Mamógrafo novo não utilizado do Hospital Universitário favorecia ‘máfia do câncer’
Cinco mamografias em 2012: com o custo de muitas vidas, o mesmo descaso da radioterapia pode ter se repetido com ‘benefício’ direto dos negócios de Adalberto Siufi no HC
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Cinco mamografias em 2012: com o custo de muitas vidas, o mesmo descaso da radioterapia pode ter se repetido com ‘benefício’ direto dos negócios de Adalberto Siufi no HC
De um lado, o Relatório de Gestão da UFMS 2012, finalizado em 11 de março deste ano, apontou que um mamógrafo novo, e sem uso adequado dentro do Hospital Universitário, realizou apenas 5 (cinco) atendimentos em 2012.
O exame detecta a presença de tumor no seio, e por isso, é fundamental para o combate precoce do câncer.
Do outro lado, uma auditória do Denasus, o Departamento Nacional de Auditorias do SUS, também do começo deste ano, afirmando que a “a maioria das pacientes com câncer de mama foram admitidas no Hospital do Câncer de Campo Grande com a doença já em estado avançado”. E mais, o fato “indica que as pacientes estão sendo diagnosticadas tardiamente”.
E no meio das duas ‘pontas’, o diretor-geral da Policia Federal no MS, Edgar Paulo Marcon, que dirigiu a Operação Sangue Frio, declarando que havia uma ‘máfia’ que desviava recurso do tratamento oncológico do SUS no estado.“É difícil crer que os órgãos municipais ou estaduais não funcionem e só os particulares, já que a mesma pessoa controlava os dois”, afirmou Marcon.
O ‘controlador’ citado pela PF é Adalberto Siufi, ex-presidente do HC, destituído há poucos dias. O ‘órgão’ que não funcionava era a oncologia do Hospital Universitário, que foi dirigida pelo mesmo médico até fechar as portas. O mesmo HU, que era dirigido por José Carlos Dorsa, exonerado ‘a pedido’, depois da operação da PF.
Os dois médicos são os principais suspeitos da “máfia” apontada por Marcon.
Na verdade, o mau uso do mamógrafo do HU pode estar relacionado com a mesma prática descrita em 2010, pelo então procurador dos Direitos do Cidadão, Felipe Fritz Braga, da Procuradoria Geral da República no MS, ao comentar o abandono da radioterapia do SUS.
“Houve conflito entre interesses privados e o interesse público, em prejuízo deste, uma vez que o chefe de fato do setor de oncologia do HU também era diretor da Fundação Carmem Prudente, e sócio administrador de estabelecimento privado prestador do serviço de radioterapia (Neorad)”. Braga referia-se a Siufi.
Os dois investigados pela PF, como ex-diretores de hospitais, sabem que o câncer de mama é o que mais mata mulheres vitimadas pela doença no país. Segundo os últimos dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), as estimativas para 2012 indicavam o aparecimento de novos 52.680 no Brasil.
No MS, até 2010, a cada mil mulheres, quatro morriam de câncer na mama.
Citando o MS em seus alertas,o INCA informou que “dados recentes do projeto-piloto de rastreamento do câncer de mama em municípios do estado de Mato Grosso do Sul mostraram 10,7% de mulheres na faixa etária de 40 a 69 anos com ECM alterados”. ECM se relaciona à metástase – a multiplicação de células cancerosas no organismo.
Além do mau funcionamento do mamógrafo e da radioterapia, Dorsa não quis receber no Hospital Universitário um acelerador linear de ponta, doado pelo governo federal, que iria para o HC. Só aceitou porque a Justiça o obrigou, depois da pressão de sindicalistas, usuários do SUS e o Ministério Público.
Mulheres eram encaminhadas para o HC
Enquanto o Relatório de Gestão da UFMS em 2012 traz uma revelação impressionante sobre o número de mamografias do HU, as mulheres portadoras da doença fatal no MS eram encaminhadas para o HC.
Veja os números do Hospital Universitário:
Em 2008 foram 0 (zero) mamografias; em 2009, também 0 (zero); em 2010 foram 343; o ano de 2011 teve 961 mamografias; e no ano passado o mamógrafo do HU funcionou apenas 5 vezes.
Mesmo no auge de 2011, a média de 2,6 exames ao dia é considerada baixa.
Enquanto isso, na Auditoria Nº 12965 do Denasus no Hospital do Câncer, a própria diretoria destituída descreveu os tratamentos fornecidos pelos médicos e empresas ligados a Siufi, e pagos pelo SUS, depois da entrada tardia das pacientes graves. Tratamento caro cobrado do SUS, quando pouco se podia fazer pra salvar vidas.
Segundo o SUS, as mulheres chegavam ao HC com adiantado ‘estadiamento’ da doença ou ‘metástase’, termos usados para frisar que o câncer já se espalhara pelo corpo da vítima. Veja:
N° 158560-Paciente admitida em 28/06/2010 com diagnóstico de câncer de mama já com exames de estadiamento. Foi operada uma semana após sua admissão, iniciou quimioterapia 23 dias após a cirurgia.
N° 165233-Paciente admitida em 14/12/2010 com tumor avançado de mama foram solicitados exames de estadiamento e iniciada a quimioterapia neo-adjuvante seis dias após a admissão, a paciente foi operada 21 após o termino da quimioterapia neo-adjuvante.
N° 146328-Paciente admitida em 03/09/2009 com diagnóstico de tumor avançado de mama foram solicitados exames de estadiamento e a mesma iniciou a quimioterapia neo-adjuvante em 04/09/2009, a paciente foi operada 21 dias após o termino da neo-adjuvante e prosseguiu o tratamento”.
N° 72021-Paciente foi admitida em 27/06/2008 já apresentava metástases pulmonares, sendo submetida à biopsia na mama no mesmo dia iniciou, quimioterapia paliativa em 29/06/2008 e prosseguiu tratamento.
São vários os casos citados na auditoria, mas o número total de mulheres que deram entrada no hospital nessas condições fatais é desconhecido. Depois que o câncer se alastra a partir da mama, 61% das mulheres têm até mais cinco ano de vida, segundo o INCA.
Os responsáveis pelas informações fornecidas sobre o HC aos auditores do Denasus foram Issamir Farias Saffar (diretor clínico) e Adalberto Abrão Siufi (diretor geral desde 1997).
Siufi e Saffar, donos da Neorad, caíram com as investigações da PF.
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