Depois de dosímetro, reabertura de radioterapia do HU esbarra em demissões

Apos resolver o problema do equipamento e estar pronto para funcionar, setor de radioterapia se mantém fechado porque médicos se demitiram

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Apos resolver o problema do equipamento e estar pronto para funcionar, setor de radioterapia se mantém fechado porque médicos se demitiram

Mesmo com o problema com o dosímetro regulado e em perfeito funcionamento, a radioterapia do HU (Hospital Universitário) da UFMS em Campo Grande vai continuar sem atender pacientes. O problema agora é o pedido de demissão dos dois médicos que trabalhavam no setor.

Marco Antônio Rizza e Paula Laraia pediram as demissões logo após a regulagem do dosímetro, que, na teoria, permitiria a volta dos atendimentos na radioterapia.

A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e pelos próprios profissionais, que são funcionários da Neorad, clínica envolvida em escândalos de desvio de dinheiro do SUS (Sistema Único de Saúde). Sem os médicos, não há previsão de volta do funcionamento da radioterapia.

O pedido simultâneo de demissão causou “estranheza” em servidores hospital. “Logo que arrumou o dosímetro foi mandado um comunicado interno pedido a imediata reabertura da radioterapia. Mas aí os médicos saem”, comentou um servidor do setor, que preferiu não se identificar, lembrando ainda que os profissionais atuam na Neorad.

A UFMS, via assessoria de imprensa, informou que não tem prazo para a reabertura da radioterapia, já que médicos especialistas neste ramo são raros em Mato Grosso do Sul.

Já o MPF (Ministério Público Federal) garantiu que acompanha a situação da radioterapia do Hospital Universitário.

Antes da demissão, o problema era com o dosímetro da  máquina de radioterapia. O defeito foi arrumado após cobrança do MPF.

Só no HU

Questionados, Marco Antônio e Paula Laraia se limitaram a dizer que as informações sobre a demissão foram entregues ao HU. “Nem lembro mais quando pedi demissão, mas só ver no HU”, comentou Marco Antônio.

“Não tenho o que falar, está tudo no HU”, limitou-se a dizer Paula. Ambos, porém, confirmaram o pedido de demissão, mas se negaram a dizer o motivo.

Fechamento

A radioterapia do HU estava fechada desde 2008 e retomou os serviços em 2013. Entretanto, no último dia 12 de junho o vice-reitor João Tognini e o diretor Cláudio Saab anunciaram o fechamento da unidade de radioterapia, após cerca de dois meses da reabertura.

Nesse período 26 pacientes passaram por consultas, sendo que cinco deles iniciaram os tratamentos contra câncer de pele e três de mama, além de outros 18 que seriam atendidos com o aparelho de cobaltoterapia.

Segundo o diretor do HU, dentre as 22 irregularidades encontradas pelo Cnen estavam e falta de registro de um dos médicos, adaptação da sala de radioterapia e até mesmo contaminação radioativa.

O Ministério Público Federal que fiscaliza a vistoria do Cnen teria encontrado apenas um dosímetro desregulado, o qual foi imediatamente substituído.

Com o fechamento do setor, um comunicado foi encaminhado para a Central de Regulação e os pacientes foram redistribuídos, direcionando toda a demanda de MS da radioterapia de volta para as mãos da clínica Neorad.

A Neorad, de propriedade do médico Adalberto Abrão Siufi, está sendo investigada pela Polícia Federal na Operação Sangue Frio, por fazer parte de um esquema que envolve cobrança do SUS de tratamento de quimioterapia em morto, nepotismo, compra de materiais de empresa de sócio do hospital e fraude em constituição de empresa, entre outras.

Após o escândalo da operação, o diretor do HU, José Carlos Dorsa foi exonerado a pedido, a diretoria do Hospital do Câncer foi afastada, a Secretaria Estadual de Saúde Beatriz Dobashi foi exonerada a pedido e o diretor do Hospital Regional Ronaldo Perches foi destituído.

Operação Sangue Frio

Em 2012 o HU chegou a ser obrigado judicialmente a receber os investimentos de oncologia do Ministério da Saúde. Logo depois, o hospital foi alvo da Operação Sangue Frio da Polícia Federal, junto com o Hospital do Câncer Alfredo Abrão, em Campo Grande, por suspeita de desvio de recursos do SUS.

A Operação foi deflagrada no dia 19 de fevereiro, com efetivo de mais de cem policiais e 15 servidores da CGU (Controladoria Geral da União) que cumpriram 19 mandados de busca e apreensão e 4 ordens judiciais de afastamento de servidores no HU, entre eles o ex-diretor Geral, José Carlos Dorsa.

Os crimes investigados são: fraude em licitação, superfaturamento, corrupção passiva, peculato e formação de quadrilha. Quatro meses após a operação, as investigações continuam sem nenhuma condenação.

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