Incêndio mata 8 em Bangladesh; vítimas de desabamento chegam a 950

Um incêndio numa confecção em Bangladesh matou oito pessoas – dentre elas um graduado oficial da polícia, um político e um dirigente da indústria do vestuário – duas semanas após o desabamento de um prédio, onde o número de mortos chegou a 950 nesta quinta-feira.
Ao contrário do desastre no Rana Plaza, que parece ter acontecido por causa de problemas de construção e do não cumprimento das regras de segurança, a fábrica da Tung Hai Sweater parece atender às normas de construção.
O diretor-adjunto dos Bombeiros disse que as mortes ocorridas na noite de quarta-feira foram causadas pelo pânico e pelo azar. “Eles foram realmente infelizes”, declarou Mamun Mahmud.
O fogo se espalhou pelos pisos mais baixos do edifício de 11 andares ocupado pela fábrica. Os produtos feitos de acrílico produziram grandes quantidades de fumaça e gases tóxicos que fizeram com que as vítimas sufocassem ao descer pelas escadas, disse Mahmud.
Anteriormente, as autoridades disseram que o prédio também abrigada moradias, mas a informação foi corrigida.
Uma inspeção preliminar indicou que o prédio foi construído de forma apropriada, mas os bombeiros realizarão outras verificações, afirmou Mahmud. O edifício tinha duas escadarias na parte da frente e uma saída de emergência atrás. Segundo ele, as pessoas que estavam dentro do prédio provavelmente entraram em pânico quando viram a fumaça e correram para as escadarias frontais mas, se tivessem usado a escada de emergência, teriam sobrevivido.
“Aparentemente, elas tentaram fugir do prédio por meio das escadas por medo de que o fogo tomasse todo o prédio”, disse Mahmud. Elas também teriam sobrevivido se tivessem permanecido nos andares mais altos, afirmou ele.
O incêndio aconteceu apenas duas semanas após o desmoronamento do Rana Plaza, de oito andares, onde estavam instaladas cinco confecções. O desastre atraiu mais uma vez a atenção para as condições de trabalho na indústria de vestuário de Bangladesh, que fornece roupas para importantes varejistas de todo o mundo.
As identidades das vítimas do incêndio de quarta-feira mostram as relações entre a indústria e os políticos do país. Dentre os mortos está o diretor-gerente da fábrica, Mahbubur Rahman, que também fazia parte da diretoria da poderosa Associação de Fabricantes e Exportadores de Vestuário de Bangladesh, além de do graduado policial Z.A. Morshed e Sohel Mostafa Swapan, presidente do escritório local da juventude do partido governista.
Segundo a Independent TV, um canal local, Rahman pretendia se candidatar a uma cadeira no Parlamento nas eleições do ano que vem e reunia-se com amigos para discutir seu futuro quando o incêndio teve início.
As causas do incêndio ainda são desconhecidas. O fogo teve início logo depois de os funcionários terem encerrado o expediente e os bombeiros precisaram de três horas para controlar as chamas.
Mahmud acredita que o incêndio tenha começado na sessão onde as roupas são passadas.
A página do Facebook do Tung Hai Group diz que o grupo tem um total de 7 mil funcionários em suas duas fábricas e capacidade para produzir mais de 6 milhões de blusas, camisetas, calças e pijamas por mês. A empresa afirma ter negócios com as maiores varejistas da Europa e da América do Norte.
A poderosa indústria do vestuário de Bangladesh tem sido marcada por uma série de desastres nos últimos meses, dentre eles um incêndio em novembro na fábrica Tazreen, que matou 112 pessoas.
Mais de duas semanas depois do desabamento do prédio em Savar, equipes com guindastes e maquinário pesado ainda removem os escombros do edifício e encontram mais corpos. As autoridades informaram nesta quinta-feira que o número de mortos subiu para 950, mas ainda não se sabe quantas continuam desaparecidas. Mais de 2.500 pessoas foram resgatadas vivas após o acidente de 24 de abril.
Segundo o major Ohiduzzaman, oficial do Exército que usa apenas um nome, 100 corpos em decomposição são mantidos num necrotério improvisado, instalado numa escola e estão sendo enviados para hospitais, onde exames de DNA devem identificá-los. Até agora, 648 corpos foram entregues às famílias, disse ele. Alguns dos que não puderam ser identificados foram enterrados pelo governo.
Muhammad Yunus, vencedor do prêmio Nobel da Paz, disse em artigo publicado em jornais de Bangladesh nesta quinta-feira que a tragédia é um “símbolo de nosso fracasso como nação”.
“A rachadura no Rana Plaza que causou o desabamento do prédio nos mostra que se não enfrentarmos as rachaduras em nossos sistemas estatais, nós, como uma nação, nos perderemos nos escombros do desabamento”, disse ele, pedindo que o governo e os cidadãos trabalhem juntos para conquistar reformas.
Ele também pediu às marcas globais que não abandonem o país, dizendo que os trabalhadores das fábricas, que geralmente são subcontratados de famosas grifes, deveriam ser vistos como funcionários dessas companhias.
Uma delegação da União Europeia a Bangladesh pediu ao governo na quarta-feira que “aja imediatamente” para melhorar as condições de trabalho na indústria de confecção do país.
Abdul Latif Siddiqui, presidente do comitê especial de inspeção da indústria de vestuário, formado dias após o desabamento do Rana Plaza, disse que o governo fechou 18 confecções nos últimos dias por não cumprirem as normas de condições de trabalho e segurança. Ele não revelou, porém, se os fechamentos são temporários ou permanentes. As informações são da Associated Press.