Paul McCartney faz show de quase 3 horas e comove fãs com canções raras

Harold deu um salto violento. Um voo que o tirou do gramado do Estádio Serra Dourada e o levou em curvas e zigue-zagues até o ombro de Paul McCartney. Gafanhoto esperto, aguardou a grandiosa balada “The Long And Winding Road” começar para entrar em cena e se destacar em meio à família de grilos voadores […]

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Harold deu um salto violento. Um voo que o tirou do gramado do Estádio Serra Dourada e o levou em curvas e zigue-zagues até o ombro de Paul McCartney. Gafanhoto esperto, aguardou a grandiosa balada “The Long And Winding Road” começar para entrar em cena e se destacar em meio à família de grilos voadores que bailavam em torno do beatle. Deu certo. As 42 mil pessoas da plateia o viram no telão, no ombro de Paul McCartney, e Harold viveu seu dia de John Lennon.

Se em 20 anos perguntarem a Paul o que ele achou de sua passagem por Goiânia em 2013, ele dirá: “Ah, a noite dos gafanhotos!” Paul, que deve viver de tudo nas turnês que emenda há quatro anos, sempre com passagens pelo Brasil, ainda não havia cantado para o corpo de baile verde que o rodeou na noite de segunda. Os grilos deram rasantes em seus cabelos, pousaram na correia de seu baixo, brincaram na mesa de seu piano. Em “My Valentine”, Paul chegou a parar de cantar para estapear o vento. Imóvel, Harold foi batizado assim pelo besouro mais pop do planeta antes de “Hope of Deliverance”. “Diga oi, Harold.”

O beatle e os gafanhotos fizeram história dentro de uma história que parece não ter fim. Aos 70 anos, Paul McCartney explora palcos que poucos artistas com mais de R$ 2 milhões na conta ousam pisar por temerem a infraestrutura regional ou por simplesmente sentirem que não precisam mais se expor. Depois de Belo Horizonte e Goiânia, Paul aterrissa em Fortaleza. Apesar de seu extrato acusar um saldo positivo de US$ 1 bilhão, mais de 2 bilhões de reais, ele segue na pista de baile. Em Goiás, na sensação térmica de 45 graus do cerrado, não houve refresco: Paul chegou em seu jato particular às 17 h, seguiu direto para o estádio, fez 40 minutos de uma passagem de som que já se tornou um pocket show e descansou no camarim atrás do palco para que, às 21h33, com um inusual atraso de 33 minutos, ele começasse um show de duas horas e quarenta minutos de duração sem tomar uma única gota de água. Afinal, por que Paul faz isso?

Mais: Paul, o Roberto Carlos elevado à 20ª potência em escala mundial, poderia se ancorar em um repertório estático, como faz o rei latino. A imprensa que o ama não lhe cobraria nada por isso e seus cerca de R$ 5 milhões de cachê seriam o mesmo. Mas, como um justiceiro, alguém que parece querer que o mundo ouça aos poucos tudo o que os Beatles fizeram em estúdio mas que jamais tocaram para plateias, ele volta com canções que nunca havia mostrado. Algumas – como “Your Mother Should Know”, de “Magical Mystery Tour” (1967); “All Together Now”, de “Yellow Submarine” (1968); e “Being for the Benefit of Mr. Kite!” e “Lovely Rita”, de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967) – foram tocadas em show pela segunda vez. A primeira havia sido em Belo Horizonte, no último sábado. Mas afinal, por que Paul faz isso?

Um olhar atento ao palco e algumas suposições podem tentar explicar a longevidade de uma carreira que segue produtiva. Paul tem nas mãos 18 músicas que devem estar em um disco inédito a ser lançado até o final do ano. Algo que também não seria nada se não houvesse o fator diversão. “Os olhos dele ainda brilham quando está em cena”, diz Marco Antonio Mallagoli, presidente do fã clube Revolution. Só diversão ainda seria pouco para explicar o fenômeno. A vida de Paul, privada em 90% das maravilhosas simplicidades da vida comum, como levar o filho para tomar um sorvete na praça, só faz sentido se ele continuar sendo alguém capaz de fazer até os gafanhotos dançarem.

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