Exames descartam morte por envenenamento do poeta chileno Pablo Neruda

O poeta e prêmio Nobel chileno Pablo Neruda não foi envenenado pela ditadura de Augusto Pinochet em 1973, e sua morte aconteceu em decorrência de um câncer de próstata, indicaram nesta sexta-feira (8) os médicos responsáveis por estabelecer as causas da morte. “Não encontramos nenhum agente químico relevante que poderia estar relacionado com a morte […]

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O poeta e prêmio Nobel chileno Pablo Neruda não foi envenenado pela ditadura de Augusto Pinochet em 1973, e sua morte aconteceu em decorrência de um câncer de próstata, indicaram nesta sexta-feira (8) os médicos responsáveis por estabelecer as causas da morte.

“Não encontramos nenhum agente químico relevante que poderia estar relacionado com a morte de Pablo Neruda”, declarou Patrick Bustos, diretor do Serviço Médico Legal (SML) do Chile, ao entregar o relatório com as conclusões da análise dos restos mortais do poeta.

“Confirmamos, por meio de várias técnicas complementares, a existência de lesões metastáticas disseminadas em vários segmentos do esqueleto em justa correspondência com a doença que atingia o senhor Pablo Neruda”, acrescentou Bustos durante uma coletiva de imprensa.

Mas Mario Carroza, juiz que ordenou a investigação, indicou que esses resultados não concluem o caso e que ainda não está em condições de afirmar se Neruda foi ou não assassinado.

“Neste momento não posso afirmar com certeza. Judicialmente, o juiz não pode afirmar algo de forma tão categórica sem ter todas as evidências, e neste momento não sabemos se temos todas as provas”, declarou Carroza a jornalistas.

“Precisamos avançar nas investigações para emitir um juízo deste tipo”, acrescentou, considerando a possibilidade de ordenar novos testes.

SUSPEITAS

Militante comunista, Neruda morreu em 23 de setembro de 1973, 12 dias após a instalação da ditadura de Augusto Pinochet. Na época, o poeta foi internado na Clínica Santa Maria de Santiago, para tratar de um câncer de próstata avançado.

Dúvidas sobre as causas de sua morte foram levantadas por seu ex-motorista e amigo, Manuel Araya, que disse que, horas antes de sua morte, Neruda teve inoculado em seu peito uma substância misteriosa, que o teria matado.

Além disso, outros casos reforçaram as suspeitas de envenenamento. Na mesma clínica onde Neruda morreu, mas nove anos depois, o ex-presidente Eduardo Frei Montalva (1964-1970) morreu devido a uma “introdução gradual de substâncias tóxicas”, segundo determinou a Justiça em um caso que permanece em aberto.

Frei, que na época surgia como um dos maiores adversários de Pinochet, deu entrada na clínica Santa Maria para o tratamento de uma hérnia por uma pequena cirurgia e morreu subitamente pouco depois devido a septicemia.

Amigo do presidente socialista Salvador Allende, que cometeu suicídio no momento do ataque das forças de Pinochet à sede da presidência, Neruda planejava viajar ao México para comandar a oposição ao novo governo golpista.

O golpe militar pegou o poeta de surpresa em sua casa em Isla Negra, uma pequena cidade na costa do Pacífico, quando já sofria há anos de câncer de próstata, doença que o havia afastado da vida pública.

A análise dos restos mortais de Neruda, exumado de seu túmulo à beira-mar no balneário de Isla Negra (costa central do Chile), foi realizada por 11 especialistas chilenos e estrangeiros e liderada pelo especialista espanhol Francisco Etxeberría, da Universidade de Múrcia, na Espanha, e Ruth Winickett, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

A família do poeta afirmou nesta sexta-feira que o caso não está fechado e que continuará a lutar para que todas as questões sejam esclarecidas.

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