são basicamente apenas citados nesta ficção.

Longe do didatismo, “Somos tão Jovens” não se esquiva de abordar um pouco mais claramente a sexualidade de seu personagem – ao contrário, por exemplo, de “Cazuza”. Uma vez que o pai (Marcos Breda) e a mãe (Sandra Corveloni) fazem quase figuração em personagens sem qualquer profundidade, a figura mais próxima de Renato é Ana (uma impressionante Laila Zaid), com quem o músico vive uma relação ambígua, uma grande amizade, um amor silencioso, meio platônico. Mas a paixão mais forte de Renato é por Flávio Lemos (Daniel Passi), seu colega na banda Aborto Elétrico, a quem ele teme se declarar.

Sutilmente, o entorno sócio-político da época se insere em “Somos tão Jovens”. São situações quase banais, mas que denunciam o Brasil de então – como a cena em que Renato, Ana e outros amigos são parados por uma blitz e liberados porque ela é filha de militar. Momentos como esse servem para não apenas situar a trama, mas também contextualizar o clima em que surgiram bandas como o Aborto Elétrico e, mais tarde, Legião Urbana e Capital Inicial.

Thiago Mendonça que, em 2005, viveu o sertanejo Luciano em “2 Filhos de Francisco” é competente como Renato Russo – e isso não tem nada a ver com cantar ou falar parecido, pois neste sentido trata-se de técnica. O grande mérito do ator é tentar entender a sensibilidade de uma pessoa que compôs versos como “Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?”.

“Somos tão Jovens” não esconde que é um filme para fãs de Renato Russo. Não traz nenhuma novidade, conta algumas histórias conhecidas e deixa de fora outras tantas – novamente, vide “Rock Brasília”. No fundo, é um filme bem convencional ao falar de um músico que pregava a transgressão, dizendo: “Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião”.

Conteúdos relacionados