Ao contrário de ocasiões anteriores, a crise do euro está em segundo plano no encontro do FMI e Banco Mundial. Em foco, a paralisação do governo americano e suas consequências para a economia mundial.

Na próxima semana, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, e Jens Weidmann, presidente do Deutsche Bundesbank, o banco central alemão, viajam para a conferência anual reunindo o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, realizada a partir de sexta-feira, em Washington.

Ambos certamente estarão mais relaxados do que em ocasiões anteriores. Pois, ao contrário de um ano atrás, a “batata quente” para os participantes de 188 nações não é a crise do euro e sim o conflito orçamentário nos Estados Unidos.

“A continuada insegurança em relação ao orçamento público e ao teto da dívida americana não é exatamente uma ajuda”, reconheceu a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, em discurso na Universidade George Washington.

“A paralisação administrativa do país, em si, já é bastante ruim. Mas caso Washington não consiga elevar a tempo o teto oficial da dívida nacional, a situação piora muito”, alertou. Segundo ela, isso não afetará apenas a economia dos EUA. “Isso coloca a economia global em sério risco”, advertiu Lagarde.

Cenário de pesadelo nos EUA

O atual limite de endividamento dos EUA beira os US$ 17 trilhões. Caso ele não seja flexibilizado em tempo hábil, a maior economia do mundo estará formalmente inadimplente. Como, a cada dia, as dívidas do país superam a receita em US$ 2 bilhões, é possível prever com bastante exatidão o “dia D”: 17 de outubro de 2013.

A partir daí, as previsões dos economistas constituem verdadeiros cenários de pesadelo. Os mercados financeiros internacionais poderiam entrar em colapso, as cotações do dólar e dos títulos públicos americanos bateriam no fundo do poço. As agências de classificação de risco teriam que automaticamente rebaixar o país para o último nível de rating, de moratória.

Nesse caso, o menor dos males seria os títulos públicos dos EUA não serem mais aceitos como garantia pelo Federal Reserve. Pois atualmente o banco central americano já aceita títulos podres como suposta garantia no contexto de uma política financeira “anticonvencional”. No entanto, os fundos de pensão, por exemplo, estariam diante de um enorme problema, já que só podem aceitar títulos com classificação triplo A, a maior de todas.

Nova ameaça de crise global

Por falar nas práticas financeiras anticonvencionais do Federal Reserve: o segundo grande tema durante a conferência do FMI e Banco Mundial será, presumivelmente, como sair incólume da atual política financeira de juros extremamente baixos.

“O abandono da política de dinheiro ultrabarato deve ser efetuado de maneira muito suave e cautelosa”, insistiu Lagarde. “Pois o retorno à política financeira tradicional tem consequências para todos os mercados do planeta”, ressaltou.

Por esse motivo, dois anos atrás, na conferência em Washington, os representantes de países emergentes se queixaram de que a prática excessivamente liberal dos países industrializados acarretava um gigantesco afluxo de capital e uma enorme pressão de valorização sobre suas moedas. As consequências para a estabilidade de preços e para a competitividade das suas exportações eram graves, afirmaram os emergentes.

Este ano, em contrapartida, bastou a sugestão do presidente do banco central americano, Ben Bernanke, de que se devia começar a pensar numa saída da política das taxas baixas, para desencadear a reação exatamente contrária. O capital foi retirado em peso dos países emergentes, e suas moedas desvalorizaram fortemente.

Assim, não é de espantar que a diretora-geral do FMI apele por cuidado, moderação e transparência ao tratar da futura estratégia de juros, na conferência da próxima semana.

Já está claro para todos que é preciso abandonar a política do dinheiro ultrabarato. Pois, quanto mais se espera, maior é o perigo de que se formem bolhas de preços nos mercados de imóveis e de bens – o que poderia causar uma nova crise financeira e econômica global.