Guaranis Kaiowás ocupam fazenda e tentam linchar fazendeiro depois de assassinato de jovem

Jovem foi executado porque pescava em açude. Força Nacional e Polícia Federal estiveram no local, mas se retiram despois da ocupação, mesmo com o clima de confronto

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Jovem foi executado porque pescava em açude. Força Nacional e Polícia Federal estiveram no local, mas se retiram despois da ocupação, mesmo com o clima de confronto

Depois de terem ido pescar em terras que consideram suas, no açude dentro da fazenda Sardinha, no município de Caarapó, três meninos Guaranis Kaiowás da aldeia Tey’ikue foram perseguidos e o mais velho deles, Denílson Barbosa, de apenas 15 anos, foi executado por jagunços com três tiros à queima-roupa.

O assassinato ocorreu no último sábado (16), e o corpo do menino foi abandonado em uma estrada de terra do local. Como Denílson era filho do cacique Wilson Quevedo Barbosa, que lidera uma grande família kaiowá, a reação foi instantânea.

Em consequência do crime, cerca de 300 índios da etnia invadiram a fazenda Sardinha, para sepultar o adolescente, no momento em que o fazendeiro Orlandino Carneiro Gonçalves retirava o gado e móveis.

Por temer linchamento, Orlandino fugiu da fazenda, que agora está em poder dos indígenas. Ontem, a Força Nacional e a Polícia Federal estiveram no local do conflito, mas se retiraram alegando falta de autonomia para agir, depois da ocupação, mesmo com a possibilidade de confrontos.

Entrevistada pela reportagem, a liderança indígena Valdelice Veron contou que os três jovens pescavam no córrego Mbope’i quando foram perseguidos por três jagunços. Segundo ela, Denílson foi vitimado com dois tiros na cabeça e um no pescoço depois que se enroscou em uma cerca de arame farpado durante a fuga, e foi detido pelos jagunços.

Os indígenas acreditam que o menor tenha sido torturado e depois assassinado pelos seguranças da fazenda, porque, segundo eles, o seu corpo tem vários sinais de espancamento. O corpo ficou no local do crime até a chegada da Polícia Civil.

Valdelice conta que os índios costumam pescar na área porque ali está o único riacho da região da reserva José Bonifácio, onde moram. Os guaranis kaiowás também frequentam a área para extrair ervas usadas na fabricação de medicamentos.

“O lugar pertence ao povo indígena, que tem água no rio, açude, e sempre tiveram acesso. Cinco anos atrás eles não deixaram mais índio entrar e pescar. Seu Orlandino, não tem escritura, mas não deixava mais entrar”, relatou a liderança.

A líder guarani contou a versão de que uma parte da reserva, ainda à época do Serviço de Proteção do Índio(SPI)foi vendida por um ex-funcionário ao fazendeiro, razão da disputa até hoje.

Segundo a líder indígena, os índios se revoltaram com a fim de uma trégua firmada entre o governo federal, as lideranças guaranis kaiowás e a Famasul, firmada no dia 26 de novembro, na presença do secretário Nacional de Articulação Social, Paulo Maldos.

A trégua previa fim das invasões e da violência contra os índios até que a Funai concluísse os levantamentos sobre a origem da fazenda e sua possível demarcação, com indenização.

O Conselho da Aty Guasu Guarani e Kaiowá emitiu nota depois do crime

“Infelizmente, é com muito pesar, nós conselho da Aty Guasu guarani e Kaiowá, vimos a todos (as) AUTORIDADES E CIDADÃOS DO BRASIL E DO MUNDO comunicar que ontem um grupo indígenas Guarani-Kaiowá foram atacados e violentados pelos pistoleiros das fazendas da região de Caarapó-MS. Um adolescente foi assassinado a tiro-bala pelos homens das fazendas, localizada próxima da Reserva/Aldeia Tey’ikue/Caarapo, município de Caarapó-MS.

Hoje (18/02/2013) mais de duas centenas de Guarani-Kaiowá enterraram o corpo do menino no local em que foi assassinado. Esse lugar é terra Guarani-Kaiowá tradicional reivindicada pelos indígenas que está em estudo antropológico, há anos. Diante do fato de violência antiga contra as vidas dos indígenas Guarani-Kaiowá, hoje à tarde, mais de 200 Guarani-Kaiowá tentam reocupar o tekoha e permanecerem no lugar, fazendo protesto contra as violências contra as vidas Guarani e Kaiowá, pedindo a JUSTIÇA. Está tenso no local em que começou o protesto passivo dos Guarani e Kaiowá. Os agentes da PF e FUNAI foram no local ontem e hoje.

Por fim, mais uma vez, solicitamos a investigação do fato pela Polícia Federal e pedimos a presença permanente de seguranças federais no local. A comunidade Guarani e Kaiowá já decidiu em permanecer em protesto nesse tekohaguasu onde foi assassinado o menino Kaiowá. Entorno de tekoha reocupada em protesto já começou movimento dos pistoleiros. O risco de ataque dos pistoleiros é iminente”.

Amanhã, retornaremos a comunicar a todos (as).

TekohaGuasu Guarani e Kaiowá, 18 de fevereiro de 2013.

Conselho da Aty Guasu Guarani e Kaiowá contra genocídio

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