Diesel de dendê pode ser mais poluente que o de petróleo, alerta estudo

Uma das apostas do Brasil para reduzir sua dependência do petróleo é investir em combustíveis produzidos a partir de plantas, seja o conhecido etanol de cana-de-açúcar ou, mais recentemente, o biodiesel feito de óleo de palma, o famoso dendê. O governo brasileiro e empresas como Petrobras e Vale estão investindo pesado no óleo de palma, […]

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Uma das apostas do Brasil para reduzir sua dependência do petróleo é investir em combustíveis produzidos a partir de plantas, seja o conhecido etanol de cana-de-açúcar ou, mais recentemente, o biodiesel feito de óleo de palma, o famoso dendê.

O governo brasileiro e empresas como Petrobras e Vale estão investindo pesado no óleo de palma, especialmente por causa de sua alta produtividade, em comparação com outras opções agrícolas para a produção de biodiesel.

No entanto, o coro dos ambientalistas — que criticam a exploração do dendê para esse fim — acaba de ganhar mais um apoio importante.

Duas pesquisadoras do Instituto de Estudos de Transportes da Universidade da Califórnia, em Davis, publicaram nesta quinta-feira um estudo, fazendo um alerta sobre como a produção de biodiesel de óleo de palma, no Pará, pode gerar muito mais emissões de CO2 do que a do diesel tradicional, feito de petróleo.

A pesquisa, feita por Sahoko Yui e Sonia Yeh, afirma que o governo brasileiro precisa intensificar a fiscalização contra o desmatamento de florestas para o plantio de palmeira de dendê.

Caso contrário, a expansão do setor pode se tornar inviável sob o prisma de se ter outra fonte de energia renovável, não apenas ampliando a emissão de poluentes mas também intensificando o desmatamento da floresta amazônica no Pará, maior produtor de dendê.

Cadeia de produção

As duas pesquisadoras usaram um modelo de cálculo que leva em conta toda a cadeia produtiva do óleo de palma, incluindo as emissões da extração em si, da mudança no uso de terras em áreas vizinhas ao plantio e do transporte necessário para levar a produção até os locais de escoamento.

Segundo elas, o governo não está levando em consideração as emissões provenientes do transporte, que são especialmente importantes dada as amplas distâncias a serem percorridas em um estado grande como o Pará.

Publicada na revista Environmental Research Letters, o estudo criou três cenários diferentes para analisar, durante três décadas, a quantidade de carbono emitido durante a produção do óleo de palma.

A principal diferença entre os cenários é a possibilidade de o plantio da palmeira não ocorrer apenas em áreas já desmatadas, como determina o Zoneamento Agroecológico da Palma, mas tomar áreas protegidas, diante da fiscalização precária na região.

No primeiro cenário, apenas um terço das plantações aconteciam em regiões já desmatadas, com o restante ocupando áreas de conservação ambiental e em terras indígenas.

No segundo e no terceiro, uma proporção maior das plantações (46% e 78%, respectivamente) ocorria em áreas já desmatadas.

Em cada cenário, 22,5 milhões de hectares de terra foram usados para a plantação, gerando quase 110 bilhões de litros de biodiesel por ano.

No primeiro e no segundo cenários, onde havia nenhuma ou pouca fiscalização, a mudança no uso da terra resultou em, respectivamente, 84 e 69 gramas de CO2 emitidas por megajoule. De acordo com a Comissão Europeia, a intensidade da emissão de carbono com o diesel é de 83,3 gramas de CO2 por megajoule.

No entanto, as pesquisadoras deixam claro que se a extração, o refino, o transporte e a combustão real do biodiesel forem levados em consideração e adicionados às emissões calculadas nesses dois cenários, o total de emissões vai superar em grande escala a do diesel.

“Se o governo brasileiro quer promover políticas que encorajem o uso de terras desmatadas próximas de áreas ambientalmente e ecologicamente sensíveis, então ele também deveria considerar as consequências associadas à fiscalização precária, se quiser evitar danos irreversíveis ao meio ambiente”, disse Yeh.

Olho grande

A produção de biodiesel é uma das bandeiras do governo brasileiros nos últimos anos. Em 2006, de acordo com o estudo, o país produziu 69 milhões de litros do produto. Hoje, essa produção é estimada em 3 milhões de litros — mais de 80% proveniente da soja, de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Mas o dendê vem ganhando espaço por sua produtividade ser maior do que outras opções para produções de biodiesel. Enquanto a soja produz cerca de 550 quilos de óleo por hectare, o dendê produz 6 mil quilos por hectare, ainda segundo a Embrapa.

Além disso, o dendê seria vantajoso economicamente também por precisar de pouca tecnologia para ser colhido e por crescer em solos pobres.

O investimento no setor provém ainda da necessidade de se aumentar a produção de biocombustível para suprir o crescimento da frota de automóveis no país (cerca de 150% nos últimos 12 anos), além da demanda do mercado de biocombustível para a indústria da aviação e da quantidade mais elevada do produto no óleo diesel.

Recentemente, o governo aprovou uma lei para destinar 4,3 milhões de hectares de áreas desmatadas para o plantio de palma, a maioria no norte do Pará, segundo o estudo da Universidade da Califórnia. O governo também identificou mais de 30 milhões de hectares de terras fora de áreas protegidas que são aptas para o cultivo.

Essa expectativa vem sendo aproveitada por empresas como Petrobras e Vale, que em 2001 comprou uma das maiores companhias do setor, a BioPalma, e anunciou que pretende investir quase R$ 1 bilhão para nos próximos anos.

Questionado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário não comentou o assunto por ainda estar analisando a pesquisa.

Ambientalistas criticam a expansão do plantio da palma, por considerarem que ele seja um dos maiores responsáveis pelos desmatamentos mundo afora.

O principal foco do problema é na Indonésia e na Malásia, os maiores produtores de dendê. Nesses países o plantio é feito em florestas, minando a biodiversidade local, expulsando de suas terras animais como tigres de Sumatra e orangotangos.

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