Em campanha, Chile debate temas que também preocupam Brasil Marcia Carmo
O último debate presidencial do Chile, realizado na noite de quarta-feira entre os nove candidatos que disputarão o primeiro turno em 17 de novembro, foi pautado por discussões semelhantes às em voga do Brasil. Segurança pública, presença de mascarados em protestos, a chegada de médicos estrangeiros convocados por um programa do governo, transporte público e […]
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O último debate presidencial do Chile, realizado na noite de quarta-feira entre os nove candidatos que disputarão o primeiro turno em 17 de novembro, foi pautado por discussões semelhantes às em voga do Brasil.
Segurança pública, presença de mascarados em protestos, a chegada de médicos estrangeiros convocados por um programa do governo, transporte público e desigualdade social foram os temas sobre os quais os candidatos foram questionados – além do destino dos recursos da principal riqueza natural chilena, o cobre. Nesse caso, a discussão remete à recente polêmica sobre a participação de empresas estrangeiras na exploração do petróleo na camada do pré-sal no Brasil.
A ex-presidente Michelle Bachelet lidera as pesquisas de opinião, que indicam que a candidata de centro-esquerda venceria em primeiro turno com margem cômoda de votos.
“Qual é o seu plano de segurança pública para os jovens encapuzados nos protestos?”, perguntou um jornalista à candidata Roxana Miranda, do Partido Igualdade, que é líder de movimentos sociais.
“Participo dos protestos mostrando meu rosto. Mas o problema não são os encapuzados nas manifestações. Porque os encapuzados são os bancos e os poderes com grande concentração de renda, que não mostram a cara”, respondeu a candidata.
Médicos estrangeirosEm outro momento do debate, o candidato Marco Enríquez-Ominami (ex-socialista, atualmente no Partido Progressista) defendeu que o país receba mais imigrantes, sobretudo qualificados.
“Temos que ter as portas abertas para vários profissionais. O Chile precisa de especialistas. Temos mais de 1 milhão de chilenos em outros países; por que não receber os estrangeiros para que trabalhem aqui?”, disse.
A polêmica é gerada principalmente por uma proposta do ministro da Saúde, Jaime Mañalich, que defendeu a contratação de médicos estrangeiros para a rede pública do país, sob o argumento de que os especialistas chilenos não estariam interessados nesse trabalho.
A discussão no Chile começou antes que o governo brasileiro lançasse o programa Mais Médicos, em julho. Em outubro, o Colégio Médico local criticou o ministro por sugerir que os médicos estrangeiros poderiam não ser obrigados a realizas provas de equivalência.
No Chile, a polêmica levou o Ministério da Saúde a divulgar comunicados justificando a medida para cobrir a falta de “cerca de 1,7 mil profissionais”.
Ominami defendeu também mudanças nas regras atuais para a exploração do cobre pelo setor privado no país. “Que os recursos do cobre financiem a educação pública e que os estrangeiros tenham prazos mais definidos para explorar essa riqueza”, disse.
Transporte público
Mas as atenções estavam voltadas principalmente para as opiniões das candidatas à frente nas pesquisas de opinião: Bachelet, da coalizão Nova Maioria, e a candidata do presidente Sebastián Piñera, Evelyn Matthei (direita), da coalizão Aliança.
“O que quero é um país rico, porém mais justo, com menos desigualdades e educação gratuita”, disse Bachelet.
Uma jornalista perguntou por que ela não tinha adotado, então, esse programa de governo, que apresenta agora na campanha, durante seu mandato (2006-2010).
“Realizamos vários programas na área social e é justamente porque tenho a experiência de governo que sei onde devemos avançar, o que temos que fazer”, respondeu.
Na gestão de Bachelet e de seu antecessor, Ricardo Lagos, foi implementado no Chile um novo sistema de transporte público, chamado Transantiago, que gerou mais protestos do que o anterior.
“O Transantiago já existe e não tem jeito. Mas temos que pensar como melhorar o transporte público para as pessoas”, retrucou Roxana Miranda.
Nos últimos anos, o Chile tem sido marcado pelas fortes manifestações a favor da educação gratuita e contra a desigualdade social. País com cerca de 17 milhões de habitantes, o Chile é o único da América do Sul a integrar a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), está entre os que mais avançaram no combate à pobreza, mas continua registrando forte desigualdade social, em níveis semelhantes aos do Brasil, segundo a Cepal.
Porsche e direitos humanos
No debate na televisão chilena, o candidato Franco Parisi, que se apresenta como político independente e foi a novidade nas pesquisas de opinião nesta campanha, gerou críticas ao dizer que quer governar um país em que os professores possam comprar um Porsche.
“Não queremos Porsche, queremos salários dignos. Queremos saúde pública e transporte público decente. Isso sim é realidade”, respondeu Miranda.
O debate abordou também questões ligadas aos direitos humanos, quando o Chile completa quarenta anos do golpe militar liderado por Augusto Pinochet em 1973.
“Sou a favor dos direitos humanos. Mas se você votar por Bachelet ou Matthei, saiba que elas vão realizar um segundo turno debatendo questões do retrovisor, olhando para trás e não para o futuro do Chile”, disse Ominami.
As duas candidatas têm posições diferentes sobre o papel de Pinochet.
Matthei disse ver “coisas boas e ruins” no governo Pinochet; já Bachelet, filha de um general do governo Salvador Allende, derrocado pelo golpe, não respondeu aos comentários dos opositores.
Segundo especialistas chilenos, ela tenta se distanciar de polêmicas, já que pode vencer ainda no primeiro turno.
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