Número de mortos de desmoronamento em Bangladesh passa de 600

Já passam de 600 o número de corpos retirados dos escombros do prédio de oito andares que desabou no dia 24 de abril em Bangladesh, informou a polícia local neste domingo. Além de lojas, funcionavam no local cinco confecções de roupas. Os policiais disseram que 610 corpos foram recuperados, mais de 200 deles desde quarta-feira, […]

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Já passam de 600 o número de corpos retirados dos escombros do prédio de oito andares que desabou no dia 24 de abril em Bangladesh, informou a polícia local neste domingo. Além de lojas, funcionavam no local cinco confecções de roupas. Os policiais disseram que 610 corpos foram recuperados, mais de 200 deles desde quarta-feira, quando as autoridades afirmaram que apenas 149 pessoas estavam desaparecidas.

O cheiro de corpos em decomposição permanece em meio aos escombros e ninguém sabe quantas vítimas ainda podem ser encontradas no local. O desastre deve se transformar no pior acidente da indústria de confecções já ocorrido, superando de longe o incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, que matou 146 trabalhadores em 1911, e tragédias mais recentes, como o incêndio em 2012 que matou 260 pessoas no Paquistão e um em Bangladesh, também no ano passado, que fez 112 vítimas fatais

Masood Reza, arquiteto da Vastukalpa Consultants (empresa que fez o projeto do prédio), disse neste domingo que ele não foi erguido para abrigar pesados equipamentos industriais, muito menos os três andares que foram construídos posteriormente de forma ilegal. Os equipamentos usados pelas cinco confecções instaladas no Rana Plaza incluíam enorme geradores que foram ligados pouco antes do desabamento.

O arquiteto disse que o prédio foi projetado em 2004 como um shopping center e não para propósitos industriais. “Nós projetamos o prédio para ter três pisos com lojas e dois de escritórios. Não sei como os pisos adicionais foram acrescentados e como as fábricas receberam permissão para ocupar os andares mais altos”, declarou Reza.

Condições de trabalho

Após divulgação do número de corpos encontrados, o Comissário do Comércio da União Europeia, Karel de Gucht, criticou as condições de trabalho em Bangladesh, chamando-as de “escravidão moderna” e alertou que a UE vai considerar suspender o livre acesso do país ao mercado do bloco se providências não forem tomadas. Gucht disse à imprensa neste domingo que as condições de trabalho de alguns em Bangladesh são “completamente inaceitáveis”. “Agora vemos que essas pessoas estão virtualmente sem salários e, acima de tudo, tendo que trabalhar em condições de higiene e segurança completamente inaceitáveis”, afirmou.

A UE já emitiu um comunicado dizendo que considera agir sobre a questão e Gucht afirmou que irá se reunir nas próximas semanas com clientes europeus e norte-americanos das fábricas de Bangladesh para desenvolver um “código de conduta”. “Eles não podem dizer que estão cegos ao que está ocorrendo”, disse o comissário. A indústria de confecção de Bangladesh fornece para varejistas de todo o mundo e é responsável por cerca de 80% das exportações do país. O acidente levantou fortes dúvidas sobre as afirmações dessas empresas de que podem assegurar condições seguras para os trabalhadores que fabricam suas roupas por meio da autorregulação.

O desastre do último dia 24 foi o mais recente a atingir Bangladesh nos últimos anos, com centenas de outros trabalhadores morrendo em outros incidentes semelhantes. O governo do país havia prometido tornar a indústria de confecção mais segura, após o incêndio numa fábrica de roupas ter matado 112 pessoas em novembro de 2012. Foram prometidas inspeções de segurança nas confecções e o confisco das licenças das que não apresentassem boas condições, mas o projeto ainda tem de ser implementado.

Bangladesh é popular no ramo principalmente por causa da mão-de-obra barata. O salário mínimo de um trabalhador numa confecção é de US$ 38 por mês, depois de ter quase dobrado neste ano após violentos protestos dos trabalhadores. Segundo o Banco Mundial, a rende per capita em Bangladesh era de cerca de US$ 64 por mês em 2011.

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