Debate sobre saúde faz profissionais admitirem descaso no atendimento público em Campo Grande
Uma audiência pública realizada na Câmara de Campo Grande nesta segunda-feira (15) para discutir o “Programa Mais Médicos”, criado pelo Governo Federal para resolver os problemas na Saúde do País, trouxe para a Câmara uma discussão sobre o descaso dos próprios profissionais com os pacientes. Os médicos que integravam a mesa Luiz Henrique Mascarenhas (presidente […]
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Uma audiência pública realizada na Câmara de Campo Grande nesta segunda-feira (15) para discutir o “Programa Mais Médicos”, criado pelo Governo Federal para resolver os problemas na Saúde do País, trouxe para a Câmara uma discussão sobre o descaso dos próprios profissionais com os pacientes.
Os médicos que integravam a mesa Luiz Henrique Mascarenhas (presidente do Conselho Regional de Medicina, Mauro Ribeiro (representante do Conselho Federal de Medicina) e Paulo Siufi (presidente da Comissão de Saúde da Câmara) afirmaram que falta estrutura e não mais médicos na Saúde. Mas, foram surpreendidos pela presidente do Conselho Regional de Enfermagem, Amarilis Pereira Amaral, que denunciou o descaso de alguns profissionais.
A presidente do conselho observou que não adianta um médico assumir o compromisso de atender na rede pública se não fizer um serviço de qualidade. Ela ressaltou que a Organização Mundial da Saúde avalia que um médico deve atender 16 pacientes em um período de quatro horas diárias. Porém, isso não quer dizer que ele não deve cumprir a carga horária. A enfermeira relatou que muitos médicos atendem os 16 pacientes em uma hora e vão embora do posto. “Se não pode cumprir um compromisso, não pode assumir o segundo”, criticou.
Amarilis lembrou do caso de uma médica que, por capricho, deixou um paciente esperando em um posto de saúde por mais de uma hora, dizendo: “quem mandou vir buscar médico à noite”. Utilizando o questionamento de muitos médicos, de que a presidente Dilma Rousseff (PT) não pode autorizar a contratação de médicos estrangeiros sem passar pelo exame que testa os conhecimentos, o chamado “Revalida”, a enfermeira disse que muitos profissionais formados no País não passariam no teste de ética se fosse matéria da prova.
A diretora administrativa do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul, Luzia Santana, disse que não faltam profissionais, mas sim estrutura para o atendimento. Ela confirmou a denúncia da presidente do Conselho dos Enfermeiros, revelando que muitos médicos são procurados pelos prefeitos com a condição de não cumprir a carga horária de quatro horas. Porém, salientou que a falta de responsabilidade não é só dos médicos. Ela recordou que certa vez encontrou uma enfermeira jogando cartas em meio a um caos em um posto.
O representante do Conselho Federal, Mauro Ribeiro, acredita que o problema principal é a falta de política de Estado. Ele lembrou que o problema não é de um ou de outro governo, mas de todos os presidentes, que acabam entrando e mudando toda a política de atendimento, sem uma continuidade.
O vereador Alex do PT defendeu a contratação de médicos do exterior, mas fez questão de ressaltar que o Governo Federal está priorizando os médicos brasileiros. Todavia, revelou que vários países também optaram por contratar estrangeiros. Ele citou o caso dos Estados Unidos, onde 25% dos médicos são estrangeiros, e da Inglaterra, que tem 40% de estrangeiros atuando no País. Mauro Ribeiro fez questão de rebater o vereador, afirmando que nestes países os médicos são obrigados a fazer exame para validar o diploma.
O vereador Paulo Siufi, que também é médico, lembrou da dificuldade de conseguir profissionais para atuar no interior do Estado. Ele explicou que o profissional não tem segurança para deixar a Capital e ir para o interior, visto que as indicações são políticas e os profissionais correm o risco de serem demitidos com a troca de comando. Na avaliação dele, falta um plano de cargos e carreiras para a categoria.
Encaminhamentos
Ao final da audiência os participantes concluíram que o programa do Governo Federal é bem vindo, mas que é preciso investir em aparelhos, para que sejam garantidos pelo menos os exames básicos; na compra de remédios e na contratação de equipes multidisciplinares, necessárias para melhorar o atendimento.
Os participantes da audiência pública discordam da proposta de aumentar o período de estudo, de seis para oito anos. Eles entendem que com a estrutura que o País tem, será impossível criar mais 12 mil vagas nas universidades. O parecer dos participantes da audiência será encaminhado ao Governo Federal por meio do Conselho Federal de Medicina.
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