Em festival marcado por falhas, Red Hot Chili Peppers faz show morno em BH
Se a tentativa dos produtores do Circuito Banco do Brasil é criar mais um festival para o calendário brasileiro, é bom repensar o formato desde já. O que se viu na edição mineira do evento, que acontece no sábado (2), no Mega Space, foi simplesmente um show de uma das grandes bandas de rock deste […]
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Se a tentativa dos produtores do Circuito Banco do Brasil é criar mais um festival para o calendário brasileiro, é bom repensar o formato desde já. O que se viu na edição mineira do evento, que acontece no sábado (2), no Mega Space, foi simplesmente um show de uma das grandes bandas de rock deste e do último século (Red Hot Chili Peppers), antecedido por uma série de outros, encarados apenas como abertura pelo público presente.
O sábado começou difícil para o público que pretendia ir ao evento realizado em Santa Luzia, a 40 quilômetros da capital mineira.
Uma manifestação parou a MG-020, um dos acessos Mega Space, causando um congestionamento gigantesco e elevando o tempo médio do trajeto de 40 minutos para uma hora e meia. O resultado foi que boa parte do público chegou tarde e as primeiras atrações foram bastante prejudicadas.
Foram o caso da veterana banda mineira Tianastácia, que abriu as apresentações do dia com canções de seu recém-lançado álbum “Love Love”, e incluiu no repertório uma homenagem ao Charlie Brown Junior, citando “Zóio de Lula”; e de Gaby Amarantos, que pretendia contar com a participação de Fernanda Takai em seu show logo no início, mas foi obrigada a deixar para o final, já que a mineira também foi uma das vítimas do engarrafamento e, por pouco, não chegou a tempo. Mesmo assim, os duetos das duas no clássico de Roberto Carlos, “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos” e dos Titãs, “Sonífera Ilha” agradaram, bem como a performance de Gaby, que chegou a dizer que tinha feito “os camisas pretas tremerem”, numa alusão ao tipo de música que faz.
Na sequência, a prata da casa Jota Quest abriu os shows do palco principal do evento. Com seu costumeiro show mesclando hits de sua autoria e versões que já se tornaram parte integrante do repertório, a banda proporcionou o primeiro momento “tira o pé do chão” da noite. Rogério Flausino agradeceu a oportunidade de estar ali e exaltou por várias vezes a presença do Red Hot Chili Peppers no line-up.
Encerraram com “Tempos Modernos”, de Lulu Santos, e passaram o bastão para O Rappa, que viria logo em seguida, não fossem os problemas de logística do evento.
Com um atraso de 45 minutos, a banda liderada por Marcelo Falcão finalmente subiu ao palco e a sensação de que algo não estava certo estava no ar. O vocalista se justificou com um discurso confuso, dizendo que alguns integrantes da banda haviam se atrasado para o show, por conta do engarrafamento, mas que mesmo assim eles estavam felizes por estar ali e fariam o show de qualquer maneira, ainda que curto. E assim foi. Com o tempo reduzido, O Rappa mal teve tempo de desfilar seus hits e não empolgou.
Apenas o final, com “Pescador de Ilusões” levantou o público, mas já era tarde demais.
A primeira atração internacional da noite também não teve vida fácil.
O Yeah Yeah Yeahs parecia um pouco deslocado no line-up, mas Karen O e sua banda não deixaram por menos. Com 20 minutos de atraso, som baixo e público adverso, suaram a camisa e cumpriram seu papel com louvor. A performance incendiária de Karen no palco ajuda bastante a conquistar o público. Boas canções como “Mosquito”, “Maps” (dedicada ao recém-falecido Lou Reed) e “Gold Lion” também, ainda que não tenham se destacado das demais. O resultado final foi um show simpático, porém ainda morno, não por culpa da banda, mas do público que, em sua maioria, desconhecia a atração.
Para encerrar o evento, dez minutos depois do horário previsto, o Red Hot Chili Peppers subiu ao palco do Mega Space para fazer sua estreia em solo mineiro e encerrar uma espera de mais de 20 anos por parte do público do Estado.
Logo na primeira música, “Can’t Stop”, já dava para perceber que a noite era mesmo deles. Precedida por uma longa jam entre os músicos, a canção já fez o público pular como se não houvesse amanhã. “Dani California” foi a segunda canção e manteve o nível. É difícil algo dar errado em um show do Red Hot Chili Peppers, que esbanja competência no palco, personalizada na figura de Anthony Kiedis, capaz de segurar a multidão apenas com firulas vocais.
Se o guitarrista Josh Klinghoffer destoa um pouco dos demais por não impressionar tanto como seu antecessor, John Frusciante, o baixista Flea e o baterista Chad Smith dão o tom da banda e provocam uma combustão espontânea a cada acorde. A presença do percussionista brasileiro Mauro Refosco (também companheiro de Flea no projeto paralelo Atoms for Peace, ao lado de Thom Yorke, do Radiohead) confere um tempero especial à mistura.
Acontece que, apesar de nada ter dado errado, da competência da banda e da resposta do público nas duas primeiras canções, o show não decolou e ficou apenas na temperatura morna. Foi mais um daqueles em que não se pode falar mal, mas por conta disso tudo dito anteriormente, prometia mais.
Nem mesmo hits como “Under the Bridge” (precedida pela homenagem de Josh Klinghoffer a Lou Reed, na música “Ride Into the Sun”, do repertório do Velvet Underground), “Californication” e “Higher Ground” (versão do clássico de Stevie Wonder) foram inesquecíveis. É bem provável que o Chili Peppers tenha sofrido do mal da expectativa alta.
Geralmente, neste casos, é isto que acontece: um bom show, mas nada que fique grudado na memória para sempre. O final, com “Give It Away” foi o maior exemplo disto. O maior hit da história da banda foi tocado com parte do público já abandonando o local.
No final, o show foi o retrato da etapa mineira do Circuito Banco do Brasil: um evento que mais prometeu do que cumpriu. As enormes filas nos banheiros e nos quiosques de alimentação aliadas ao caos no trânsito na chegada e na saída contribuíram para esta sensação e deixaram a certeza que muita coisa precisa melhorar para a próxima edição.
O Red Hot Chili Peppers faz shows no dia 7 de novembro, na Arena Anhembi, em São Paulo, e no dia 9 de novembro, no Parque dos Atletas, no Rio de Janeiro.
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