Operário da Arena Corinthians: ‘Todo mundo sabia que ia cair!’

Um funcionário de uma das empresas terceirizadas contratadas pela Odebrecht, que pede para não ser identificado, apontou falhas na segurança e erro de procedimento no dia da tragédia. O depoimento foi dado ao repórter Bruno Uliana, do Lance! Confira: “Eu estava lá na obra, trabalhando, mas em horário de almoço. Estávamos descendo do prédio leste […]

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Um funcionário de uma das empresas terceirizadas contratadas pela Odebrecht, que pede para não ser identificado, apontou falhas na segurança e erro de procedimento no dia da tragédia. O depoimento foi dado ao repórter Bruno Uliana, do Lance! Confira:

“Eu estava lá na obra, trabalhando, mas em horário de almoço. Estávamos descendo do prédio leste para almoçar e ouvimos um barulho muito forte, chegou a tremer o chão. Um pessoal caiu. Parecia que tinha caído uma bomba. Quando saímos, olhamos para o lado direito, vimos aquela fumaça e a peça no estádio. Na hora, já olhamos o caminhão do Fábio todo amassado, veio a correria, barulho de sirene…

O estranho é que, quando levantaram a mesma peça no lado norte, cortaram no meio. Subiram uma parte de cada vez. E quando subiram a segunda parte, uma equipe de soldadores as uniram lá em cima. Mas no leste tentaram subir a peça inteira. Acho que por pressa mesmo. A Odebrecht pressiona, acelera todo mundo, dizendo que tem de entregar tudo logo. A minha empresa, que presta serviços, duplicou o efetivo nos últimos dias.

Todo mundo sabia que ia cair. Todos que sabem como funciona aquilo, via que não ia aguentar. Quando subiram a peça do outro lado, tinha o guindaste grande e mais dois pequenos subindo. E foi dividida ao meio. Desta vez, colocaram só o grande para levantar a peça inteira. Para compensar, dobraram o contrapeso. Normalmente são 12 de cada lado, desta vez 24.

Já tínhamos medo. Esse guindaste, quando se mexe, abre um buraco de quase um metro. Aí jogam pedra pra não afundar, mas afundou. Fábio almoçava, voltava e dormia na cabine do caminhão. Naquele dia, almoçou um pouco antes para dormir mais. O pessoal da segurança falhou. Quando se sobe aquela peça, tem de isolar a área. Deixaram o caminhão ficar embaixo. Ele estava descarregando cadeiras, não tinha por que estar ali.”

O que disse e diz a Odebrecht

Em 13 de novembro, a Odebrecht divulgou nota sobre o módulo de 420 toneladas que havia sido içado no prédio sul. Informou que “a última peça sobre o prédio norte, exatamente igual, será colocada daqui a cerca de 15 dias. As coberturas dos edifícios oeste e leste já estão praticamente prontas, restando os serviços de aplicação do forro.” Foi essa a peça que desabou na quarta-feira.

Ontem, a construtora reafirmou que “no momento da operação do guindaste, a área de ação estava isolada, seguindo os procedimentos padrões de segurança, e só os trabalhadores que participavam do trabalho específico tinham permissão para permanecer. Essa equipe era composta por 28 trabalhadores, todos eles treinados para procedimentos de emergência, o que com certeza contribuiu para evitar que o acidente tivesse maiores proporções.”

A empresa diz que o funcionário mente e que tem as imagens documentadas.

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