Polêmico acampamento secreto reúne poderosos nos EUA
Como em todos os meses de julho há mais de um século, alguns dos homens mais ricos e influentes dos Estados Unidos estão reunidos no acampamento Bohemian Grove, perto da cidade de Monte Rio, no norte da Califórnia. O encontro, que é fechado à imprensa, dura duas semanas e é o ponto alto do ano […]
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Como em todos os meses de julho há mais de um século, alguns dos homens mais ricos e influentes dos Estados Unidos estão reunidos no acampamento Bohemian Grove, perto da cidade de Monte Rio, no norte da Califórnia.
O encontro, que é fechado à imprensa, dura duas semanas e é o ponto alto do ano para os integrantes do Bohemian Club, uma instituição privada para homens fundada em São Francisco, em 1872.
Entre os integrantes há intelectuais, vários ex-presidentes dos Estados Unidos e influentes senadores, deputados, acadêmicos e altos executivos das maiores empresas e instituições financeiras do país.
Acredita-se que o Projeto Manhattan, que levou à criação da bomba atômica, tomou forma no Bohemian Grove, durante uma reunião em 1942.
De acordo com o porta-voz do clube, Alex Singer, o evento é apenas uma reunião em que os sócios e seus convidados – entre os quais, como em todos os anos, figuras de destaque internacional – desfrutam da natureza e de uma série de atividades culturais que incluem concertos, peças de teatro, recitais e palestras sobre assuntos da atualidade.
Mas o forte esquema de segurança e sigilo vêm tornando o encontro alvo de protestos de muitos grupos de ativistas, que questionam a legitimidade do Bohemian Grove por reunir funcionários do governo e representantes do mundo corporativo a portas fechadas.
O acampamento também tem gerado uma série de teorias da conspiração (algumas mais prováveis do que as outras) que asseguram que os “bohos”, como são chamados os sócios do clube, trabalham para estabelecer uma nova ordem mundial e celebram rituais pagãos com conotações satânicas.
Origens e características
Peter Phillips, professor de sociologia política da Universidade de Sonoma, na Califórnia, pesquisa as atividades do Bohemian Club há mais de 20 anos. Para sua tese de doutorado entrevistou muitos de seus membros, e acabou convidado a passar vários dias no acampamento de verão do grupo.
Ele explica que a confraria tem entre 2.500 e 3 mil sócios (embora o número exato e os nomes dos integrantes do clube nunca tenham sido divulgados). A lista de espera pode durar entre 15 e 20 anos, e não é de se surpreender que tornar-se um “boho” tenha seu preço: entrar no seleto grupo custa nada mais nada menos do que US$ 25 mil (R$ 56 mil).
Fundado por um grupo de jornalistas, artistas e músicos, o Bohemian Club começou a aceitar empresários e homens de negócios com o passar do tempo para financiar suas atividades culturais.
O especialista diz que atualmente o clube conta com os 200 maiores doadores do Partido Republicano e diretores das cem maiores empresas americanas.
Figuras de destaque já passaram pela confraria, entre eles os escritores Mark Twain e Jack London, os multimilionários William Randolph Hearst e David Rockefeller e políticos conservadores de reputação nacional, como Dwight Eisenhower, Ronald Reagan, Henry Kissinger, George Bush e seu filho George W. Bush, Dick Cheney e Donald Rumsfeld.
Neste ano, a lista inclui nomes como o ex-general do Exército americano Stanley McChristal, o famoso comediante Conan O’Brien, o presidente da Universidade de Stanford, John Hennessey, o ex-presidente da Intel, Paul Otellini, e o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga.
Curiosidades e polêmicasPhillips diz que os participantes dividem-se em cerca de 120 acampamentos, que vão desde chalés com bastante conforto até alojamentos mais simples, com banheiros e chuveiros compartilhados.
Em meio à floresta, as instalações contam ainda com três teatros ao ar livre, um restaurante, um pequeno museu de história natural e mais de cem pianos.
O clima é de festa e há muita bebida o tempo todo, conta o estudioso, relembrando outro aspecto essencial do evento: a preferência de seus sócios por urinar ao air livre, nas árvores, constantemente.
Há polêmica em torno de uma das tradições do grupo, chamada “Queima das Preocupações”. O ritual ocorre no primeiro fim de semana do acampamento, quando um grupo de homens segurando tochas e vestidos com togas e com as cabeças cobertas coloca fogo em uma efígie coberta por um manto diante de uma estátua de uma coruja com mais de 12 metros de altura.
O ritual foi gravado pelo jornalista americano Alex Jones, um dos principais críticos do evento.
Relatos de funcionários do acampamento apontam ainda que muitos de seus participantes, a maioria homens de meia idade, brancos e de classe média alta, gostam de se disfarçar de mulher – sobretudo para representar papéis femininos nos espetáculos, já que só homens podem participar da confraria.
Decisões
A ativista californiana Mary Moore vem liderando protestos contra o evento há mais de 30 anos. Para ela, o problema mais grave é que algumas das ideias que circulam durante o acampamento acabam convertendo-se em políticas reais.
“Em 1981, ao analisar a lista de sócios e convidados, nos demos conta de que os principais membros da indústria militar estavam lá (…) E foi neste ano que o secretário da Defesa do presidente Ronald Reagan, Caspar Weinberger, deu a palestra intitulada ‘Rearmando os EUA’ (…) Pouco depois o governo Reagan lançou a Iniciativa de Defesa Estratégica que desencadeou uma carreira armamentista”, diz.
“O que se faz no Grove é se embebedar, mas é óbvio que também são feitos negócios e política. Estamos usando o Grove como um exemplo. O que queremos é que as pessoas se deem conta de como funciona o mundo da política e das altas finanças. Que vejam como o que é discutido a portas fechadas afeta a todos”, acrescenta Moore.
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