Sindicato diz que operários da Arena Amazônia trabalham mais de 18h por dia

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil do Amazonas (Sintracomec-AM), Cícero Custódio, disse que operários que trabalham nas obras da Arena Amazônia, em Manaus, são submetidos a jornadas de mais de até 18 horas diárias sem o uso de equipamentos de segurança como cintos de segurança e proteções anti-quedas. Fiscais do […]

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O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil do Amazonas (Sintracomec-AM), Cícero Custódio, disse que operários que trabalham nas obras da Arena Amazônia, em Manaus, são submetidos a jornadas de mais de até 18 horas diárias sem o uso de equipamentos de segurança como cintos de segurança e proteções anti-quedas. Fiscais do Ministério Público do Trabalho (MPT) vistoriaram na manhã desta segunda-feira as obras do estádio depois quedois operários morreram no final de semana.

Cícero Custódio acompanha a perícia técnica feita pelo MPT e diz que trabalhadores da obra o procuraram para revelar o que ele considera um “absurdo”. “Temos trabalhadores iniciando os turnos às 7h e saindo à 1h do dia seguinte. Isso é uma aberração, um crime”, diz o sindicalista.

Na madrugada de sábado, o operário Marcleudo de Melo Ferreira, 22 anos, que trabalhava na instalação dos refletores do estádio no turno da madrugada, morreu após sofrer uma queda de uma altura de 35 metros. Horas depois, outro operário, José Antônio da Silva Nascimento, de 49 anos, teve um infarto enquanto prestava serviço de limpeza e terraplanagem para o asfaltamento do Centro de Convenções da Amazônia, obra do complexo da arena.

Para o presidente do sindicato, a pressa para terminar as obras da Arena Amazônia, que está atrasada segundo o cronograma oficial, é a principal responsável pela pressão a que os trabalhadores da obra estão sendo submetidos. “Eles não querem saber da segurança dos trabalhadores. Eles só querem saber de entregar a obra, que está atrasada.”

O procurador do MPT, Jorsinei Dourado, afirmou que a pressa em entregar a obra da arena é um fator preocupante. ” Nós sabíamos, desde o início das obras, que os atrasos poderiam gerar esse tipo de situação. Por isso intensificamos a fiscalização. Em vários momentos nós constatamos as jornadas excessivas de trabalho e pedimos à empresa que mudasse essa prática”, afirmou o procurador no domingo.

Outra informação levantada pelo presidente do sindicato é a de que o turno da madrugada, no qual Marcleudo trabalhava quando morreu, não havia sido comunicado aos representantes da categoria e nem ao MPT. “Eles não informaram sobre esse turno para ninguém. Nem a gente (sindicato) nem o Ministério Público tinha essa informação”, disse.

O procurador Jorsinei Dourado confirmou que o MPT não tinha conhecimento de que as obras estavam sendo realizadas durante a madrugada. “É temerário que obras dessa complexidade sejam realizadas durante a noite. Nós não tínhamos conhecimento disso e vamos apurar o que aconteceu”, disse o procurador.

O presidente do Sintracomec-AM disse ainda que trabalhadores revelaram aos peritos que operários estavam sendo pressionados a trabalhar sem o uso dos equipamentos de segurança exigidos por lei, entre eles o cinto de segurança e o “fio de vida”, uma espécie de proteção contra quedas.

Com as duas mortes no final de semana subiu para três o número de operários mortos nas obras da Arena da Amazônia. Em março de 2013, um outro trabalhador morreu ao cair de uma altura de cinco metros enquanto trabalhava nas vigas de sustentação do estádio.

A Unidade Gestora do Projeto Copa (UGP Copa), órgão do governo do Amazonas que administra as obras da Arena da Amazônia, informou que uma entrevista coletiva está prevista para a tarde desta segunda-feira em que o caso será abordado. O MPT também deverá realizar uma entrevista coletiva sobre o assunto ao final da fiscalização.

A reportagem do UOL Esporte procurou a assessoria de imprensa da Andrade Gutierrez para comentar as denúncias feitas pelo presidente do Sintracomec-AM, mas ainda não obteve retorno. Até a publicação desta reportagem, as obras que envolvam trabalhos realizados a grandes alturas estavam interditadas pela Justiça do Trabalho.

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