A crise interna que a Comissão Nacional da Verdade atravessa pode desembocar na Presidência da República. Ontem, 24, representantes da Comissão dos Familiares e Mortos e Desaparecidos Políticos encaminharam um pedido de audiência à presidente Dilma Rousseff. Querem apresentar a ela um pedido de reestruturação da comissão e de alteração nos seus rumos.

De maneira geral, os familiares e as vítimas da ditadura estão cada vez mais descontentes com a comissão. Suas críticas vão da falta de foco e de transparência nas investigações à existência de disputas internas entre os integrantes do grupo.

O pedido de audiência foi feito por meio da atual coordenadora da comissão, a advogada Rosa Cardoso. Acompanhada pelo advogado e ex-ministro José Carlos Dias, que também faz parte da comissão ela recebeu o grupo, com 19 pessoas, no escritório da Presidência da República, em São Paulo.

No encontro de quase duas horas, o grupo reclamou que não tem sido consultado. “Somos alijados de tudo que acontece ali”, disse à reportagem Suzana Lisboa, uma das representantes dos familiares. “A comissão ignora as pesquisas já feitas pelos ex-presos e familiares e comete erros históricos graves. Um exemplo foi a acusação que fizeram ao Centro de Informações , o Cenimar, que teria ocultado informações sobre mortes no período da ditadura. Se tivessem nos consultado, saberiam que o relatório do Cenimar foi um dos mais completos que já obtivemos, com informações sobre as mortes de 40 guerrilheiros do Araguaia.”

Os métodos de trabalho também foram criticados. Os familiares disseram que a comissão ampliou excessivamente o número de assuntos investigados e perdeu o foco. Querem que o alvo principal seja a questão dos mortos e desaparecidos.

O grupo que atua nessa área, segundo os familiares, tem poucos pesquisadores. Dias, que faz parte do grupo, ouviu as críticas e prometeu analisar possíveis falhas nos procedimentos.

Boa parte da reunião foi ocupada com críticas a integrantes da comissão. Embora não tenham dito oficialmente, os familiares vão pedir a Dilma o afastamento do jurista José Paulo Cavalcanti Filho, criticado por suas ausências.

Instalada no ano passado, com o intuito de apurar violações de direitos humanos na ditadura, a comissão tem sete membros. Atualmente, porém, conta com cinco deles, uma vez que dois pediram demissão.

Internamente eles enfrentam divergências que vão da forma de divulgação das informações e escolha de assessores à definição de temas que farão parte do relatório .

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.