O ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, avaliou hoje (27) que os protestos que tomaram o país nos últimos dias podem estar refletindo mais uma insatisfação da “velha nova classe média” do que dos pobres com os serviços públicos.

“Uma possibilidade é que essa nova classe média seja a ‘velha nova classe média’. Ela vem ascendendo há dez anos, são 40 milhões de pessoas que, talvez, queiram outras coisas além do ganho de renda e do trabalho, como educação de qualidade e de saúde”, disse o ministro.

Segundo Neri, os avanços da última década aceleraram a queda da desigualdade. A renda dos brasileiros 10% mais pobres, por exemplo, cresceu 550% mais rápido que a dos 10% mais ricos. Já o rendimento de uma família chefiada por analfabeto subiu 88,6%, no período. “Não está claro quem são [os manifestantes], mas suspeito que não seja mulher negra de periferia”, disse.

Na avaliação dele, a melhora das condições de vida da parcela mais pobre “pode ter gerado certo inconformismo em pessoas que se sentiram ficando para trás”. Porém, para ele, a insatisfação é contra os serviços públicos de educação e de saúde, públicos e privados, de maneira geral, pois na última década houve ganhos individuais em todas as classes.

“As condições objetivas de vida dos brasileiros melhoraram, mas talvez, as aspirações dos brasileiros aumentaram mais do que o que foi entregue, gerando uma insatisfação com o sistema e menos contra o que as pessoas observam diretamente em suas vidas”, disse Neri.

Apesar dos avanços, no entanto, o ministro avalia que há espaço para avanço. “Esse é o lado positivo dos protestos, se levar a gente a investir mais e melhor em saúde e educação, saímos desses protesto muito melhor do que entramos”, concluiu Neri, que é economista.