O empresário Eike Batista completa neste domingo 57 anos em meio a uma crise profunda no seu império industrial que já chegou a valer cerca de US$ 60 bilhões. A petroleira OGX, considerada a joia da coroa de seu conglomerado EBX, entrou com pedido de concordata na quarta-feira após terem fracassado as negociações com credores.

Outras empresas do grupo também enfrentam problemas. A OSX, empresa de construção naval, informou na última semana que também poderá exercer direito legal à recuperação judicial caso a administração da empresa considere a medida adequada para a continuidade dos negócios.

Segundo a agência Bloomberg, Batista era, em março de 2012, o oitavo homem mais rico do mundo, com um patrimônio estimado em US$ 34,5 bilhões (R$ 78 bilhões em valores atuais). Agora, teria uma fração disso: menos de US$ 500 milhões líquidos (R$ 1,1 bilhão), segundo estimativa de agosto.

Em julho, Eike renunciou à presidência e do conselho de administração da MPX (atual Eneva), empresa de energia do conglomerado.O empresário ainda deixou o cargo de presidente do Conselho da LLX, do ramo de logística. A MMX Mineração já conseguiu alguns parceiros internacionais para seguir os negócios, o mesmo deve acontecer com a CCX Carvão.

Em entrevista ao The Wall Street Journal em setembro, Eike Batista afirmou que foi enganado por seus ex-executivos, o qual costumava a chamar de “Dream Team” (time dos sonhos), e disse ainda que seu mapa astral não o favorecia durante o anúncio de que a OGX não conseguiria produzir o que havia prometido e que até mesmo seus investidores o abandonaram muito rápido. Apesar da crise, dono do grupo EBX disse que voltará a ganhar dinheiro com suas empresas.

Histórico

Eike Fuhrken Batista ganhou projeção nacional como o empresário que melhor encarnou a euforia internacional com a economia brasileira, uma das menos atingidas pela crise financeira de 2008. Com um estilo arrojado de fazer negócios e considerado visionário por seus pares, ele se aproveitou do apetite chinês por commodities e da abundância de matérias-primas no Brasil para vender o otimismo com que investidores de todo o mundo viam o país.

O pano de fundo era positivo. O pré-sal havia sido descoberto, e milhares de brasileiros ascenderam à classe média. Ambicioso, Batista apostou alto. Fluente em cinco línguas, o filho de um ex-ministro de Minas e Energia e ex-presidente da Vale durante o governo militar montou um império de empresas em diversos setores, do petróleo ao entretenimento.

Para concretizar sua ideia, no entanto, o empresário precisava de capital novo. O caminho encontrado foi a abertura de suas empresas na bolsa de valores, por meio de IPO’s (Oferta inicial de ações, na sigla em inglês), realizados entre 2006 e 2010. O ponto alto veio com o início da negociação dos papéis da OGX. Foi o maior IPO da história da Bovespa. Até pouco tempo, a OGX era considerada a principal empresa do conglomerado.

Estrategicamente ou não, a vida pessoal do empresário também colaborou para construir o mito em torno de sua personalidade, o de um empreendedor nato, inspiração para milhões de brasileiros. Por muito tempo casado com a ex-modelo Luma de Oliveira, musa do Carnaval carioca, com quem teve dois filhos, Thor e Olin, o empresário aparecia com frequência no noticiário brasileiro e internacional.

Além do dia a dia da administração de seu império, também encontrava tempo para divulgar ações principalmente em prol da cidade que o acolheu, o Rio de Janeiro, como a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, a reforma do tradicional Hotel Glória, e a construção de Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) em comunidades carentes.

Também mantinha estreito contato com políticos. Em setembro de 2012, o empresário emprestou um jato ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, para uma festa no Sul da Bahia, promovida pelo dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, condenado meses depois por desvio de verba federal. Recentemente, uma das empresas do grupo, a IMX, de entretenimento, venceu a licitação para administrar o Maracanã pelos próximos 35 anos. O leilão foi cercado de polêmicas, uma vez que a própria companhia havia sido responsável pelo estudo de viabilidade econômica do estádio.

Queda
Para economistas, a crise atravessada pelo império de Batista ganhou força a partir do momento em que investidores perceberam que os resultados de suas empresas não corresponderiam às suas promessas. Nesse contexto, a derrocada da OGX foi um duro golpe na saúde financeira do grupo. O campo de Tubarão Azul, que deverá interromper suas operações no ano que vem, era até então o único produtor de petróleo da empresa. Inicialmente, a companhia previa reservas de até 110 milhões de barris no local. Além disso, analistas dizem que a forma como se desenrolar a recuperação judicial da OGX na Justiça brasileira pode servir de termômetro para futuros investimentos estrangeiros no Brasil.