A visita do papa Francisco ao Brasil, que começa nesta segunda-feira, 22, e vai até o próximo domingo, será uma grande celebração entre católicos praticantes e poderá levar de volta à religião majoritária do País alguns fiéis que estavam afastados, mas não conseguirá, por si só, alterar a perda de espaço da igreja registrada nos últimos trinta anos. Para tentar frear a queda na proporção de católicos, a igreja terá que aumentar a presença na periferia e dar uma demonstração clara de tolerância e abertura à pluralidade.

A avaliação é do cientista político Cesar Romero Jacob, professor da PUC-Rio que lançou, com sua equipe, o estudo Religião e território no Brasil, com base nos dados do Censo 2010. Para o pesquisador, também os evangélicos pentecostais têm o desafio de encontrar um novo caminho para ganhar fiéis, já que o ritmo de crescimento reduziu na última década, enquanto houve aumento significativo dos “evangélicos não determinados”, aqueles que frequentam igrejas menores ou transitam de uma para outra.

“Na década de 1980, a crise econômica profunda provocou enorme caos social, favelização, migração do campo para as cidades, em especial as periferias, onde o Estado era ausente e a presença da Igreja Católica, insuficiente. Esse foi o combustível do pentecostalismo. Nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, com política de inclusão, redução da pobreza e da migração, o ingrediente que permitiu a expansão tão rápida do pentecostalismo, é retirado, ele não cresce mais por combustão espontânea. Na próxima década, (o futuro do catolicismo e do pentecostalismo) vai depender da competência de cada um para sobreviver e a atuação pastoral será decisiva”, diz Cesar Romero.

Embora a religião católica seja majoritária no País, com 64,6% da população, os mapas elaborados pelo pesquisador cruzando religião com renda e escolaridade mostram a crescente presença de evangélicos e, mais recentemente, dos sem-religião na periferias das grandes cidades, onde estão os mais pobres e com menos estudos. “Isso se repete em várias capitais, em todas as regiões. Se não houver um movimento da igreja católica rumo à periferia, (a queda no número de fiéis) não se resolve”, diz o professor. “O Brasil transitou da hegemonia para a maioria católica e está transitando para o pluralismo religioso, mas a hegemonia cristã ainda continua”. Os evangélicos são 22,1% da população, sendo 4% de missão (tradicionais), 13,3% pentecostais e 4,8% de igrejas não determinadas.

As multidões que se reúnem na Parada Gay, na Marcha para Jesus (evangélica) e agora na Jornada Mundial da Juventude (católica) são, para Cesar Romero, a evidência desse momento de pluralidade. Para o professor, terão futuro as igrejas que se mostrarem mais tolerantes. “Quem conseguir lidar com a pluralidade tem mais chance de se firmar do que os intolerantes. O papa Francisco vai receber líderes de religiões africanas , o arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta, aceita convites de escolas de samba, de blocos de carnaval. A visita do papa em si não reverte a perda de fiéis, mas revela simbologias. Há uma demanda por pluralidade e a igreja pode seguir nesse caminho. A igreja continua contra o casamento gay, mas pode não querer comprar essa briga e deixar os evangélicos na linha de frente desta questão”, diz o professor.