Em 2012, Petrobras teve segundo melhor investimento em doze anos

 Em meio à polêmicas sobre o aumento do preço da gasolina e a queda das ações nos últimos dias, o Grupo Petrobras investiu R$ 85,9 bilhões em 2012. Em valores constantes (atualizados pelo IGP-DI, da FGV), o montante é o segundo maior desde pelo menos 2000, perdendo apenas para 2010, quando R$ 86 bilhões foram […]

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 Em meio à polêmicas sobre o aumento do preço da gasolina e a queda das ações nos últimos dias, o Grupo Petrobras investiu R$ 85,9 bilhões em 2012. Em valores constantes (atualizados pelo IGP-DI, da FGV), o montante é o segundo maior desde pelo menos 2000, perdendo apenas para 2010, quando R$ 86 bilhões foram aplicados.

O valor desembolsado no ano passado representa 98,1% dos R$ 87,5 bilhões autorizados para o ano. Percentualmente, é a melhor execução em 12 anos. Segundo a estatal, o valor está de acordo com o previsto no Plano de Negócios e Gestão 2012 – 2016 que prevê investimentos de R$ 416,5 bilhões nos cinco anos o que representa a média de US$ 83,3 bilhões anuais.

 “Os recursos foram aplicados, principalmente, nas atividades de exploração e produção e direcionados para o aumento da capacidade produtiva, modernização e ampliação do parque de refino e integração e expansão dos sistemas de transporte”, afirma a companhia. O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edmar Almeida, afirmou que o aumento é consequência da estratégia da companhia.

“O governo decidiu se lançar num grande esforço de investimento, notadamente em exploração e produção (pré-sal) e também aplicações na parte de refino. Se olharmos para a história da Petrobras, esses investimentos se alternam. Agora o governo se lançou em duas frentes de batalha ao mesmo tempo, aumentando muito o nível de investimento”, explica.

 Segundo o professor é uma estratégia boa para o país, mas muito arriscada para a empresa. “Esse é um risco para a empresa, que fica em situação de vulnerabilidade financeira. É um experimento, um período de desafio para enfrentar essas duas frentes de batalha ao mesmo. O risco é de uma crise financeira, por esse passo audacioso”, afirma.

 Desde o começo do ano passado quem comanda a Petrobras é Graça Foster, conhecida pela eficiência técnica e pela dureza no trato profissional. A engenheira substituiu José Sergio Gabrielli, que recebeu convite do governador da Bahia, Jacques Wagner, para participar do governo do estado. Apesar de ter afirmado que sua gestão à frente da empresa seria de “continuidade”, segundo analistas, a expectativa era que a mudança imprimisse uma gestão mais técnica e menos política à empresa, favorecendo o cumprimento das metas de crescimento do governo.

 Questionada pelo Contas Abertas, a estatal não quis comentar se o ritmo de investimentos tem relação com a mudança. Para Roberto Piscitelli, economista da Universidade de Brasília (UnB), apesar de ser uma avaliação difícil, realmente fica a impressão de que a atual presidente da República, Dilma Rousseff, está muito mais à vontade com o comando de Graça Foster. “Gabrielli estava, e está, muito mais envolvido com a política partidária e, inclusive, com o seu futuro eleitoral”, ressalta o economista.

Apesar do recorde, a dotação deste ano (R$ 87,5 bilhões) reverte a ascensão que vinha ocorrendo até 2011, quando foram autorizados investimentos de R$ 92,4 bilhões. Preço da gasolina Depois de diversas pressões ocorridas durante 2012, no começo da semana a Petrobras anunciou o reajustou os preços da gasolina e do diesel, que já chegou às bombas de consumo da população. O aumento no preço da gasolina é benéfico para a Petrobras, que apresentou prejuízo na área de abastecimento.

A estatal estava importando combustível do exterior por preços mais altos do que os revende no mercado interno porque o governo, controlador da Petrobras, não permitia o repasse da instabilidade dos preços do petróleo para os combustíveis. Segundo explica Piscitelli, a contenção de preços reduz a capacidade da empresa de gerar recursos próprios para os seus investimentos.

 “O que a torna, por assim dizer, mais dependente das políticas comuns ao setor público de um modo geral”. O economista ressalta que preços muito “controlados” podem afetar a imagem da empresa, de sua autonomia, em face dos investidores externos. “Afinal, trata-se de uma empresa transnacional, que têm ações em outras bolsas”, explica Piscitelli.

 “Ao segurar os preços, o governo evita que os efeitos se propaguem e contaminem a inflação. A classe média expandida agradece ao governo quando o preço do combustível fica congelado. De qualquer maneira, faltam parâmetros para orientar as decisões a respeito. Nas circunstâncias atuais, fica tudo arbitrário e dependendo exclusivamente de decisão política”, explica.

O aumento, no entanto, não trouxe alívio às ações da empresa, que caíram até mais de 5% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Analistas previam uma alta maior no preço dos combustíveis. O reajuste de 6,6% na gasolina e de 5,4% no diesel, nas refinarias, vai reforçar o caixa da Petrobras em R$ 540 milhões por mês, preveem especialistas, porém será insuficiente para cobrir a defasagem entre os preços no mercado interno e os praticados no exterior.

 Questionada pelo Contas Abertas sobre a capacidade de investimento da empresa em 2013, a assessoria da Petrobras informou apenas que as fontes de recursos da companhia para investimentos estão previstas no Plano de Negócios e Gestão e são originárias de uso do fluxo de caixa próprio, captações e desinvestimentos. Para o Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), antes do reajuste a empresa perdia R$ 1,7 bilhão por mês com a defasagem.

Agora, o prejuízo será de R$ 1 bilhão. O CBIE estima que, mesmo após o reajuste, a defasagem da gasolina está em 11,2% e a do diesel, em 19,7%. O reajuste era muito necessário, mas não veio quanto o mercado esperava, que era entre 7% e 10% – disse Emerson Leite, chefe da área de análise de ações do banco Credit Suisse First Boston, ao jornal o Globo, que vê a defasagem da gasolina agora em 13%, e a do diesel, em 24%.

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