Morre em SP homem torturado pela ditadura quando tinha 1 ano

Morreu no último sábado, em São Paulo, uma das mais icônicas vítimas da ditadura militar no Brasil. Carlos Alexandre Azevedo, torturado no Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops) paulista quando tinha apenas 1 ano e 8 meses, em 1974, era filho do jornalista Dermi Azevedo, militante e um dos fundadores do Movimento Nacional […]

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Morreu no último sábado, em São Paulo, uma das mais icônicas vítimas da ditadura militar no Brasil. Carlos Alexandre Azevedo, torturado no Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops) paulista quando tinha apenas 1 ano e 8 meses, em 1974, era filho do jornalista Dermi Azevedo, militante e um dos fundadores do Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MDNH). Pelo Facebook, o pai de Carlos Alexandre afirmou que seu filho tirou a própria vida por não suportar o trauma vivido na infância.

No dia 14 de janeiro de 1974, Carlos Alexandre e sua mãe foram levados à sede do Deops de São Paulo, onde Dermi estava preso. “Cacá, como carinhosamente o chamávamos, foi levado depois a São Bernardo do Campo, onde, em plena madrugada, os policiais derrubaram a porta e o jogaram no chão, tendo machucado a cabeça. Nunca mais se recuperou. Como acontece com os crimes da ditadura de 1964-1985, o crime ficou impune. O suicídio é o limite de sua angústia”, disse o pai em seu perfil na rede social.

Segundo Dermi, Carlos Alexandre ficou com sequelas após a tortura. “Ele passou a ter quase uma paranoia, adquiriu um transtorno psicológico que os psiquiatras chamam de fobia social”, afirmou, em entrevista ao Terra. Devido a seu quadro clínico, o filho do jornalista era submetido a tratamentos com antidepressivos e antipsicóticos. No último sábado, uma overdose dos medicamentos pôs fim à vida de Carlos Alexandre.

“Eu considero que o meu filho foi suicidado, e não se suicidou. Ele foi tão maltratado pela ditadura que acabou tirando a própria vida”, afirmou Dermi Azevedo. “O caso do meu filho é escandaloso pelo fato de que, com apenas 1 ano e 8 meses, ele ter sido levado preso comigo e com a mãe dele, e ter sido submetido às mesmas torturas que nós passamos”, relatou.

No Facebook, Dermi pediu orações a seu filho e à família, para que “a sua/nossa dor seja aliviada”. “Tenho certeza de que Cacá encontra-se no paraíso, onde foi acolhido por Deus. O Senhor já deve ter-lhe confiado a tarefa de consertar alguns computadores do escritório do céu e certamente o agradecerá pela qualidade do serviço. Meu filhinho, você sofreu muito. Só Deus pode copiosamente banhar-te com a água purificadora da vida eterna.”

Em nota, o MNDH emitiu nota de solidariedade à família de Dermi Azevedo. “Hoje a ditadura militar concluiu a morte de Carlos, iniciada em tão tenra idade. Este acontecimento entristece a todos nós profundamente e fortalece nosso empenho na luta por memória, verdade e justiça, de forma que a impunidade não continue se perpetuando”, diz o texto.

Em janeiro de 2010, Carlos Alexandre foi declarado “anistiado político”, tendo direito a uma indenização de R$ 100 mil. Naquele ano, em entrevista à revista IstoÉ, ele relatou o drama vivido desde a tortura sofrida. “A indenização não vai apagar nada do que aconteceu na minha vida. Mas a anistia é o reconhecimento oficial de que o Estado falhou comigo. Para mim, a ditadura não acabou. Até hoje sofro os seus efeitos. Tomo antidepressivo e antipsicótico. Tenho fobia social.”

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