Renda extra e amizades levam brasileiros a abrir a porta de casa para turistas
Ter uma renda extra sem burocracia e conhecer pessoas e culturas diferentes sem sair da própria cidade. Esses são dois dos principais motivos que vem levando os brasileiros a receber, cada vez mais, turistas em suas próprias casas. A ideia é simples, basta você se cadastrar em sites como Airbnb, Cama e Café e Rio […]
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Ter uma renda extra sem burocracia e conhecer pessoas e culturas diferentes sem sair da própria cidade. Esses são dois dos principais motivos que vem levando os brasileiros a receber, cada vez mais, turistas em suas próprias casas.
A ideia é simples, basta você se cadastrar em sites como Airbnb, Cama e Café e Rio Temporada, que funcionam como uma vitrine para os turistas.
Nos sites, são apresentados dados como se você está alugando apenas um cômodo da sua casa ou o imóvel inteiro, área do local, detalhes do bairro, valores e até um perfil do proprietário.
Os proprietários no Brasil costumam ser jovens com um quarto extra em casa, solteiros vivendo em uma casa grande ou pessoas que podem morar em outro local quando alugam o próprio imóvel.
Conheça algumas histórias:
Wolfgang Menke, empresário
“Eu sempre quis alugar um quarto aqui do nosso apartamento (na zona oeste de São Paulo), mas fui adiando. Até que uma amiga me escreveu perguntando se eu podia hospedar um amigo dela americano.
Trocando e-mails com ele, ele disse que queria pagar. Achei esquisito e fiz uma proposta: ele me traria dos Estados Unidos um aspirador de pó robô – para limpar os pêlos do meu gato – em troca da estadia. Deu certo pra mim, que ganhei um aspirador que valia mais de R$ 3 mil aqui, e pra ele, que pagou US$ 400 pelo aparelho – e pelos 3 meses de hospedagem.
A partir daí tomei gosto. Tanto esse americano quanto outros turistas que recebi depois viraram meus amigos até, já os encontrei em viagens que fiz.
Acho esse sistema de hospedagem ótimo, ainda mais em São Paulo, uma cidade que a princípio não é “friendly” (acolhedora), mas as pessoas são – e muito.
Se eu quisesse manter a casa com hóspedes sempre, poderia me render mais de R$ 5 mil. A grana que eu recebo com esse aluguel paga as contas básicas da casa. Meu apartamento é alugado, mas pedi para tirar do contrato a cláusula que proibia sublocação, então, não tenho nenhum risco jurídico também.
A única experiência ruim que eu tive até agora foi a de duas americanas, que faziam muita bagunça, largavam tudo espalhado, saíam de toalha do banheiro… De resto, foi tudo ótimo.
Quando começamos, muita gente falava: “Vocês são loucos?” Meus sogros ficaram chocados com a ideia. Mas depois eles até conheceram alguns dos estrangeiros e entenderam como era uma experiência legal.
Também já usei o site nas minhas viagens. Na última, ficamos em casas alugas na Turquia e na Croácia.
Eu queria viajar três vezes por ano, mas como não dá, receber as pessoas aqui é uma jeito de fazer isso, conhecer gente, entrar em contato com ideias novas. E essa experiência no último ano me influenciou muito. Vendo outros sistemas economicamente viáveis, resolvi até sair da agência onde trabalhava e abrir meu próprio negócio, um local de co-working, aqui do lado de casa.”
Lucas Kanyó, arquiteto
“Fui passar o Natal de 2012 no Rio e resolvi testar esse esquema. Aluguei meu apartamento, que fica no Jardins (zona oeste de São Paulo), para um grupo de russas.
Desde então, já recebi mais de 40 pessoas. A maioria era de estrangeiros, mas também muitos brasileiros, especialmente do Rio, alguns de Natal, pessoas que vêm passear aqui em São Paulo. Prefiro alugar o imóvel inteiro, fico na casa do meu namorado quando há hóspedes.
Olha, já tive, sim, uma experiência bem ruim. Um grupo de americanos de origem chinesa se hospedou aqui e só me arranjou confusão. O pior de tudo foi uma festa que deram aqui, trouxeram inclusive prostitutas. Levei uma multa do condomínio e o pessoal do prédio tentou até me proibir de alugar o apartamento nesse esquema.
Mas eu foi meio inocente. Era a primeira vez que esses americanos usavam o site para alugar um imóvel, por exemplo. Serviu para aprender. Hoje, estou muito mais esperto para ver quem quer alugar, ampliei as regras também. Hoje os hóspedes precisam deixar o nome da portaria e ninguém além deles pode subir no apartamento.
Nunca gostei muito de hotel. Ficando com as pessoas, me sinto mais parte daquele lugar. Usei o site pra me hospedar na França, por exemplo, fiquei em um quarto de família em Paris, em uma casinha perto de Bordeaux e em um apartamento em Lion. Foi perfeito.
A busca pelo meu apartamento para o período da Copa está insana. Já tive muita procura, desde o início do ano. Já aluguei alguns dias do período, mas procurei não subir muito o valor, como muita gente está fazendo. Não acho certo. Normalmente alugo por uma média de R$ 360 reais a diária do apartamento, que é para 4 pessoas. E, na Copa, estou fazendo por R$ 500.
Venho usando o que estou ganhando com esse tipo de aluguel para pagar algumas dívidas. Está sendo ótimo. Só acho que o site precisa de uns ajustes, como um atendimento mais simples, em português.
Mas vale muito a pena. Para quem tem um imóvel, acho um ótimo investimento alugá-lo nesse esquema. Venho recomendando muito até para os meus clientes do escritório.”
Patrícia Barcala, artesã
Eu alugo meu apartamento aqui em Santa Teresa há seis anos, pelo site Cama&Café [pioneiro no ramo no Rio]. Resolvi embarcar nessa logo que me mudei. Uma casa grande, moro sozinha, é perfeito para isso.
A grande maioria dos hóspedes é de estrangeiros. Eles adoram o clima simpático do bairro, a vista para o Cristo Redentor. Acho que os brasileiros não gostam tanto, porque fica perto do morro, da favela.
Eu acabo ficando amiga dos turistas que recebo. Não tem como ser diferente. Esse é o jeito brasileiro de receber. Às vezes vou jantar com eles, vou pra praia.
Como trabalho de casa, produzindo roupas e joias, fico ajudando o tempo todo, sou meio guia deles. Meus últimos hóspedes foram finlandeses, um casal. Fiquei preocupada porque eles já eram avós. Será que iam aguentar?
Também sirvo um bom café da manhã, bem brasileiro. Muita fruta – principalmente banana, manga, mamão, caju – e também queijo minas. Alguns dizem que costumam comer outras coisas no país de origem. Mas eu nem dou tempo de reclamar. Digo: “Agora você está no Brasil, tem que experimentar”.
Em todos esses anos, me lembro de apenas uma experiência ruim. Um casal americano com um bebê de 1 ano e 8 meses. O pai veio aprender a tocar pandeiro no Rio e a mulher e o filho vieram juntos. Mas a mulher não entrou no fuso do Brasil. Ficava acordada de madrugada, ligava o liquidificador quando eu estava dormindo. Ficaram um mês. Quando foram embora, eu dançava pela casa.
A procura em Santa Teresa por aluguel de temporada está grande. Tudo por aqui está virando pousada. Minha mãe não gosta que eu alugue os quartos, tem medo. Mas vou continuar, ainda mais agora com a Copa.
Além de fazer amigos, alguns hóspedes costumam voltar aqui para casa, o valor que eu recebo não resolve minha vida, mas ajuda bastante.
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