O Brasil “não era o alvo prioritário” da França para a venda de seus caças Rafale, declarou nesta quinta-feira o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, ao comentar a escolha dos aviões Gripen, da sueca Saab, para renovar a frota da Força Aérea Brasileira.

“Isso pode decepcionar os brasileiros, mas o Brasil não era o alvo prioritário do Rafale. Nós temos outras possibilidades de negócios mais importantes, como a Índia e os países do Golfo”, disse Drian nesta manhã.

O governo indiano negocia desde 2012 com a Dassault, fabricante do Rafale, a compra de 126 caças (número que pode subir a 189), um negócio estimado em 13 bilhões de euros (cerca de R$ 42 bilhões) e que também prevê transferência de tecnologia.

O ministro afirmou ainda que “há vários anos o governo francês e a Dassault explicam aos brasileiros que o Rafale é um avião de altíssima tecnologia que poderia corresponder às necessidades do Brasil”.

“Os brasileiros decidiram de outra forma, é a responsabilidade deles”, disse Drian, acrescentando que a escolha do Gripen sueco em detrimento do Rafale é uma “decisão soberana do Brasil”.

‘Parceria’

Ele afirmou que a França possui “uma parceria muito importante na área de defesa com o Brasil, tão importante em termos financeiros quanto o Rafale”.

O ministro francês se referiu à construção da base naval em Itaguaí, no Rio de Janeiro, e de quatro submarinos convencionais, além de um submarino a propulsão nuclear, que representam um negócio de mais de 6 bilhões de euros, além de uma “boa colaboração” na construção dos helicópteros franceses Caracal.

No ano passado, a francesa Dassault também já havia perdido para a sueca Saab, fabricante do Gripen-NG, um contrato com a Suíça para a compra de 22 aviões.

O presidente francês, François Hollande, também minimizou a derrota do Rafale na licitação da Força Aérea Brasileira para a compra de 36 caças.

Hollande, que esteve no Brasil na semana passada, disse que já “esperava há vários meses” o fracasso da venda do Rafale para o país.

“O Brasil queria um avião menos sofisticado, portanto mais barato, que não precisava necessariamente ser entregue imediatamente. A partir disso, o Rafale não poderia estar bem classificado, apesar de ser um excelente avião”, disse o presidente.

O caça, utilizado pelas Forças Armadas da França em diversas operações de combate, nunca foi exportado.

Segundo a imprensa francesa, ele é chamado na França, por autoridades e especialistas, como o “melhor avião do mundo”, mas sua venda continua sendo dificultada pelo seu preço, decorrente de seu alto nível de sofisticação.

‘Última esperança’O deputado Olivier Dassault, herdeiro do grupo industrial e membro do conselho de administração da empresa, afirmou que o Rafale é mais caro do que o Gripen porque o caça francês “é quatro vezes melhor” do que o concorrente.

“A qualidade tem preço”, disse Dassault em entrevista à TV francesa LCI.

Em comunicado divulgado na noite de quarta-feira, após o anúncio do governo brasileiro, o grupo Dassault afirmou “lamentar que a escolha tenha sido o Gripen, dotado de inúmeros equipamentos com origem terceira, sobretudo americana”.

O caça sueco, diz o comunicado, “não pertence à mesma categoria do Rafale: monomotor e mais leve, o Gripen não é equivalente em termos de performance e, por consequência, de preço. Essa lógica financeira não leva em conta nem a relação custo-eficiência favorável ao Rafale nem o nível de tecnologia oferecida”.

Já o ministro Alain Vidalies, das relações com o Parlamento, reconheceu a decepção com a derrota do Rafale e afirmou que isso representa uma “má notícia para a França”.

Ele afirma que a lei de planejamento militar prevê a venda de um certo número de aviões Rafale para garantir o equilíbrio financeiro desse programa industrial.

A França, por razões de restrições orçamentárias, reduziu o volume de encomendas de aviões Rafale internamente, o que torna a exportação desses aviões ainda mais importante.

A imprensa francesa afirmou nesta quinta-feira que a Índia se tornou a “última esperança para o Rafale”.