Hotel que hospedou ídolos tem 6 décadas de passado intacto no centro de Campo Grande

Até Che Guevara teria se hospedado no Hotel, que usa ainda hoje equipamentos antigos e preserva arquitetura e mobiliário de épocas passadas, quando reinou como símbolo de requinte e status em Mato Grosso do Sul.

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Até Che Guevara teria se hospedado no Hotel, que usa ainda hoje equipamentos antigos e preserva arquitetura e mobiliário de épocas passadas, quando reinou como símbolo de requinte e status em Mato Grosso do Sul.

Cravado na região central de Campo Grande, um pedaço da história da cidade resiste ao tempo e à modernização do mesmo jeito em que reinou durante décadas como símbolo de requinte e status. O Hotel Gaspar, que já hospedou ídolos pop, políticos poderosos e até personagens históricas controversas, mantém até equipamentos antigos intactos e prontos para atender aos hóspedes de atualmente.

Dizem que até o líder esquerdista Che Guevara se hospedou lá. A neta do fundador do Hotel Gaspar, Christian Gaspar, 45 anos, não confirma. Ela mesma ouviu histórias há alguns anos sobre o fato. Mas, nunca conseguiu confirmar. “Tenho curiosidade em saber desde que um hóspede veio aqui e me disse que ele ficou hospedado no hotel”, revela.

Ela brinca que a história é tão consolidada, que tem gente que até disse a ela que deveria colocar uma placa na frente do hotel: aqui hospedou-se Che Guevara. Como um marketing para o local que é cheio de histórias.

O presidente Jânio Quadros, Médici, o senador Filinto Muller e o governador Pedro Pedrossian ela conta que sim. Foram hóspedes ilustres, assim como Cauby Peixoto e Ângela Maria.

Pedrossian até manteve no hotel o escritório de governo no então Mato Grosso Uno. “Durante cinco anos o Pedro Pedrossian manteve um quarto aqui, ele despachava, era uma subsede do governo”, revela.

O ex-governador ficou amigo do avô de Christian. “Vovô o admirava muito”, diz. Questionada se tinha a mesma admiração pelo rival político Wilson Martins Coelho é enfática: vovô era político. Gostava de todos. Quando chegava um aqui e dizia vota em mim, ela sempre sorria e falava que claro que votaria. Ele nem votava, nunca fez a cidadania brasileira.

O hotel que vai completar 60 anos é o segundo mais antigo da cidade. Ela conta que o primeiro ficava na rua Cândido Mariano com a rua 14 de Julho, mas este não funciona mais. Na ativa, apenas o Gaspar segue firme e forte.

Christian conta que o avô era um visionário, apesar de não dizer esta palavra, porque ele era muito simples, pessoa de pouco estudo, ela confirma ao lembrar que Antônio Gaspar chegou ao Brasil, por volta de 1936 e trouxe muitas novidades.

Primeiro ele foi para Santos, depois para Araçatuba e acabou vindo para Campo grande de trem. “Ele vendia dormideiras para os trens e veio parar aqui. Quando chegou se encantou. Lembro que dizia que se apaixonou pela água de Campo grande, que não havia igual”, fala. “E se pensarmos quantos córregos passam por baixo da cidade. Imagina naquela época tudo recortado por água limpa e cristalina”, fala com certo encanto, como se tivesse vivido a época.

Estabelecido na cidade, Gaspar primeiro abriu um bar – O Lusitano. O local, considerado inovador logo ficou famoso e virou referência. “Ele trouxe a primeira máquina de chopp para a cidade. As comidas então…Vovô gostava muito de cozinhar. O bolinho de bacalhau, a bacalhoada”, lembra.

Do bar, ele ainda empreendeu outros negócios: uma padaria e uma peixaria. Mas, foi em 1948, quando começou a construir o Hotel, que Antônio colocou todo o seu empreendedorismo e criatividade em prática.

O hotel que ficou pronto apenas em 1954 foi o primeiro a ter elevador. Alta tecnologia. As peças que hoje estão gastas ainda são conservadas com esmero.

Se hospedar no Gaspar é como viver um pouco do que Campo grande foi em 1950. Os móveis dos quartos ainda são originais, assim com as máquinas da lavanderia, o armário da cozinha, as cadeiras do hall de entrada. É tanta coisa antiga que parece outro tempo.

Os clientes, muitos também são daquela época, ou filhos de quem viveu o tempo de ouro do hotel. Christian conta que cerca de 20 pessoas moram no Gaspar e brinca: todo homem que se divorcia vem morar aqui. Entre os hóspedes fixos, funcionários públicos e médicos são a maioria.

Dos flutuantes, revela, que até hoje recebe muitos caixeiros viajantes. Os principais clientes de antes. “Nem todo mundo compra pela internet”, brinca.

Filhos de quem se hospedava no hotel também não deixam de prestigiar. “Muitos chegam contando histórias que eu nem sabia. São muitas coisas. São quase 60 anos de história”, diz.

Ao contar a ela que meu avô se hospedava lá e que minha mãe toda vez que passa pelo hotel conta que corria pelas escadarias, diz: é muito bom ouvir isso. Sempre gosto de saber essas histórias.

O Hotel Gaspar fica na Avenida Mato Grosso, número 2, na esquina com a Avenida Calógeras.

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