A cada mês, os 1.360 ônibus que integram a frota operante do sistema de transporte coletivo de Curitiba rodam vazios 702 mil quilômetros, no trajeto entre a garagem e o ponto inicial ou final das linhas. Segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE), essa distância ociosa – chamada de “quilometragem morta” – corresponde a 8,5% do que os veículos percorrem mensalmente e está acima dos 6% permitidos por lei municipal e estabelecidos no edital de licitação. A simples adequação implicaria em uma redução de pelo menos R$ 0,05 no da passagem, de acordo com cálculos da CPI do Transporte Coletivo.

Em média, os ônibus percorrem juntos, mensalmente, 219 mil quilômetros além do que poderiam, em quilometragem morta. Ao fim de um ano, cada ônibus da frota terá rodado de forma ociosa, em média, 1,9 mil quilômetros a mais do que o permitido. Para a CPI, esse desperdício pode ser traduzido em cifras: R$ 1,307 milhão por mês, que acabam pagos por quem usa o transporte coletivo. No ano, mais de R$ 15,6 milhões.

“Esse gasto desperdiçado vem diluído como custo no sistema. As empresas não têm prejuízos, porque os custos são pagos de forma efetiva pela planilha”, afirma o vereador Bruno Pessuti (PSC), relator da CPI do Transporte.

De acordo com o parlamentar, do R$ 1,307 milhão consumido em quilometragem morta além do permitido, R$ 470 mil se referem aos custos dependentes – combustível, lubrificante e pneus, gastos no percurso adicional. Outros R$ 836,6 mil se referem a gastos de pessoal e dependentes, como salários de motoristas durante o trajeto ocioso extra.

Fora da rota

Para especialistas consultados pela Gazeta do Povo, o excesso de quilometragem morta do sistema revela a falta de planejamento dos consórcios e da própria Urbanização Curitiba S/A (Urbs), que administra o transporte coletivo na capital. “É um exagero. Os ônibus estão rodando vazios mais de 40% além do que determina a lei”, indica o economista Fábio Tadeu Araújo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Basta olhar o mapa para notar que algumas garagens estão muito distantes da área de operação das empresas, gerando as distorções. O estacionamento da Viação Tamandaré, por exemplo, fica em Almirante Tamandaré, apesar de a empresa operar no Lote 3, na região sul e leste de Curitiba. A Expresso Azul cobre parte da região Oeste, mas tem sua garagem em Pinhais, no extremo oposto.

“Você tem um impacto na tarifa, porque aumenta a quilometragem que os ônibus rodam. À medida que as garagens estão mais longe, há um acréscimo cada vez maior. Isso acaba se tornando um peso dentro do sistema”, avalia o professor Lafaiete Neves, doutor em Economia e pesquisador de transporte público.

Relatório do TCE questionou a localização das garagens

No relatório de do transporte coletivo, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) chamou a atenção para a necessidade de instalação de novas garagens, próximas das linhas onde os consórcios operam, o que minimizaria a quilometragem morta. O Tribunal lembra que, no contrato, as empresas firmaram declaração se comprometendo a adequar as garagens, de forma a permitir que o índice fique abaixo dos 6%, conforme determina a lei.

O TCE observou que “as empresas estão operando de modo ineficiente, com quilometragens elevadas de entrada e recolhida às garagens [quilometragem morta], impactando em vários outros itens da planilha tarifária”.

O órgão recomendou à Urbanização Curitiba S/A (Urbs) que acompanhe sistematicamente os locais indicados pelas empresas como garagens e pátios de estacionamento dos veículos, “para que identifique discrepâncias e aplique medidas corretivas com o objetivo de redução do percentual e consequente repasse dessa diminuição à tarifa”.

A Urbs disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que entende que não houve descumprimento no edital, porque as empresas que operam no sistema já tinham garagens próprias.