Crescimento na venda de produtos roubados no centro de Campo Grande preocupa lojistas
Eles dizem que crime ocorre porque traficantes e receptadores se instalaram no local para comprar produtos por um preço vantajoso. Só no mês passado 40 foram presos.
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Eles dizem que crime ocorre porque traficantes e receptadores se instalaram no local para comprar produtos por um preço vantajoso. Só no mês passado 40 foram presos.
Que o centro de Campo Grande está tomado por usuários de drogas todo mundo já sabe, principalmente no período noturno. A novidade, que vem tirando a paz de comerciantes, é que a cada dia cresce a quantidade de receptadores e traficantes na região.
E eles aparecem principalmente quando estes usuários saem ‘à caça’ de novas vítimas, que estão saindo do trabalho, para cometer pequenos furtos, vender a ‘preço de banana’ para os receptadores e com o dinheiro comprar entorpecentes.
“Aqui durante o dia é tranquilo. Mas, a noite, quando a gente está indo embora, é que a criminalidade acontece. O meu comércio recentemente foi assaltado cinco vezes. Eles arrombaram as portas e levaram cigarros, relógios, óculos e bijuterias. Da última vez, liguei para a polícia poucos minutos depois e me disseram que estavam sem viatura”, desabafa a comerciante F.R., 53 anos.
Comerciante diz que investigou crimes e descobriu até o nome de um dos receptadores
Do último roubo, F. conta que saiu de casa para trabalhar e ‘deu de cara’ com as várias almofadas que acomodavam os seus relógios. “Encontrei em uma sacola no caminho, logo cedo, e já entendi que tinha sido roubada. O pior é que com isso eu mesma comecei a investigar e descobri até o nome de um dos receptadores, que inclusive é funcionário de uma conveniência próxima ao camelódromo”, garante a comerciante.
A pessoa quem ela denuncia estaria comprando os pacotes de cigarros a R$ 2. “É muito vantajoso eles comprarem porque eu vendo a unidade a R$ 5,50. E com todos esses furtos eu já tive o prejuízo de R$ 2 mil só nos cigarros, sem falar nas outras mercadorias. Com o dinheiro, os usuários adquirem drogas e com isso os roubos e furtos não acabam nunca. Só na sexta-feira prenderam em flagrante dois traficantes na praça Ary Coelho”, comenta a comerciante que há 33 anos está instalada no mesmo local.
Nas quadras abaixo, como a rua 15 de novembro e a sete de setembro, as reclamações são as mesmas. “Aqui foram quatro furtos. Enquanto não reforçamos a segurança, com cerca elétrica e monitoramento, com alarmes nas portas, eles não pararam. E são os mesmos que dizem estar cuidando carro durante o dia, quando na verdade estão analisando que locais vão furtar mais tarde”, diz o vendedor Victor Alexandre Pereira, 21 anos, logo após mostrar para a reportagem o local onde os adolescentes invadiam o comércio (vide foto capa).
Outra dona de loja de roupas fala que adolescentes a todo o momento oferecem produtos suspeitos
Numa loja de roupas usadas, da rua Sete de Setembro, que já foi vítima de ladrões três vezes em 2012, a proprietária conta ao Midiamax que menores a todo o momento oferecem produtos. “Nós compramos mais mercadorias de mulheres, que trazem roupas da família. Já aconteceu de ladrões roubarem aqui e voltar no outro dia para nos oferecer as nossas coisas. Um absurdo, mas na ocasião eles foram presos”, afirma.
Polícia diz traçar estratégias para tirar criminosos de circulação na região
Ciente de todos os relatos, principalmente no ‘pico’ que vai das 19h até as 23h, a polícia diz que traça uma estratégia para acabar de vez com os criminosos no centro da Capital, algo que a reportagem não pode citar para não atrapalhar nas investigações.
“Para nós, o receptador é um bandido três vezes pior do que o assaltante. Este coloca a arma na cara da pessoa e, sob ameaça, rouba o seu relógio, por exemplo. A vítima fica com depressão, medo de sair de casa e também na rua. E, no meio disso tudo vem um elemento e compra o objeto por R$ 10, alimentando ainda mais o crime”, explica o delegado Wellington de Oliveira, titular da 1ª Delegacia de Polícia.
Em janeiro deste ano, foram constatados 41 roubos naquela região. Furtos 170, além de cinco traficantes presos e 40 receptadores. Das receptações, de acordo com a Polícia Civil, 45% configuraram auto de prisão em flagrante delito, levando 18 pessoas para a cadeia. Já o restante dos casos se enquadra na receptação culposa, quando o indivíduo comprova que pagou um preço semelhante ao que vale o produto.
Considerando a região central como um complexo que vai da avenida Mato Grosso até a Fernando Côrrea da Costa, o delegado Oliveira disse que o número de ocorrências é muito abaixo de outros bairros.
“Temos em média 13 furtos para cada 100 mil pessoas que passam ali diariamente e um roubo a cada dez mil pessoas, uma margem boa levando em consideração outras regiões. Mas a nossa intenção é diminuir o máximo o possível, ainda mais com a ajuda do videomonitoramento”, conclui o delegado Oliveira.
A pena para o crime de receptação é de um a quatro anos. Se for comprovada a compra por parte de um comerciante, é acrescentado o agravante e a pena pode saltar de três para oito anos de reclusão.
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