Responsável por denunciar esquema de fraudes em vistorias envolvendo a Polícia Civil e o Detran/MS (Departamento de Trânsito), o empresário Vaderlei Scuria vem enfrentando represálias e amargando prejuízos.

Dono de um comércio de motores, Scuria denuncia que parte dos produtos que vende estão sendo acusados de adulteração em vistorias no Detran, mesmo produtos novos de fábrica.

O empresário revelou esquema que funcionaria desde 2005. Em resumo, o esquema funcionaria alegando que motores originais de fábrica estariam irregulares, obrigando os proprietários de veículos a trocá-los, deixando o antigo no pátio das delegacias.

Depois de revelar o esquema, Scuria teve pelo menos quatro motores apontados como adulterados em vistorias no Detran. “Em um dos casos foi óbvio a perseguição. Eu troquei o motor de um veículo, e os inspetores quiseram usar a marcação antiga, do motor trocado, para ver na fábrica que era original, claro que não bateu, o motor foi trocado”, explica Scuria.

Para revelar a perseguição, o empresário pagou do próprio bolso vistorias em outros estados, como São Paulo, que comprovaram que os motores são originais, e não adulterados.

Scuria é presidente da Associação das Vítimas do Detran, da Defurv (Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos) e do IC (Instituto de Criminalística), que está entrando com pelo menos 300 processos referentes às fraudes em vistorias veiculares.

O esquema funcionaria desde 1995, e foi revelado pelo Midiamax em 2008 após denúncia ao MPE. No caso dos motores originais, a denúncia é de que eles são submetidos a vistorias e não são considerados irregulares. Mas, em outro momento, numa nova vistoria, são apreendidos e levados para a Defurv, onde o crime se consuma. Os motores originais são retirados “porque estariam fraudados” e os carros deixados no pátio até que o proprietário adquira uma nova peça, ou seja, outro motor, para serem liberados.

Toda vez que a vistoria do Detran detecta um motor adulterado, o veículo é levado à Defurv, onde peritos endossam o laudo do órgão. Sem opção, e não querendo enfrentar a polícia, os donos pagam o novo motor do próprio bolso e são liberados, mas a peça “irregular” acaba ficando na delegacia.

Omissão

As corregedorias da Polícia Civil e Detran, responsáveis por apurar, respectivamente, o procedimento dos peritos e vistoriadores, foram alertadas sobre o problema, afirmou Vaderlei.

Como não houve punições, ele buscou também o MPE, que segundo ele, começou a apurar, mas não conseguiu levar adiante as investigações e tem feito “vistas grossas” para o caso.

“Um carro que já foi transferido quatro, cinco vezes é pego na última com esse motor supostamente adulterado. O motor é retido, mas ninguém investiga como e porque nas outras vendas, quando também é obrigatória a vistoria, o motor passou como regular”, denunciou Scuira.

O comerciante ainda se propõe a pagar a vinda de peritos do estado de São Paulo para fazer laudos paralelos aos realizados no IC/MS.