Em artigo no Estadão, Bando do Velho Jack é apontado como exemplo de rock nacional

Rock deve ser cantado em inglês? É admissível que seja cantado em outra língua? Sempre defendi a primeira hipótese, e isso acabou incomodando alguns leitores do Combate Rock. Em momentos de xiismo e radicalismo, não aceito ouvir rock sem ser em seu idioma oficial. Em outros momentos, até admito uma ou outra exceção. Já ouvi […]

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Rock deve ser cantado em inglês? É admissível que seja cantado em outra língua? Sempre defendi a primeira hipótese, e isso acabou incomodando alguns leitores do Combate Rock.

Em momentos de xiismo e radicalismo, não aceito ouvir rock sem ser em seu idioma oficial. Em outros momentos, até admito uma ou outra exceção. Já ouvi algumas coisas que chamaram a atenção em português, espanhol, italiano, sérvio, lituano, russo e húngaro. Mas nada que fosse realmente relevante nestas línguas.

Cresci atormentado pelo chamado rock brasileiro no final dos anos 70 e década de 80. Por mais que me esforçasse, meu interesse por bandas nacionais que cantavam em português era quase nulo. Ainda assim reconheço méritos grandes no trabalho de Paralamas do Sucesso, Golpe de Estado, Made in Brazil, Ira!, Titãs – assisti a milhares de shows destas bandas.

Eu me divertia com o Ultraje a Rigor, mas não os levava a sério. Gostava da pancadaria sonora de Cólera, Ratos de Porão e Garotos Podres, as únicas bandas, ao lado do Golpe de Estado, que me fizeram comprar LPs de rock brasileiro. Apesar de tudo isso, meu interesse por bandas de rock do exterior era infinitamente maior.

A partir de 2005 comecei a prestar um pouco mais de atenção a um certo movimento hard rock cantado em português no Brasil. Surgiam, ou ao menos despontavam, bandas formadas por excelentes músicos que não fariam feio na Inglaterra. Chamou-me a atenção o Bando do Velho Jack, de Mato Grosso do Sul.

Em seguida, achei bem interessante o hard funk do Mustang, liderado por Carlos “Vândalo” Lopes, guitarrista e vocalista do extinto Dorsal Atlântica.

As letras e temas das músicas dessas bandas não me agradam muito, até diria que não são lá essas coisas, mas musicalmente conseguiram fazer com que o rock em português ficasse palatável e audível, em nível muito superior ao tipo de música praticado por gente como RPM, Legião Urbana e toda uma série de grupos fracos dos anos 80.

Sendo assim seguem algumas impressões sobre o que existe de melhor no rock brasileiro atual em português – para o bem ou para o mal, nehuma delas toca no rádio ou faz sucesso ainda. São bem melhores do que os lixos que vemos na TV e ou nas emissoras de rádio, como as bandinhas emo, certas cantorazinhas que fazem um pop rasteiro achando que é rock e grupelhos com roupas coloridas:

Bando do Velho Jack – São 15 anos de carreira de muito blues e southern rock. Ao contrário das porcarias sertanejas, que não passam de cópias malfeitas do pior country norte-americano, o grupo de Mato Grosso do Sul é o que há de melhor no rock em português atualmente. O quinteto aposta em releituras de músicas regionais do Mato Grosso do Sul, transformando-as em potentes rock – como o clássico pantaneiro “Trem do Pantanal” (Paulo Simões/ Geraldo Roca), sucesso na voz de Alimir Sater. É para quem gosta de Rolling Stones, Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd. Já lançou quatro CDs.

Cracker Blues – Segue a mesma trilha do Bando do Velho Jack, mas com muito mais humor nas letras, embora estas não sejam tão inspiradas. O grupo paulistano já tem um CD na praça e começa a ganhar o circuito do interior do Estado, mostrando que tem um vasto mercado. Foi formado no ano 2000, fortemente influenciada pelo Blues Texano, Rock Sulista Americano e Country, além do blues acústico do Delta do Mississipi. No início, executava repertório composto por obras de Robert Johnson, ZZ Top, Allman Brothers, Jimi Hendrix, Stevie Ray Vaughan, Sonny Boy Willianson II, entre outros, e posteriormente passou a incluir composições próprias em português.

Mustang – Carlos “Vândalo” Lopes criou o seu power trio de hard soul e rhythm’n blues enquanto ainda era o líder da Dorsal Atlântica , banda pioneira no heavy metal nacional, nos anos 80. Quando percebeu que o Mustang tinha mais mercado e melhor aceitação, aos poucos foi deixando a banda original morrer de inanição. O novo trio nada tem de excepcional, mas a garra e a vontade de Lopes em permanecer na música – é jornalista e trabalha muito – merecem destaque. A música da banda pode não ser um grande trunfo, mas as letras das músicas são muito boas. Se o Los Hermanos tivesse o mesmo nível lírico – ou gravasse as músicas de Lopes – seria uma coisa de qualidade.

Baranga – Quarteto explosivo de São Paulo que aposta em uma mistura de AC/DC e Motorhead, com letras óbvias relacionadas às duas bandas, ou seja, não espere nada de Bob Dylan. Não estaria errado dizer que é a banda mais barulhenta do Brasil hoje. Já lançou dois CDs, “Baranga” (2003) e “Whiskey do Diabo” (2005).

Matanza – Não é um clone do Baranga, mas é mais pesada, com letras com um pouco mais de humor. Seu integrantes falam em mistura de country, hardcore e heavy metal. Prefiro dizer que um hard rock bem pesado e muito bem tocado, com uma timbragem que remete ao stoner metal. Já são 15 anos de carreira e cinco álbuns, sendo um dedicado completamente à obra de Johnny Cash – portanto, cantado em inglês.

Carro Bomba – Mais AC/DC na parada. Está mais para o Baranga do que para o Matanza, seguindo uma linha hard mais pesada e não investindo muito em letras engraçadinhas. Também é som de festa, mas tem peso de sobra para agradar a qualquer metaleiro. Já gravou quatro CDs, e o mais novo deles é o melhor, “Carcaça”.

Motorocker – A mais AC/DC de todas, e também a mais antiga em atividade. Foi fundada em 1993, apesar de só ter dois álbuns lançados. O nome do primeiro, de 2006, “Igreja Universal do Reino do Rock”, já dá ideia do tipo de letras que eles cometem – embora a música-símbolo seja “Blues do Satanás”, bem sintomática. Para ouvir bem alto em festas, dirigindo em estrada boa ou simplesmente em casa para atormentar os vizinhos.

Pedra – Mais próxima de uma MPB de qualidade e nem tão pesada, o Pedra tem o grande mérito de fazer um som versátil e inteligente, com letras acima da média do que se vê na pobreza do rock nacional atual e da MPB cada vez mais caindo para o samba de péssima qualidade. O quarteto de São Paulo, com dois CDs lançados, é proavelmente tudo o que Los Hermanos e Legião Urbana gostariam de ser, mas jamais serão.

Tomada – Rolling Stones até a medula óssea, com DNA e tudo. Em seu primeiro CD, “Tudo Em Nome Do Rock & Roll”, que traz onze canções, eles mostram um rock limpo e muito bem executado, também com influências de blues e soul à la Stevie Wonder. Não tem o peso dass anteriores e nem a versatilidade do Pedra, mas faz um som dos mais agradáveis. Quem bom seria se o Skank soasse como o Tomada…

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