Família de viciado que bateu em delegado e morreu na prisão denuncia espancamento
‘Deinha’, de 24 anos, estava trabalhando como ajudante em uma obra e admitiu ser usuário de maconha. Laudo da morte diz que causa foi choque séptico e broncopneumonia, mas fotos do cadáver, feitas pela família, indicariam sinais de agressão.
Arquivo –
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‘Deinha’, de 24 anos, estava trabalhando como ajudante em uma obra e admitiu ser usuário de maconha. Laudo da morte diz que causa foi choque séptico e broncopneumonia, mas fotos do cadáver, feitas pela família, indicariam sinais de agressão.
Anderson Rodrigues, conhecido como Deinha, morreu na última quinta-feira (31) por, segundo o atestado de óbito, choque séptico e consequências de uma broncopneumonia. Revoltada, sua família contesta o laudo e acusa: Deinha teria sido torturado por sete policiais militares. Para comprovar o fato, a família chegou a tirar fotos do cadáver no caixão.
Tudo começou no dia 5 de outubro, quando o jovem de 24 anos saiu da obra onde trabalhava como ajudante de eletricista em São José do Rio Preto (SP) e voltou para Selvíria (MS), sua cidade natal, para buscar roupas e visitar a família. No dia seguinte, foi a um bar beber com amigos, segundo informa o boletim de ocorrência, quando foi preso.
Segundo o B.O., Deinha afirma que foi abordado por policiais no bar, que procuravam por drogas em seus bolsos. Ele confirma que era usuário, mas nega que alguma coisa foi achada. Então, os policiais militares o teriam levado para sua casa à procura de droga.
No caminho, Deinha ainda conta no boletim que foi alvo de socos e que teve seus pés e pescoço amarrados com uma corda. Chegando ao local ele foi agredido em frente de sua irmã, cunhado e sobrinhos.
“Estouraram a porta, derrubaram ele no chão, na frente de meus filhos de oito e seis anos. Eu pedia pelo amor de Deus para eles pararem de maltratar ele, mas ele ficou todo estourado. Daí levaram ele embora”, relembrou a irmã Michele Rodrigues, de 31 anos.
Levado para a delegacia, Deinha chamou seu advogado, Darley Barros Junior, que confirma que o encontrou ferido. “O ouvido dele estava sangrando, ele estava muito machucado mesmo e acompanhei o depoimento dele. Ele e toda a família acusam os policiais de o espancarem”, afirma Darley.
O advogado então pediu o exame de corpo delito e que fotos fossem tiradas de Anderson, que ficou um tempo na delegacia e depois foi para o presídio de Três Lagoas, mas afirma que até o dia da morte do rapaz, na última sexta-feira (1º), o resultado não tinha sido anexado ao processo que a família acusa os policiais.
De acordo com Michele o motivo do espancamento teria sido vingança, pois há muitos anos Deinha foi abordado por policiais e revidou a uma revista agredindo fisicamente um delegado.
“Depois disso a vida dele virou um inferno. Policiais tentavam plantar drogas para ele ser preso, falavam que ele tinha roubado policial. Estamos pedindo socorro. Se alguma coisa acontecer com a minha família foram eles. Tem delegado me olhando torto já”, acusa Michele.
Deinha também deixou registrado em depoimento no B.O. que, ao ser agredido, os policiais supostamente gritavam: “Vamos te apagar”; “Você não gosta de bater em delegado? Você vai pagar por isso”.
Para o cunhado Carlos Roberto Correa Ferreira, de 36 anos, o atestado de óbito é a comprovação de que há diversas tentativas de acobertar a suposta ação policial.
“O atestado de óbito é a mesma coisa de nos chamarem de otários. Ele morreu três semanas depois e continua todo estourado, sofreu mais agressões. O nariz dele está quebrado, os punhos e pés com marcas de cordas e algemas, ele apanhou mais e com certeza foram eles e nada consta no laudo”, afirmou.
Com a morte do rapaz a família afirma que a Corregedoria da Polícia Militar começou a ouvir vários policiais na cidade e já investiga o caso, porém, a assessoria da PM nega que há investigações abertas sobre este caso.
“Ele era um rapaz muito bom, muito trabalhador. Mesmo que tivesse algum problema com droga não justifica a polícia fazer o que fez. Eu também estou sendo ameaçado pela PM, por querer ajudar a família nesta comprovação de que broncopneumonia não foi a causa da morte do Deinha”, afirmou o ex-patrão Edgar Barbosa dos Santos, que afirma ter registrado um B.O por ameaça.
Fotos com os ferimentos visíveis em todo o corpo de Anderson foram enviadas à reportagem, mas nem todas foram reproduzidas por parcimônia. O enterro de Deinha ocorreu na sexta-feira (1º) às 11h no Cemitério Municipal de Selvíria.
O outro lado
O Comando-geral informou que a Polícia Militar em Selvíria atendeu uma ocorrência de tráfico de drogas, cujo autor era Anderson Rodrigues, citado como fornecedor de crack e cocaína. Na abordagem, a PM afirma ter encontrado maconha com Deinha, que cita ainda em reposta enviada ao Midiamax que ele “era um criminoso conhecido na cidade”.
Segundo a PM, Deinha tem os seguintes delitos registrados: desordem, vias de fato, vadiagem, roubo, furto qualificado pelo concurso de pessoas e várias vezes por tráfico de drogas. No dia de sua prisão, consta à PM no dia 05 de outubro, foi usada força física para contê-lo, pois o mesmo teria resistido à prisão.
Ele foi “transferido para o presídio de Três Lagoas e 26 dias após faleceu por razões que a PM desconhece”, finaliza a nota.
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