Em nova prestação de contas, Federação de Futebol de MS esconde ‘mensalinho’ da CBF

Desde 1993, a entidade máxima dá uma ajuda financeira mensal a suas filiadas. O chamado “mensalinho” da CBF.

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Desde 1993, a entidade máxima dá uma ajuda financeira mensal a suas filiadas. O chamado “mensalinho” da CBF.

A FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) divulgou, dia 30 de abril, a prestação de contas referentes ao ano passado. Dentre as receitas obtidas, a entidade não divulgou quanto recebeu da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), entidade máxima do esporte no país.

Desde 1993, a entidade máxima dá uma ajuda financeira mensal a suas filiadas. O chamado “mensalinho” da CBF. Mas não para por aí: além do valor fixo, atualmente em R$ 50 mil, a entidade faz outras “doações” ou “repasses”, como são descritos nos balanços. O aporte chega a representar até 89% da receita total de uma federação no ano, como foi o caso da sergipana, em 2011. Atualmente, só o Rio Grande do Sul se recusa a receber a verba mensal.

No caso da federação sul-mato-grossense, os possíveis repasses da Confederação não são apresentados, nem mesmo os R$ 50 mil mensais do mensalinho. No quesito receitas, a FFMS só relata ter recebido verbas do sistema ITF, mesmo sem esclarecer o que seria esse quesito, anuidade de clubes filiados, transferências de atletas profissionais, registro de atletas profissionais e outras rendas, também sem especificação.

Em 2012 a FFMS arrecadou um total de R$ 1,4 milhão, 18,6% a mais que os R$ 1,18 milhão do ano anterior. As despesas aumentaram 9,5%, passando de R$ 1,26 milhão em 2011 para R$ 1,38 milhão no ano seguinte.

Após anos de prejuízo, a FFMS apresentou lucro de R$ 14,9 mil ano passado. A maior renda de 2012 é proveniente do sistema ITF, que rendeu R$ 995,5 mil, um expressivo aumento de 54,8% em relação a 2011, quando entraram R$ 642 mil do ITF no cofre da entidade.

Comparação

Até 2011, somente sete federações estaduais revelaram a verba recebida pela CBF nos balanços financeiros. Sergipe, Maranhão, Paraná, Piauí, Espírito Santo, Ceará e Amazonas confirmaram as transferências. Entre eles, os repasses da CBF correspondem, em média, a 23% do total de receitas de todo o ano. Paraná recebeu o maior valor: R$ 1,2 milhão, R$ 100 mil a mais que Sergipe. Mas a receita total paranaense foi muito maior: R$ 4,6 milhões.

Segundo denúncias, que constam também na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da CBF pleiteada pelo deputado federal Romário (PSB), a mensalinho seria uma forma do presidente da confederação, antes Ricardo Teixeira e agora José Maria Marin, manter as federações politicamente controladas.

O início

O Mensalinho começou em 1993 com R$ 8 mil para cada federação, com o nome de “programa de assistência financeira”, copiando um modelo da Fifa. Cada presidente tinha de preencher um pequeno caderno de encargos justificando a distribuição dos gastos. Foi uma forma de a CBF tentar exigir o mínimo de organização das federações. E também de sistematizar o auxílio financeiro que já prestava, ocasionalmente, baseada nos pedidos dos presidentes. Mas, depois de muitas reclamações a Teixeira, os dirigentes conseguiram invalidar a prestação de contas. Ninguém precisa mais justificar o uso do dinheiro que recebe da CBF.

Recentemente, por mais de dois anos, o Mensalinho ficou “congelado” em R$ 30 mil por mês. Já com o processo de sucessão esquematizado, Teixeira garantiu que José Maria Marin começasse com o pé direito. Em 29 de fevereiro, na assembleia em que garantiu aos presidentes de federação que não deixaria o comando da CBF, anunciou aumento para R$ 50 mil. Muitos presidentes creditam essa mudança a Marin, um primeiro afago para os futuros comandados.

O aumento veio em um momento de turbulência nos bastidores, em meio a boatos cada vez mais fortes sobre uma possível saída de Teixeira. A assembleia havia sido convocada por sete presidentes de federações – MG, RJ, BA, PR, PA, RS e DF -, que cobraram do presidente um esclarecimento. Para eles, nova eleição deveria ser convocada em caso de renúncia. Começaram a ser chamados de “rebeldes” pelos demais dirigentes.

Na mesma assembleia do “fico”, Teixeira comunicou a distribuição de R$ 100 mil para cada uma das 27 federações, por “participação nos lucros”. Acalmou ânimos. Depois, pediu a todos que aprovassem a mudança da data da próxima eleição presidencial, que seria após a Copa de 2014 e foi transferida para antes do Mundial. Teixeira temia que um resultado ruim da seleção pudesse interferir no pleito. Como em tantas outras vezes, conseguiu unanimidade entre os cartolas.

Pouco mais de uma semana depois, em 8 de março, Teixeira pediu licença da presidência, alegando problemas de saúde. Assumiu o vice mais velho: José Maria Marin, hoje com 80 anos. Ainda como interino, numa sexta-feira, ele convocou uma entrevista para segunda-feira com a presença de todos os presidentes de federação – algo que Teixeira jamais fez. No dia 12, na sede da CBF, Marin leu a carta de renúncia do ex-presidente.

Somente um presidente não foi pego de surpresa: Marco Polo Del Nero, de São Paulo. Dos “rebeldes”, quatro não compareceram. Com a posse de Marin e a influência mais evidente de Del Nero, tomou força o movimento para convocação de eleição, que acabou esfriando e caindo no esquecimento pouco depois. (com informações do Estadão).

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