Nada de cruz de ouro, apetrechos na roupa, sapato vermelho ou carros de luxo. A ordem é do papa Francisco, num esforço de trazer a Igreja mais próxima do povo. Mas, se as iniciativas causaram elogios, não são poucos os que se queixam: os “órfãos” do papa emérito Bento XVI, que aceitou e deu certo valor a ritos, ornamentos e imagens. Vendedores, comerciantes, alfaiates e até uma prefeitura estão hoje preocupados com as atitudes do novo papa, que já significam prejuízos.

A austeridade deixa uma parte da economia das ruas próximas ao Vaticano com saudade das épocas de pompa. Francisco deixou de comprar e, com os duros recados, assessores, religiosos e dezenas de bispos optaram por seguir as palavras do chefe. Um dos afetados é o sapateiro que ganhou fama internacional ao fabricar os sapatos vermelhos que Bento XVI usava nos eventos importantes. O peruano Antonio Arellano mantém, há 15 anos, loja numa das ruas próximas do Vaticano. “Acho que não será para esse (papa) que vamos vender”, admitiu.

Quem também não está nada satisfeita é a gerência da loja que há séculos fornece as roupas aos papas. Durante o conclave, os Gammarelli anunciaram que estavam pondo à disposição três tamanhos de roupas. Mas Francisco foi taxativo no momento da nomeação: “Acabou o carnaval”. Nada de vendas. O mesmo impacto foi sentido por lojas e fornecedores de arte religiosa e ornamentos – agora em queda.

Pior para Castel Gandolfo, que recebe papas desde o século 19. Neste ano, Francisco já avisou que não vai tirar férias de verão. A questão é que Castel Gandolfo vive da presença do pontífice. Quando ele está lá, a população dobra, os hotéis lotam e a estadia garante a economia local por meses.

Há uma semana, a prefeita Milvia Monachesi não escondia o desespero e reiterava convites para o papa pelo menos visitar o local. Só numa loja mantida por duas argentinas em Castel Gandolfo não há surpresa. “Ele (Bergoglio) foi sempre assim”, afirmou Cristina, uma das donas. “Chegava e pedia a camisa mais simples, a que menos chamava a atenção.